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Imagem: Arquivo Pessoal

MAR ABERTO | MIGOTTOS (MAS NÃO SÓ), ESCRAVOS E SEM TERRAS

por Boca Migotto

Hoje é 10 de março. Hoje completo 47 anos. Não sei se por nostalgia, mas nessa semana li o manuscrito do livro que o professor Aldo Francisco Migotto estará lançado no próximo dia 26 de março, em Carlos Barbosa. Já fazia um tempo que o arquivo aguardava, no meu Kindle, pela minha atenção. Trata-se de um livro sobre a história da família Migotto. O Aldo Francisco Migotto, que também escreveu a história da minha cidade natal, Carlos Barbosa, é mais um Migotto que eu mal conheço. E são tantos. E explico.

A família Migotto – ao menos aquela que orbita em torno de mim – nunca foi de se encontrar, confraternizar ou se frequentar. Meu pai, por ser o mais velho ainda vivo quando eu ainda criança, me levava, nos domingos de manhã, por um tour pelas casas dos parentes mais próximos. Mas era sempre tudo muito rápido. Muitas vezes, nem chegávamos a ultrapassar o portão da casa dos parentes. E eu, bom, eu era uma criança, filho do mais velho Migotto. Portanto, a minha distância com os Migottos que eu conhecia, e que seriam meus parentes mais próximos, era mais do que física. Era geracional.

O Aldo, de quem sempre ouvi falar porque era o Migotto professor da Universidade de Caxias do Sul, eu o vi apenas uma única vez. Mas desde sempre o admirei, afinal, é um professor e pesquisador. E escreve livros de história. Lembro dele na minha casa, quando criança, quando ele lá esteve para colher informações com o meu pai. Como já disse, o mais velho Migotto ainda vivo naquele momento. Esse ano faz dez anos da morte do meu pai. Recentemente o tio Nivaldo também fez sua passagem. Agora, creio, a tia Linda, irmã do pai, é a Migotto mais velha ainda viva. A última da sua geração. Eles todos, meu pai, a tia Linda e o tio Nivaldo, eram netos do casal Sante Migotto e Maria Dala Vecchia Migotto, portanto, meus bisavós os quais, logicamente, eu não conheci. Na verdade, como nasci temporão, não conheci nenhum avô ou avó. Nem Migotto, nem Ciconet, sobrenome da minha mãe. E isso já diz muito sobre o porquê eu conheço tão pouco da minha família. Esse tal Sante Migotto, então, junto aos seu irmão Giacomo e suas esposas, ao que tudo indica, foram os primeiros Migottos a atravessar o oceano rumo ao Novo Mundo.

Segundo os registros, no dia 7 de maio de 1879 o passaporte deles foi expedido na cidade de Oderzo, próximo à Fontanelle, onde viviam. Já no dia 16 do mesmo mês partiram de Gênova para o Brasil, embarcados no navio Savoie. Desembarcaram no Rio de Janeiro em 5 de junho, apenas vinte dias após o embarque. Segundo os arquivos da Polícia Federal, após vistoriar o navio e colher as informações necessárias para receber os imigrantes, a viagem teria sido tranquila, sem registro de mortes e os passageiros gozavam de boa saúde. E foi assim que os primeiros Migottos pisaram seus pés italianos no Brasil. Sem maiores traumas.

Embora criança, lembro que até o momento quando esse meu primo distante – embora famoso nas conversas familiares – decidiu contar a história de Carlos Barbosa e, com isso, também mexer na história da própria família Migotto, esta última era um tanto nebulosa. Se sabia o nome do meu bisavô, se sabia que haviam vindo da Itália, mas não se sabia bem de onde, qual a data precisa e em qual situação eles atravessaram o oceano em direção ao Brasil.

Tudo isso que, acima, pude reproduzir a partir do livro do Aldo e que, ele próprio, desvendou através da sua pesquisa em registros e documentos da época, apenas foi possível descobrir a partir do momento quando meu primo, Ezelindo Migotto, encontrou o passaporte do nosso bisavô. Um documento. Um papel apenas. Mas muito mais que isso, pois ali estava registrada parte da história da nossa família. Através dele, portanto, as portas para retornarmos às raízes da nossa família na pequena Fontanelle, na Região do Vêneto, foram abertas.

