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Imagem de NakNakNak por Pixabay

O dia de amanhã por Rosana Zucolo

Anos atrás, quando nós, brasileiros, tínhamos crise mas esperança, uma querida ex-colega de doutorado mudou os rumos e foi viver no Maine, EUA.  Depois de algum tempo por lá, relatou-me as suas impressões acerca do forte sentido comunitário (para o bem e para o mal) da vida norte-americana ou de parte dela. E para além do que habitual e utopicamente entendemos por comunitarismo aqui no Brasil, Nívea Bona também dizia das estratégias e dos movimentos das comunidades de ódio que se organizavam, convocando a depredar e matar os considerados diferentes.

Naquele momento, não se supunha que tal violência pudesse vingar de modo institucionalizado em solo brasileiro, apesar da imensa desigualdade que sempre imperou por aqui e dos estudos conceituais sobre a área. E não, não se trata de ignorar a violência que sempre existiu no Brasil – o país tem seus ódios incrustados profundamente em todos os aspectos de sua sociedade – mas de constatar que, desde o final de 2018, ela vem sendo instigada, autorizada, consentida e normalizada como rotina na sociedade civil.

Sim, o mundo girou à extrema direita nos últimos anos.  Os líderes mais conhecidos eleitos pela via do voto democrático são Trump nos EUA, Bolsonaro aqui (ainda), Orban na Hungria, Moraviek na Polônia e, recentemente, na Itália, Meloni cuja campanha tem o slogan “Deus, pátria e família”. Soa familiar aqui no território nacional?

O que parecia improvável ou soava quase caricato aconteceu lá e cá. Nesse giro, as palavras que sustentam o mundo democrático foram sendo esvaziadas de sentido e de poder, porque às palavras se sucedem as ações. Quando isso deixa de ocorrer, elas são esvaziadas e o silenciamento que se segue permite a outros elementos, a simulacros, ocuparem os espaços de poder.  Esvaziam-se também as instituições que deveriam representar e defender os cidadãos.

Perceber este movimento  horroriza porque nos invade um misto de indignação e impotência. Como conceber que um representante do poder público minta descaradamente, distorça os fatos, pregue a violência, faça acusações sem provas, desrespeite as pessoas e tudo fique por isso mesmo? E mais, que seja vetor desse modo de agir sem que os mecanismos legais capazes de barrar esse tipo de ação sejam acionados por quem tem competência para tanto?

Para lembrar quando começou de modo público e notório tal silenciamento da democracia, basta voltar ao golpe de 2016. Os argumentos utilizados durante a votação do impeachment de Dilma Roussef já sinalizavam a tendência. Retóricos e sem alma, priorizaram o pragmatismo fisiológico que destituiu, sem base legal, uma presidenta eleita democraticamente.

Quem assistiu a transmissão daquele acontecimento pela TV sabe que a “votação”, de fato, foi um fuzilamento público e misógino, com o atual presidente homenageando Brilhante Ustra, responsável por mais de 50 mortes e centenas de torturas durante a ditadura, como “o pavor de Dilma Roussef”. Ali já se perdia a civilidade política. Cassar o mandato da presidenta foi um golpe de estado travestido de oficialidade, sustentado também pelas discussões na sociedade civil que assumiram a retórica da legalidade.

Também assustou naquele processo, ver a racionalidade de pessoas próximas, muitas delas dotadas de inteligência acima da média, ser capturada pelo discurso retórico do pragmatismo fisiológico.

De lá para cá, palavras vazias e extemporâneas tomaram o cenário nacional como verdades absolutas e fundamentais. Foi ressuscitado o comunismo, a terra plana, o homescholling, o fundamentalismo religioso, o combate à corrupção como se nunca antes existisse. E propagam-se como discurso a permear a vida cotidiana das gentes, enquanto a estratégia do grupo no poder é o desmonte de todas as políticas públicas e a privatização desse patrimônio. E se somam a isto,  a misogênia,  a homofobia, a discriminação racial, o genocídio dos povos originários, a destruição ambiental, a perseguição aos negros, o armamento da sociedade civil e o consentimento à violência desenfreada para os policiais,  entre tantos outros horrores que ocorreram nestes quatro anos de destruição da vida brasileira.

Talvez o mais grave disso tudo, seja o risco de se ter a identidade nacional substituída por outra, cujas marcas se forjam na barbárie. Intolerância, xenofobia, acirramento das desigualdades, concentração da renda, miséria, fome, negligência, milhares de mortes são as consequências do mandato do presidente ultradireitista que ocupa o maior posto do país. Eleito democraticamente, ameaça recusar o resultado das urnas no dia de amanhã caso não seja reeleito.

Esse vácuo institucional que caracteriza os regimes ditatoriais e facistas e desumaniza as sociedades pode ou não se instalar de modo incisivo no país a partir de amanhã. Mas também é possível pensar que o tamanho da sombra é proporcional ao tamanho da luz. Assim, neste domingo, 2 de outubro, dia da eleição mais importante dos últimos tempos ao Brasil, o meu voto é o da esperança de que retomemos o processo democrático rumo a uma sociedade mais justa e  igualitária.

Não se trata de retomar um Brasil  corróido pelo atual governo, mas de reconstruir um país diferente, mais equânime, justo e com mais dignidade. Não será tarefa fácil, mas é fundamental retomar e defender a democracia.

 

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