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Sangue e Pudins por Cátia Castilho Simon

Sangue e Pudins – Apresentações no Teatro Renascença até 28 de abril

“Não quero saber quem sou, morro de medo”

Sangue e Pudins – Fagner e Fausto Nilo

Assisti na noite de 05 de abril a aguardada peça Sangue e Pudins do Luciano Alabarse. Explico. Havia comprado ingressos em janeiro, por ocasião do Porto Verão Alegre. Na semana da estreia fomos surpreendidos por um temporal que alagou ruas e o teatro Renascença, inviabilizando o espetáculo nos dias seguintes. Em seguida viajei para o Canadá e, durante minha estada por lá, soube que a peça estaria em cartaz em fevereiro, lamentei porque só retornaria em meados de março. No entanto, recebo na minha chegada o folder de divulgação do Luciano. E mais, que ao final da apresentação haveria uma conversa sobre a peça com os experts Liana Tim, Francisco Marshall e Júlio Conte. Imediatamente fui comprar os ingressos, torcendo para que o tempo ajudasse dessa vez. Sim, de tanto ignorarmos as forças da natureza, ela mostra estar farta de nossa arrogância, vem e nos mostra quem é que manda.

A Matinal entrevistou o Alabarse na semana da estréia e já anunciava o conjunto de violências que permeavam o espetáculo, bem como a referência a adaptação de textos Mark Ravenhill (Shopping and Fucking) e Brontez Purnell (Johnny, você me amaria se o meu fosse maior?). No elenco estão Ângela Spiazzi (Lulu), Pingo Alabarce (Brian) e Elison Couto (Gary), Jaques Machado (Robbie) e Li Pereira (Mark), Alexei Goldenberg e Vítor Stifft (Os Querubins).

Em janeiro saiu uma bonita crônica do Túlio Milman sobre o espetáculo e a experiência de assisti-la enquanto o teatro era inundado pela torrencial chuva.

Alabarse deu uma entrevista para o Correio do Povo, em fevereiro, pois houve a retomada da exibição do espetáculo interrompido pelos estragos do temporal. Nela, revela que o título da peça surgiu enquanto ouvia a gravação de Simone da música Sangue e Pudins, do Fagner e Fausto Nilo e que há tempos não escutava. E aí quero me deter na seleção musical impecável e que equilibra com o desmantelamento da sociedade do espetáculo, linha de apoio determinante para a sociedade de consumo que nos consome.

“Não quero saber quem sou, morro de medo (…)” ouvimos pela voz aveludada da Simone como um afago que nos leva justamente na contracorrente do que entoa. Há muita coragem no desvelamento das inquietações e tormentos das personagens. A perversidade de uma sociedade sustentada por autoflagelos e massacres indiscriminados de outros, dos que são considerados abaixo do humano.

O cenário em um misto de luxo, pobreza e ostentação dão conta dos artifícios humanos e materiais que nos paralisam. Muito dinheiro, muitas mercadorias, muitos traumas e submissão ao status quo.

Ao final, Luciano na conversa com seus convidados nos diz das molduras que compõem o cenário, que por serem artificiais, revelam verdades. Tal afirmação, na forma de raio, me remete ao que Walter Benjamin escreveu sobre Baudelaire inquirindo-nos quanto ao valor da ‘ilusão útil’, citando-o: “Prefiro olhar alguns cenários de teatro, nos quais encontro tratados habilmente em trágica concisão, os meus mais caros sonhos. Estas coisas porquanto absolutamente falsas, estão por isso mesmo infinitamente mais próximas da verdade; nossos pintores paisagistas, ao contrário, são em sua grande parte mentirosos porque descuidam de mentir”(1991: W Benjamin, vol 3, pag 143). Enfim, a peça não se esgota no palco, é corajosa, instigante, nos moldes do irreverente dramaturgo e diretor de teatro, Luciano Alabarse.

Não percam, às sextas-feiras com convidados e um ótimo bate-papo após o espetáculo. Elenco afinadíssimo com o texto, um espetáculo que nos desacomoda como deve ser a melhor arte.

 

Cátia Castilho Simon

Doutora em estudos da literatura brasileira, portuguesa e luso-africanas/UFRGS

e escritora.

 

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