Em seu livro, Aldo conta que esteve lá, ainda na década de 1990. Imagino que ele tenha sido o primeiro Migotto a retornar à terra de onde nossos antepassados fugiram porque passavam fome e eram tratados quase como escravos. Não sei se eu fui o segundo, isso também não importa, mas já em 2002 eu estive na mesma vila. Dessa visita eu lembro de três coisas: 1) a minha surpresa ao encontrar os registros de batizado e casamento do meu bisavô. Acostumado ao Brasil, onde o apreço ao passado é quase um ato de bravura, ver o nomes dos meus antepassados escritos naquele velho livro que sobreviveu ao tempo e a duas Guerras Mundiais foi impactante; 2) uma visita frustrada que tentei fazer a uma casa onde, me disseram, vivia um Migotto. Cheguei lá, um homem estava regando as flores ou lavando a calçada com uma mangueira. Eu falei que era Migotto do Brasil e ele me mandou embora, inclusive tentando me molhar com a mangueira que ostentava quase como uma arma; 3) por último, o pedido que o meu pai havia feito e eu tive o privilégio de realizar. Sabendo que eu ia para lá, meu pai me pediu um punhado de terra de Fontanelle. Assim, em determinado momento, já indo embora da vila, me vi ajoelhado sob um vinhedo, de onde recolhi uma sacola de terra que, depois, acondicionei em um pequeno baú de madeira comprado em Nápoles. Quando voltei ao Brasil e dei aquele baú cheio de terra ao meu pai ele comentou sobre o meu exagero – não era preciso tanto –, depois pegou aquela terra esbranquiçada na mão, a cheirou, a observou e teceu alguns comentários sobre suas características. Confesso que imaginava mais emoção da parte dele. Mas meu pai era assim e assim fora criado. Sem demonstrar emoções. Anos depois ele depositou a terra na capela, no cemitério, onde ele mesmo viria a ser enterrado. O baú tenho comigo até hoje. Guardo minhas “relíquias” nele.

Retornei à Itália inúmeras vezes depois dessa primeira. Inclusive a trabalho, filmando dois projetos na região do Vêneto e do Trento. Passei muito perto de Fontanelle, mas nunca mais tive vontade de voltar lá. Não sei explicar porquê. Talvez por medo das mangueiras e seus ranzinzas proprietários.

Na verdade, os anos se passaram, eu amadurei muito, estudei muito também, e minha percepção quase ufanista sobre a história da imigração se transformou completamente. Hoje eu sei que não precisamos exaltar certas coisas apenas porque estas fazem parte da nossa história. E que a história, inclusive, é muito mais valiosa quando nos serve como parâmetro para uma autocrítica, referência para fazermos diferente e melhor no futuro. A história, portanto, é quase como uma terapia. É sempre melhor saber a verdade, mas para ela é preciso olhar com imparcialidade.

Nesse momento, quando vejo e leio a reação dos meus conterrâneos de Serra Gaúcha passando a mão para os crimes cometidos por três vinícolas conhecidas da região, inclusive se utilizando do trabalho dos nossos antepassados como desculpa, me vejo imerso em uma história que carece de critica. E tudo isso aconteceu, ironicamente, às portas de quando um livro pretende resgatar e registrar a história da minha própria família. As inúmeras relações possíveis entre um fato e outro me motivaram, então, a escrever esta coluna. No entanto, tudo é tão complexo que, provavelmente, seriam necessárias teses e mais teses acadêmicas para dar conta dessa investigação. Nesse texto tentarei apenas traçar algumas nuances, mais em busca de refletirmos sobre tudo isso, do que de chegarmos a quaisquer conclusões.

Lendo o livro do Aldo, essa semana, confirmei aquilo que muitos de nós já sabemos, sobre o quanto é importante conhecermos nossas origens. Até antes de acharmos o passaporte do nosso bisavô quase nada sabíamos sobre nossa própria história. Embora, de certa forma, já sabíamos muito mais que todos os escravos africanos que foram forçosamente importados ao Brasil, como mercadoria, para construírem com seu suor e sangue esse país. E esta, talvez, seja a maior maldade que impusemos sobre os escravos. Qualquer escravo.

