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Karina Maia. foto: Fernanda Abegg

NUA BANDEJA MANHÃ por Karina Maria

Senti o calor dos pães, quentes
Meus dentes neles, crocantes
Espera, vem primeiro aqui,
Quero-te contar
Um sonho nosso
Era assim
Tu me chegavas
Tinhas fumaças nos olhos
Em volta do corpo todo
Como nuvens,
Não lembro,
E quente como o pão
Esse pão que mordo agora
Quis te morder assim
Roubar tua carne em pedaços
Enfiar os dedos no teu meio
Arrancar
Indelicado
Os miolos macios
Molhar no pingado
E sorver
Quis logo acordar
E comer-te
Mais desejo
Quero ainda ser tua refeição
completa
Com uma faca cega
Não vê onde desliza,
Todo alimento
Meu chocolate?
Não!
Não digas chocolate
Que só às vezes!

Quero que tenhas
Teus chocolates,
Que os derreta na boca
Que sejam amargos ou doces
Mas eu, desejo mais
Quero ser teu pão
Matinal desjejum
Tu
Cortar-me em fatias
Nem bem acordas
Eu, pão, sem mim teu dia não vinga!
Se não me mastigas pela manhã
Como enfrentar o dia lá fora da
porta?
É triste.
Acompanho com meu leite
Que te ferve, derramo
Mancha a roupa
O canto da boca
Sol!
Vem agora
Que nosso ninho ainda morno
espera
E hoje é domingo pra nós!
Aurora

Karina Maia
Saiu de Uruguaiana aos 20 anos lá em 2004 e vem carregando a fronteira por onde passa.
Poeta da intuição e do desejo, tece palavras sem regras. Movimenta o encontro poético literário Sarau dxs Atrevidxs desde 2014. Produtora cultural no Laboratório K, atriz por vocação e encenadora por deformação acadêmica.
Mãe da Nina Aurora, a garota que aprendeu a andar e ensina a viver.

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