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Quando a violência também é institucional – por Melina Guterres

A reportagem da Revista Piauí publicada nesta sexta-feira (4), e assinada por João Batista Jr.,  ouviu 43 pessoas e revela diversos casos de assédio. Entre eles, a intensa perseguição à atriz Dani Calabresa por parte ex-diretor do departamento de humor da Globo, Marcius Melhem, acusado de assédio moral, sexual e plágio pela atriz. A reportagem evidencia ainda uma infeliz tentativa de silenciamento institucional após o encaminhamento das vítimas ao setor de compliance.  Mas afinal o que é um departamento de compliance e para quê serve?

Segundo uma descrição, quase que desenhada do Wikipédia, encontra-se :

“No âmbito institucional e corporativo, compliance é o conjunto de disciplinas a fim de cumprir e se fazer cumprir as normas legais e regulamentares, as políticas e as diretrizes estabelecidas para o negócio e para as atividades da instituição ou empresa, bem como evitar, detectar e tratar quaisquer desvios ou inconformidades que possam ocorrer. O termo compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que significa agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido. O Departamento ou Unidade de Compliance em uma instituição é o responsável por garantir o cumprimento de todas as leis, regras e regulamentos aplicáveis, tendo uma vasta gama de funções dentro da empresa (monitoramento de atividades, prevenção de conflitos de interesses, etc). Atuando como a política interna de uma empresa, é improvável que o Departamento de Compliance seja a unidade mais popular internamente. No entanto, é o departamento com importância na manutenção da integridade e reputação de uma empresa. Embora os custos com compliance tenham disparado nos últimos anos, os custos por não conformidade – mesmo que acidental — podem ser muito maiores para uma instituição. O não cumprimento de leis e regulamentos pode levar a pesadas multas monetárias, sanções legais e regulamentares, além da perda de reputação.”

Há poucos dias comemoramos o dia dos Relações Públicas, (minha primeira opção de curso, inclusive incompleto porque quando vi já estava realizando entrevistas e fui sugada pelo jornalismo).  No entanto, ler esta reportagem, que revela o machismo estrutural de diversas partes, me enoja enquanto profissional da comunicação, principalmente por ver vítimas de assédio se tornarem vítimas de um sistema que tentou abafar suas vozes.

Se o termo compliance, significa agir de acordo com uma regra, qual é a regra?

Pelos números da violência contra as mulheres, entre as já denunciadas e as tantas outras que seguem no anonimato, a “regra”, há centenas de anos, é a do silenciamento sobre a violência, seja ela doméstica ou no mercado do trabalho.

Há poucos dias fiz uma publicação no facebook sobre a atenção dada à morte do Maradona e da pouca atenção voltada à questão da violência contra mulher. O post causou polêmica, desconforto, dividiu opiniões.

E o porquê de eu ter comparado as questões? Evidente que ninguém escolhe o dia de morrer, no entanto, ele morreu no Dia Internacional de Combate à Violência Contra Mulher. Maradona, um dos deuses do futebol, também foi um homem violento com suas companheiras. Mas parece ser isso  tão normal, tão corriqueiro e “menos” do que todo o resto, e passou batido.

E “passar batido” é uma regra?

O caso da Dani Calabresa x Marcius Melhem e a tentativa de abafar o caso é muito mais comum do que parece em ambientes de trabalho. Se o assédio já passa por tanta tentativa de abafamento, imaginem quantas profissionais têm suas ideias plagiadas, minimizadas e silenciadas por uma estrutura que ainda agride e custa a valorizar o trabalho de uma mulher. Vale lembrar que em dezembro de 2019, Dani Calabresa apresentou à TV Globo um projeto de programa nos moldes do extinto “Furo MTV”. Contudo, no início do ano, a emissora lançou o programa “Fora de Hora” que seria um plágio do projeto de programa apresentado anteriormente pela humorista.

Recentemente vimos também no caso da Mariana Ferrer, vítima de estupro, um estarrecedor comportamento do advogado de defesa do acusado e a negligência do juiz em questão. Mariana teve somente a própria voz para se defender de tamanha violência. Isso só prova o quanto vivemos num sistema estruturalmente machista, que tende mais a culpabilizar  do que proteger as vítimas.

O livro “Abuso – A cultura do estupro no Brasil” da jornalista Ana Paula Araújo, traz diversas histórias de violência, entre elas a de uma vítima que sentia mais raiva das pessoas envolvidas no julgamento do que do próprio agressor. Mais uma prova de um sistema totalmente ineficiente no acolhimento às vítimas.

As empresas, instituições, gestores de compliance, precisam revisar seus atendimentos, perceber que seu comportamento, silenciamento também os tornam agressores. Quem não se cala, perfura estruturas e muda o mundo de quem continua a viver.

Minha solidariedade às vítimas, parabéns e obrigada pela coragem de não se calarem.

 

Leia a reportagem da Revista Piauí:

A queda do humorista Marcius Melhem

Dani Calabresa se manifesta no instagram após a publicação da reportagem:

Anos atrás, inspirada numa reportagem sobre assédio no mercado publicitário, escrevi e atuei nessa cena. Infelizmente, lembrei dela com este caso.

 

Referências:

https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-que-mais-voce-quer-filha-para-calar-boca/

https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2020/10/08/quase-metade-das-mulheres-ja-sofreu-assedio-sexual-no-trabalho-15percent-delas-pediram-demissao-diz-pesquisa.ghtml

Cartilha “Assédio Moral e Sexual” do Senado Federal – Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, disponível no sítio https://www12.senado.leg.br/, link https://www12.senado.leg.br/institucional/procuradoria/proc-publicacoes/cartilha-assedio-moral-e-sexual

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) também disponibiliza material on line, por meio da cartilha “Assédio Moral e Sexual. Previna-se”, que pode ser acessada no sítio http://www.mpf.mp.br, no link http://www.mpf.mp.br/sc/arquivos/cartilha-assedio.

https://www.otvfoco.com.br/dani-calabresa-faz-tripla-denuncia-contra-grande-nome-da-globo/

http://www.uems.br/midiaciencia/plagio/

 

MELINA GUTERRES (MEL INQUIETA)

Jornalista, fundadora da Rede Sina, plataforma de conteúdo com foco em cultura, inovação e política social. É repórter free lancer da Revista Istoé, tendo trabalhado já para Folha de São Paulo, Estadão, Uol. Diretora e roteiristas dos curtas Sempre às Quartas, Case, uma reabilitação é possível, Resquícios, entre outros. Autora dos roteiros Clandestinos – Brasil sombrio (argumento de longa-metragem contemplado no programa Ibermedia), série Despertos.  Criadora, administradora das fan pages As mulheres que dizem Não (desde 2015), Luta Pela Democracia (desde 2016), Salve Índios (2012). Poeta e atriz (amadora).

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