Ainda mais dolorido que chibatadas, ainda mais humilhante que o trabalho forçado foi o apagamento de toda a história dos inúmeros povos africanos que foram capturados, escravizados e destituídos de sua humanidade no chamado Novo Mundo. Nós, os Migottos, a partir do momento que achamos um único documento fomos capazes de reconstruirmos, passo a passo, a nossa história. A cidade natal onde meus bisavós nasceram, casaram e de onde partiram. O nome do navio que os trouxe para o Brasil. Onde chegaram no Brasil e como acabaram na Serra Gaúcha. A partir desse documentos tudo mudou. A partir dele foi possível solicitar a cidadania italiana, resgatar contatos com os Migottos que permaneceram lá, organizar e escrever um livro e, agora no dia 26, será possível reunir seus diversos descendentes em torno de um almoço coletivo, para comemorar e confraternizar a resistência de uma família que, no Brasil, se originou a partir de apenas dois irmãos. E nem faz tanto tempo assim.

Isso que ocorreu com os Migottos, no entanto, não é nada diferente do que ocorreu com tantos imigrantes – italianos ou não – que chegaram ao Brasil como “Sem Terras”. Aqui receberam seu lote, algumas ferramentas e iniciaram um processo de apropriação de toda uma região que, hoje, se orgulha em dizer que é uma das mais prósperas do Brasil. E todo orgulho, sabemos, pode ser extremamente perigoso quando não dosado de um mínimo de autoconhecimento.

Ninguém está tirando o mérito do esforço de toda essa gente que, expulsos da sua terra natal, tiveram que reconstruir suas vidas em um país distante, sabendo que nunca mais voltariam para a Itália, para suas famílias que lá permaneceram, e tendo, a sua frente, terras virgens, “selvagens” e povoadas por indígenas originários. Há muito o que aprender dessa história. No entanto, também há uma penca de nuances a ser levada em conta nessa tão exaltada “epopeia”.

Primeiro, por mais “escravos” feudais que fossem, na Itália, tiveram a liberdade de escolherem seu futuro. Como escrevi acima, a partir do livro do Aldo fiquei sabendo que o navio que os trouxe teve uma viagem tranquila e todos chegaram gozando de plena saúde. Estavam na terceira classe, é verdade, mas não foram acorrentados e espancados. Segundo, é fundamental lembrarmos que por mais sacrifícios que houveram aqui no Brasil, estes se deram sobre uma terra que passou a ser deles. O trabalho, esse elemento tão exaltado como o diferencial que garantiu a riqueza de toda a região, ocorreu sobre um pedaço de chão próprio. Um chão que, inclusive, por fim, devemos lembrar que já tinha dono. Pertencia aos povos originários os quais foram expulsos com a chegada dos europeus. O centro de Caxias do Sul, onde hoje está localizada a Praça Dante Alighieri, era uma aldeia indígena. Para onde eles foram quando os “Sem Terras” italianos, lá, foram assentados? Será que isso não é importante para a história da imigração italiana?

Por outro lado, embora me pareça extremamente injusto expulsar os verdadeiros donos da sua terra, a imigração europeia no Sul do Brasil é a prova concreta de que a Reforma Agrária funciona. Se funcionou para italianos e alemães analfabetos, que nem o português sabiam falar, por que não funcionaria para os negros alforriados? E por que isso não ocorreu? Aliás, por que a Reforma Agrária, salvo raras exceções, nunca se tornou uma política de Estado em um país tão vasto e que tem tanta gente necessitada? Ao contrário, foi tida como uma grande ameaça nacional que serviu, inclusive, para depor presidentes. E essa ameaça era contra quem? Quem perderia com uma Reforma Agrária? São perguntas que encontram facilmente suas respostas quando estudamos a história do Brasil. No entanto, aqui e agora, me contento em provocar uma reflexão sobre como seria esse país, hoje, se assim como os imigrantes europeus, também os escravos, após sua alforria, tivessem ganho sua terra para constituírem suas famílias e construírem, livres, seu futuro?

A verdade é que os descendentes europeus – e eu me incluo nesse privilégio – ao contrário dos descendentes indígenas ou africanos, herdaram – herdamos – uma vida confortável graças à Reforma Agrária que contemplou nossos antepassados. Muitos, hoje, inclusive enriqueceram e compraram ainda mais terras. São proprietários, latifundiários, que desbravam o Brasil profundo, grilando terras até na Amazônia e lixando-se para o fato desta ser a floresta que regula a incidência pluviométrica sobre praticamente todo o Sul do país. Além de não estarem preocupados com as secas e cheias que nos atacam impiedosamente, também são contrários ao MST, um movimento que apenas luta pelo mesmo direito que foi dado, outrora, aos nossos antepassados. Aliás, onde ocorreram os assentamentos de Sem Terras – e eu conheço alguns – toda a comunidade prosperou. Tal qual ocorreu na Serra Gaúcha com os italianos.

