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AV. Rio Branco de Santa Maria-RS. possui um grande acervo arquitetônico em Art Decó. Foto reprodução.

Pensando Santa Maria POR SILON PROCATH

Como é comum, em ano eleitoral aparecem muitas ideias e projetos a serem implementadas pelas futuras administrações municipais. Políticos de vários partidos, de diferentes municípios têm buscado novas ideias e projetos, principalmente, pelo fato que, no pós-pandemia, uma das principais necessidades será a geração de empregos e isso só é possível onde se tem uma economia que possa crescer em liberdade. Contudo, o crescimento econômico não é dissociado das ações sociais, pois o crescimento contínuo de longo prazo só acontece onde se tem qualidade de vida alicerçada num projeto social robusto.

Nos dois anos como presidente do Corede Central e em seis anos como coordenador de empreendedorismo na UFSM acompanhamos vários projetos de desenvolvimento, tanto envolvendo o apoio a negócios tradicionais do meio urbano quanto do meio rural, pude acompanhar e fazer parte em algumas transformações.

Ações relacionadas ao ecossistema de inovação como estímulo geração de startups por meio de processos de pré-incubação, incubação, realização de eventos e imersão em outros ecossistemas de inovação. De todas as ações a maior lição e que, facilmente, pode ser seguida por qualquer gestor municipal é o fato de que os impactos mais importantes estão naquelas ações realizadas em parcerias. Por isso, realizamos nesse período eventos e imersões em parceria com CACISM, ADESM, SINDILOJAS, CDL, entre outros, exemplo disso, foram as duas viagens a Florianópolis para conhecer o ecossistema de lá e ver pontos que poderiam ser utilizados aqui. Dessas viagens surgiu o grupo de trabalho que colaborou decisivamente na mudança tributária para empresas do CNAE1 que tiveram seu imposto reduzido em 50%.

O apoio a consolidação de empreendimentos inovadores que ocorre pela imersão dos pré-incubados em ambientes de negócios conta com o apoio de mais de 40 pessoas da comunidade de Santa Maria que recebem os “startupeiros” em suas empresas para eventos, mentorias, etc. como realizado no Pulse Coworking, Lab1188, Cacism, entre outros. Além disso, a mobilização interna na Universidade, como núcleo de excelência e pesquisa e geração do conhecimento é fundamental. Por isso, todo o processo de alavancagem de negócios inovadores que em dezembro de 2019 geravam quase 200 postos de trabalho conta, anualmente, com ações de mais de 50 professores, servidores distribuídos por laboratórios, cursos de graduação, pró-reitorias e demais unidades.  A mensagem de tudo isso aos futuros gestores é que o trabalho transformador e de alto impacto é aquele realizado em rede feito pela parceria de muitos “cpf’s” pertencentes a variadas instituições e empresas, ou seja, os projetos devem ser construídos e realizados não por uma única hélice mas por todas. Deste modo, antes de partirmos para os projetos, vamos pensar quais os alicerces potenciais que temos na cidade, e aqueles que podemos criar como forma de gerar e atrair recursos:

Considerando-se todos os níveis de ensino Santa Maria tem uma das maiores densidades de estudantes do país, um dos maiores índices de doutores por 100 mil habitantes e uma grande quantidade de programas de pós-graduação qualificados, somando todas as instituições de ensino superior. Isso nos coloca em igualdade de condições com as regiões que possuem os melhores índices de crescimento nos últimos anos, altos índices de desenvolvimento humano e que são destaque no desenvolvimento nacional pela inovação;

Comparativamente, Santa Maria tem um tamanho relativo em número de habitantes e de mão-de-obra qualificada semelhantes a algumas das cidades mais desenvolvidas do mundo;

Nosso município tem instituições como a Agência de Desenvolvimento de Santa Maria e o Instituto de Planejamento com experiência comprovada em realizar bons projetos e pensar estratégias para o futuro da cidade;

O impacto de muitos pequenos empreendimentos sendo gerados constantemente ao longo do tempo é muito maior do que o de um grande empreendimento chegando de vez em quando (Frase de Jorge Audy idealizador do Tecnopuc).

O desenvolvimento econômico só ocorre onde se tem respeito à diversidade, à cultura e à história local, bem como liberdade econômica, educação de qualidade em todos os níveis, e toda a população conta com acesso à saúde.

