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Um senso de responsabilidade enfraquecido não enfraquece o fato da responsabilidade

“Em que ideias fundamentais se vão basear as sociedades que sucederão à nossa?”. Por enquanto, não o podemos saber. Mas podemos prever que terão de contar com um novo poder, último poder soberano da idade moderna: o poder das multidões. Sobre as ruínas de tantas ideias, outrora consideradas verdadeiras e já mortas hoje, sobre os destroços de tantos poderes sucessivamente derrubados, este poder das multidões é o único que se ergue e parece destinado a absorver rapidamente os outros. No momento em que as nossas antigas crenças vacilam e desaparecem, em que os velhos pilares das sociedades desabam, a ação das multidões é a única força que não está ameaçada e cujo prestígio vai sempre aumentando. A época em que estamos a entrar será, na verdade, a era das multidões”.

Gustave Le Bon (1841-1931)

 

8 de janeiro de 2023 – A psicologia das multidões – A filosofia e a responsabilidade

 

8 de janeiro de 2023

 

No dia 31 de março de 2023, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, declarou em palestra na Fundação FHC (de acordo com o jornal O Globo): “Eu fui no presídio com a ministra Rosa (Weber). Há várias pessoas alienadas, que acham que não fizeram nada, que era liberdade de manifestação (…) uma delas chegou a dizer que estava passando por perto, viu (o ato de depredação) e aí ela ia orar e Deus disse para ela se refugiar embaixo da mesa do presidente do Senado. Só por causa disso ela entrou. É um negócio assustador”.

O evento de 8 de janeiro entrou como um dos capítulos sombrios e vergonhosos da nossa história republicana. O 8 de janeiro foi um ataque às instituições e a democracia brasileira.

Movidos por fanatismo, histeria coletiva, alienação e cegueira ideológica, os extremistas cometeram uma série de vandalismos, invasões e depredações do patrimônio público contra símbolos da República: o Palácio do Planalto, Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. O objetivo era instigar um golpe de Estado. A derrota do então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL), causou uma série de eventos golpistas desde o desfecho eleitoral.

Em relação ao 08 de janeiro, muitos presos ainda não entenderam porque permanecem no Complexo da Papuda, em Brasília. Destaquemos que no dia 10 de abril de 2023, eles escreveram cartas para congressistas com pedidos, desabafos e relatos.

Talvez o livro Psicologia das Multidões, de Gustave Le Bon, explique o comportamento dos extremistas de 8 de janeiro de 2023.

Psicologia das multidões

 

No livro A psicologia das multidões, o médico, sociólogo e psicólogo Gustave Le Bon[1] (1841-1931) explicita o contágio inconsciente da multidão: “o indivíduo em multidão adquire, pelo simples fato do seu número, um sentimento de poder invencível que lhe permite ceder a instintos que, se estivesse sozinho, teria forçosamente reprimido. E cederá tanto mais facilmente quanto, por a multidão ser anônima e por consequência irresponsável, mais completamente desaparece o sentimento de responsabilidade que sempre retém os indivíduos” (Le Bon, 1980, p. 13-14).

Ainda sobre a teoria de Le Bon, ela sugere que as multidões exercem uma espécie de influência hipnótica sobre seus membros. Ou seja, “a influência hipnótica combinada com o anonimato de pertencer a um grupo grande de pessoas (…) resulta em um comportamento irracional, emocionalmente carregado (…) a multidão mexe com as emoções a ponto de poder levar as pessoas a se comportarem de uma forma irracional, até mesmo violenta” (BONS LIVROS PARA LER).

 

O desaparecimento da personalidade consciente, o predomínio da personalidade inconsciente, a orientação num mesmo sentido, por meio da sugestão e do contágio, dos sentimentos e das ideias, a tendência para transformar imediatamente em atos as ideias sugeridas, são, portanto, os principais caracteres do indivíduo em multidão. Deixa de ser ele próprio para se tornar um autômato sem vontade própria. Só pelo fato de pertencer a uma multidão, o homem desce vários graus na escala da civilização. Isolado seria talvez um indivíduo culto; em multidão é um ser instintivo, por consequência, um bárbaro. Possui a espontaneidade, a violência, a ferocidade e também o entusiasmo e o heroísmo dos seres primitivos e a eles se assemelha ainda pela facilidade com que se deixa impressionar pelas palavras e pelas imagens e se deixa arrastar a atos contrários aos seus interesses mais elementares. O indivíduo em multidão é um grão de areia no meio de outros grãos que o vento arrasta a seu bel-prazer (LE BON, 1980, p. 15)

 

Independente de ser um grão de areia no meio de outros grãos que o vento arrasta a seu bel-prazer, a responsabilidade pelos atos continua individualizada pelo 8 de janeiro. Vale salientar o que pensam alguns filósofos sobre a responsabilidade.

 

Os filósofos e a responsabilidade

 

Aristóteles foi um dos primeiros a observar que nos tornamos as pessoas que somos devido às nossas próprias decisões.

Nas Confissões, Santo Agostinho usou o senso de responsabilidade enfraquecido pela pressão dos pares como traço geral da meditação sobre o vandalismo de sua juventude “porque temos vergonha de recuar quando os outros dizem Vamos!”

Soren Kierkegaard, um dos pais do Existencialismo do século XIX, deplorava os efeitos nocivos dos grupos e das multidões em nosso senso de responsabilidade. Ele diz: “Uma multidão em seu próprio conceito é o falso, pelo fato de deixar o indivíduo completamente impune e irresponsável ou, no mínimo, enfraquecer seu senso de responsabilidade, reduzindo-o a uma fração”.

A filósofa inglesa Mary Midgley diz que “o ponto central, de verdadeira excelência do Existencialismo é a aceitação da responsabilidade de ser como nos fizemos, a recusa a dar falsas desculpas” (BENNETT, 1995, p. 140).

Não devemos esquecer que ser “responsável” é responder pelos próprios atos, é corresponder. Devemos reconhecer a responsabilidade pessoal pelo que fazemos.

E, dessa forma, “um senso de responsabilidade enfraquecido não enfraquece o fato da responsabilidade” (BENNETT, 1995, p. 140).

 

Referências

 

BENNETT, William J. O livro das virtudes: uma antologia de William J. Bennett. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1995.

BONS LIVROS PARA LER. Psicologia das Multidões. https://www.bonslivrosparaler.com.br/livros/resenhas/psicologia-das-multidoes/5236. Acesso em 18 de julho de 2023.

Carta Capital. O relato de Moraes https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/o-relato-de-moraes-sobre-a-alienacao-dos-presos-do-8-de-janeiro-e-assustador/. Acesso em 18 de julho de 2023.

LE BON, Gustave. Psicologia das Multidões. São Paulo: Edições Roger Delraux, 1980.

Poder 360. Presos no 8 de Janeiro escrevem cartas em tom de revolta.
https://www.poder360.com.br/justica/presos-no-8-de-janeiro-escrevem-cartas-em-tom-de-revolta-leia/. Acesso em 18 de julho de 2023.

 

[1] Considerado o pai do estudo da psicologia das multidões.

 

Prof. Dr. José  Renato Ferraz da Silveira

Professor Associado III do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) . Líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP). Editor-chefe da Revista Interação (ISSN 2357-7975). Articulista do Diário de Santa Maria . Colaborador do Blog Obvious
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