A ganância dos descendentes que, hoje, usufruem de boa vida se dizendo merecedores porque, ao contrário “da gente lá de cima”, são trabalhadores, é a mesma que os cegou sobre sua própria origem. Dessa forma, exaltam aquilo que, nessa história, lhes interessa e apagam aquilo que não importa ou não querem lembrar. Mais ou menos como as casas antigas, provas em pedra da pobreza do seu – nosso – passado. Um desmonte, aliás, que apenas cessou – em parte – quando os turistas – inúmeros nordestinos entre eles – passaram a elogiar a beleza daquelas construções.

Se esquecem, entretanto, que muitos deles, hoje, apenas surfam na herança daqueles que realmente trabalharam na roça. A grande maioria que mal conhece sua própria história e, hoje, não sobreviveria um dia capinando a terra que lhes foi dada pelo Império. O mesmo Império – seguido da República – que abandonou os escravos, do dia para a noite, à própria sorte. Portanto, não é por acaso que, na última semana, três grandes vinícolas da Serra Gaúcha foram desnudadas da sua prepotência elitista. Ou deveríamos dizer, etílica?

Escravizar – trabalho análogo à escravidão é apenas um eufemismo barato – baianos, quase todos pretos, segundo relatos, inclusive tratando-os diferentemente de como os demais trabalhadores brancos eram tratados, não me causou nenhuma surpresa. Sou também filho dessa terra, conheço a minha própria história melhor que muitos que a utilizam comercialmente e, portanto, tenho capacidade de refletir sobre sua consequência cultural. Sei bem do que a minha gente é capaz e como pensa. E isso me envergonha profundamente. O racismo não apenas é estrutural nessa região como, inclusive, esta embutido de afeto. Sobre isso, aliás, ainda estamos carentes de muito estudo para explicar sua origem. No entanto, me causou surpresa, isso sim, a forma extremamente amadora como essas três grandes empresas lidaram com o fato, expondo seu preconceito e arrogância para todo o país como se estivessem – ainda – falando para sua própria bolha. Não por acaso a reação foi geral. Mas mesmo assim, a culpa sempre é – foi – dos outros. E aí vale até acusar a “mídia esquerdista” que “politizou algo irrelevante”. No entanto, após o discurso criminoso daquele vereador de Caxias do Sul, do qual me nego escrever seu nome, sobrou para toda a região e foi impossível esconder o que, de fato, ocorreu na próspera da Serra Gaúcha.

Nessa história toda, se há algo de positivo, é a chance de refletirmos sobre no que nos transformamos. Será que os nossos antepassados, aqueles pioneiros que atravessaram o mar em busca de um futuro que a própria pátria lhes negava, que na sua própria terra sobreviviam quase como escravos, estariam orgulhosos da forma como exploramos os nordestinos nos nossos parreirais? Será que nossos antepassados não se enxergariam refletidos nos olhares assustados daqueles que eram acordados as quatro horas da manhã com armas de choque? O que ocorreu na Serra, recentemente, assim como ocorre em todo o Brasil desde sempre, é a prova de que nada aprendemos com o legado dos nossos antepassados. Afinal, são estes imigrantes de hoje, que aqui no Sul buscam trabalho, nossos bisavôs e bisavós de ontem, que aqui encontraram uma terra para chamar de sua. Com uma diferença básica, os antepassados europeus tiveram sua chance na nova pátria enquanto que os africanos e os povos originários seguiram, mesmo depois de libertos, tratados como escravos. E assim são, ainda hoje, percebidos por esse país extremamente desigual e injusto.

Escravos sem consciência de que são escravos. Escravos iludidos de que sua escravidão acabou em 1888 pela assinatura da Lei Áurea. Escravos sem passado, pois suas memórias foram apagadas. Escravos sem a possibilidade de reconstruírem sua árvore genealógica, de entenderem de onde vieram e quem eram seus antepassados. Mesmo assim, ainda como escravos, imprimiram sua própria marca na cultura brasileira. Uma marca que transpassa a história do Brasil através da música – sim, também muitos tambores, mas não só –, da arquitetura – ou quem vocês acham que construíram Ouro Preto, Parati, Salvador, São Luís do Maranhão e tantas outras? –, das artes plásticas – basta citar “Aleijadinho” para calar a boca dos críticos –, da própria língua portuguesa – bunda, cafuné, dengo, moleque, muvuca, axé – e fizeram tudo isso sem educação formal, algo que, aos escravos e seus descendentes, até hoje, lhes foi negada.