Em adição a isso, trabalharemos com recursos financeiros escassos. Assim, além de focar no aumento das receitas municipais pelo estímulo da economia teremos que fazer as ações necessárias com baixo custo e buscando recursos externos.

A partir dessas ideias e pressupostos iniciais podemos sugerir, entre ações de curto, médio e longo prazos, as seguintes:

Usar a estrutura da prefeitura em termos de talentos humanos e capacidade técnica para montar um Escritório de Captação de Recursos e elaboração de projetos qualificados, tendo em vista que em muitos anos sobram recursos em Brasília pela falta da apresentação de soluções consistentes junto aos ministérios;

Um projeto de Cidade Humana Inteligente e Sustentável (CHIS), que vai muito além da ideia simples de Cidade Digital, embora a melhoria da infraestrutura seja imprescindível. Um projeto de cidade inteligente atua em várias frentes: digitalização de todos os documentos e processos relacionados ao município tornando-os mais ágeis e seguros, redução de custo das ações que tangem a gestão municipal e, principalmente, melhor atendimento do cidadão e maior qualidade de vida para todos;

Gestão Plena da Saúde para aumentar a capacidade do munícipio não só do ponto de vista financeiro, mas também de gestão. Com a gestão plena coordenada com ações de governo digital as pessoas não precisarão mais enfrentar filas nos postos de saúde, pois poderão marcar sua consulta de casa pelo smartphone;

Na educação é imprescindível a adoção da escola de tempo integral, principalmente, naquelas comunidades mais carentes. Além disso, a implantação de disciplinas de atitude empreendedora, robótica e programação em conjunto com programas de esportes e cultura e aulas bilíngues. Por exemplo: no contraturno o estudante teria aula de teatro em inglês, tendo em vista que a deficiência no domínio da língua inglesa é, hoje, uma das principais causas da NÃO VINDA de empresas para Santa Maria.

Adoção do One Stop Shop: um único ponto de entrada de documentos na prefeitura para todo e qualquer empreendimento na cidade. Exemplo: caso queiramos abrir um empreendimento que precise de alvará de localização, alvará sanitário e alvará ambiental entraremos com a documentação toda uma única vez em um único escritório, e essa documentação circula internamente na prefeitura via ferramentas digitais com prazo definido para resposta em cada instância. Esse tipo ferramenta já existe e foi implantada em vários municípios.

Foco no nosso principal negócio, em potencial, que é a indústria de tecnologia ou indústria da inovação e pelo qual somos reconhecidos, inclusive internacionalmente, concentrando esforços nas áreas em que somos mais fortes como as ligadas a tecnologias para o agronegócio e aquelas relacionadas a tecnologias educacionais. Além do nosso potencial, já instalado, para desenvolver essa indústria, outro fator que mostra nosso potencial é o comportamento que essa indústria vem apresentando nos últimos tempos em Santa Maria. Como exemplo, o número de empresas incubadas na AGITTEC/UFSM cresceu de 13, em 2016, para 39 considerando as que estão assinando contrato nesse momento, e isso representa um crescimento de 200% em 4 anos. Para ilustrar, a partir de caso concreto temos uma startup em Santa Maria que faturou, no primeiro mês de pandemia, o equivalente aos 19 meses anteriores somados. Além disso, as empresas de tecnologia e que fornecem equipamentos para o Agro vem apresentando crescimentos consistentes nos últimos meses trabalhando em seu máximo de capacidade.

Fusão das leis de incentivo ao empreendedorismo e simplificação dos processos relacionados a abertura de empresas e a construção civil, grande geradora de empregos. Santa Maria fez algumas leis no sentido de estimular o empreendedorismo, por exemplo, Lei de Inovação, Empreende Santa Maria e Lei da Vila Belga que foram importantes a seu tempo e alcançaram resultados de forma diferente.