Os europeus que aqui chegaram a partir do século XIX também, em sua grande maioria, eram analfabetos. E também, contribuíram com a cultura diversificada desse país. Entretanto, com seu trabalho e com as oportunidades que só homens e mulheres livres podem usufruir, enriqueceram. E com sua riqueza também puderam mandar os filhos para a escola. E depois para as universidades. Alguns, como o próprio autor do livro sobre os Migottos, virou professor universitário – eu mesmo estive nessa nobre profissão por mais de uma década –, pesquisou a própria história e ajudou a registra-la para as próximas gerações. E que bom que assim foi. Que assim é.

Os negros, finalmente, após séculos de escravidão, começam a realizar esse movimento. Talvez não encontrem os passaportes dos seus antepassados. Certamente não encontrarão, pois estes foram arrancados, sem lenços e documentos, da sua própria terra. Mesmo assim, esse movimento é sem volta. E é preciso que seja. Mesmo que lhes faltem os documentos. Mesmo que a história tenha lhes apagado os méritos da sua contribuição para com o Brasil. Esse movimento, por mais que se tente impedir, está ocorrendo e vai transformar a sociedade. Assim como o livro sobre a minha família me transformou. Assim como ler sobre a história dos meus antepassados me fez refletir sobre quem eram e como chegaram aqui. E quem somos a partir deles.

Portanto, precisamos, como brasileiros, o mais urgentemente possível compreender que o Brasil dos tambores nas praias é tão autêntico e tão necessário quanto o Brasil das vindimas. Apenas alguém muito ignorante desmereceria tal manifestação cultural. Assim como também a ignorância explica não valorizarmos o trabalho de milhares de famílias de agricultores, que não pactuam com o trabalho escravo. Portanto, que mais livros sejam escritos, e lidos, para que nos seja permitida essa reflexão. Uma reflexão que demanda assumirmos os erros da nossa história para projetarmos um país mais justo e honesto aos nossos filhos e netos. Hoje completo 47 anos, e espero chegar aos meus 80 anos testemunhando um país transformado para melhor. O presente pode não ser tão auspicioso, mas se não tentarmos, que legado deixaremos para nossos netos?

 

I. BOCA MIGOTTO

I., de Ivanir, Boca Migotto é cineasta, pesquisador, fotógrafo e escritor. Publicitário formado pela Unisinos, cedo se deu conta que estava na área certa – a Comunicação – mas no curso errado. Formado, então, largou tudo e foi para Londres. Nos dois anos que permaneceu na Inglaterra fez de tudo: lavou prato, fez café, foi garçom e auxiliar de cozinha, estudou inglês e cursou cinema na Saint Martins College of Arts and Design. Ao regressar para o Brasil, fez Especialização em Cinema e Mestrado em Comunicação, ambos pela Unisinos. Nesta mesma instituição, foi professor de Documentário no Curso de Realização Audiovisual, onde permaneceu por dez anos, atuando também em disciplinas dos cursos de Jornalismo, Comunicação Digital e Publicidade. Finalizou seu Doutorado em Comunicação pela FABICO/UFRGS, com extensão na Sorbonne/Paris 3. Foi quando morou em Paris, aliás, que decidiu lançar seu primeiro livro de ficção “Na antessala do fim do mundo”. Como cineasta – diretor e roteirista – realizou mais de vinte curtas-metragens e séries de TV, além dos longas-metragens “Filme sobre um Bom Fim”, “Pra ficar na história”, “O sal e o açúcar” e “Já vimos esse filme”. No momento está lançando seu novo livro “Um certo cinema gaúcho de Porto Alegre”, resultado da sua pesquisa de doutorado, defendida em 2021. Com essas duas últimas obras, Boca pretende fechar mais um ciclo de vida e de produções. A partir daí, o destino apontará novos caminhos e, quem sabe, o convide para escrever uma coluna quinzenal para a Rede Sina seja um indício de para onde seguir.
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