Contudo, atualmente, essas leis precisam uma revisão e o ideal é que sejam fundidas numa única que vá no sentido de tornar Santa Maria um parque tecnológico a céu aberto com seu coração localizado na área que compreende Gare, Vila Belga, Avenida Rio Branco, Vale Machado, Praça Saldanha Marinho, primeira e segunda quadra. Nesse grande projeto temos que prever revitalização do patrimônio histórico respeitando a história e ouvindo as pessoas que tem suas vidas ligadas a esses locais. Também, nunca podemos esquecer que temos um dos maiores patrimônio em Art Déco do mundo, a inclusão da economia criativa e do turismo como ferramentas importantes para o desenvolvimento.

Também, importante é a criação de um fundo municipal de inovação a exemplo de Porto Alegre, Florianópolis e muitos outros municípios, inclusive menores que Santa Maria e a recuperação da infraestrutura física dos bairros da cidade com ruas sem buracos, postos de saúde com capacidade de atendimento de qualidade, creches com vagas suficiente e próxima à residência das famílias, entre outros.

Poucos sabem, mas Santa Maria tem uma escola técnica que conta, em seus quadros, com um corpo de professores de qualidade. A Escola Técnica de Aprendizagem Industrial que pode ter seu papel potencializado pela melhora de sua infraestrutura e por sua ampliação. Uma unidade de ensino técnico com robótica, programação, empreendedorismo e outros conteúdos localizado no Parque Tecnológico vocacionado para as indústrias do Distrito Industrial e atendendo as populações daquela região da cidade teria um propósito transformador para aquelas pessoas que poderiam se qualificar perto de sua casa em cursos de altíssimo nível.

Ressignificação do Santa Maria Tecnoparque que além de uma infraestrutura mais aprazível com mais contato com a natureza, estacionamento, uso de energias sustentáveis, deve passar a atender prioritariamente as populações do entorno como Santa Marta, Tancredo Neves, Parque Pinheiro Machado focando no surgimento de empreendimentos que possam interagir com os já existentes no Distrito Industrial, por um sistema de qualificação empreendedora massivo nas escolas, interação com a escola técnica e com o IFF que já ocupa parte do Tecnoparque e com um sistema vigoroso de pré-incubação e incubação de empreendimentos focados naquela região da cidade.

Para termos um município que seja exemplo em qualidade de vida o desenvolvimento rural é tão imprescindível quanto o urbano. Assim, todas as melhorias pensadas para a cidade devem ser, também, levadas ao campo, principalmente quanto a conexão à rede mundial de computadores que cada vez mais é uma ferramenta de gestão e de qualidade de vida para o produtor rural. Contudo, melhorias na infraestrutura de transporte e de saúde são imprescindíveis, mas aquelas ações que serão transformadoras no campo para aumento da qualidade de vida e fixação das pessoas na zona rural estão ligadas à educação, valendo as mesmas ações quanto à inserção na grade curricular do interior de disciplinas de atitude empreendedora, robótica, programação e o ensino bilíngue.

Vale ressaltar que as sugestões contidas nesse artigo de forma resumida não contêm qualquer crítica a nenhuma gestão municipal de Santa Maria, afinal se temos um potencial incrível é porque muitas boas ações foram feitas e muitos bons projetos construídos. As propostas aqui apresentadas não são um olhar para o passado e sim um olhar para o futuro baseado no potencial de Santa Maria que pode se tornar, num curto espaço de tempo, uma referência internacional em inovação ao lado de várias outras cidades do Brasil e do mundo.

 

SILON PROCATH

Graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Maria (1997), mestrado em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (1999) e doutorado em Ciência e Tecnologia Agroindustrial (2009) pela Universidade Federal de Pelotas, tendo trabalhado com apropriação tecnológica e produção integrada. Foi Coordenador de Projetos da Universidade de Santa Cruz do Sul entre 2002 e 2005, sendo responsável pelos projetos de captação de recursos. Coordenador de Ações Regionais e Inovação da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Santa Maria no ano de 2014. Ex-Presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento da Região Central. Atualmente, atua como Coordenador de Empreendedorismo da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia da UFSM (www.ufsm.br/agittec) sendo responsável pelas políticas de incentivo ao empreendedorismo e pelos ambientes de inovação da UFSM. Também atua na estruturação do Parque Científico, Tecnológico de Inovação da UFSM. Possui experiência nas áreas de Empreendedorismo, Incubadora Tecnológica, Startups, Elaboração de Projetos, Captação de Recursos e Desenvolvimento Regional.

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