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Alfonsina. Archivo General de la Nación Argentina (DP).

ESTANTE DA ALICE | Alfonsina Storni, uma antologia bem-vinda

Por Maria Alice Bragança

 

Lançada pela Iluminuras, em 2020, “Alfonsina Storni – Sou uma selva de raízes vivas”, antologia bilíngue, com seleção, tradução e notas, de Wilson Alves-Bezerra, preencheu uma lacuna inexplicável na estante de publicações dos amantes da poesia. Storni já era conhecida pelos aficionados por poesia e foi homenageada pela canção “Alfonsina y el mar”, de Ariel Ramirez e Félix Luna, popularizada na voz de Mercedes Sosa, tendo sido gravada também por Zizi Possi. As duas belíssimas interpretações podem ser conferidas no YouTube. Os leitores de Eduardo Galeano tiveram acesso a Alfonsina no conto “Mulheres”, sobre a poeta argentina.

Conforme anota na orelha do livro Wilson Alves-Bezerra, essa obra é a primeira antologia poética no Brasil de Alfonsina Storni (1892-1938), feminista, poeta ao mesmo tempo irônica com o conformismo de homens e mulheres, frontalmente avessa ao patriarcado e celebradora do exercício pleno da sexualidade.

O fato de a edição ser bilíngue, castelhano/português, proporciona a fruição dupla de quem domina as duas línguas. Como apreciadora de poesia, as edições bilíngues têm sempre minha preferência. A edição da Iluminuras, além das ótimas traduções, traz também excelentes notas, feitas por Alves-Bezerra, e um cuidadoso ensaio biográfico, “Em busca do país de Alfonsina”, também do tradutor, ao final da obra. Wilson Alves-Bezerra é poeta, escritor e tradutor. Doutor em Literatura Comparada pela UERJ, traduziu obras de Horacio Quiroga e Luis Gusmán.

Nascida em Sala Capriasca na Suíça italiana em 29 de maio de 1892, Alfonsina Storni (Alfonsina Storni Martignoni), imigrou com os seus pais para a província de San Juan na Argentina em 1896.

Aos 16 anos, com a morte do pai, ficou órfã e foi trabalhar como operária em uma fábrica de chapéus. Lá, conheceu organizações sindicais, movimentos feministas e anarquistas. Em seguida, incentivada pela mãe, ficou em turnê por um ano, viajando com uma companhia de teatro, como atriz. Sem suportar o assédio dos homens, retornou à casa da mãe e decidiu tornar-se normalista na escola recém-aberta.

Quando tinha 20 anos, nasce seu único filho, Alejandro, seu companheiro inseparável. Em 1916, publica: “La Inquietud del Rosal”, e continua sua obra cultivando diferentes gêneros: novela breve, conto, teatro, poesia e crítica. Em 1918, publica “El Dulce Daño”; em 1919, “Irremediablemente”.

Em revistas e diários dos anos 1920, escreveu sobre as mulheres e o lugar que ocupavam na sociedade, assinalando: “Chegará um dia em que as mulheres se atreveram a revelar seu interior; este dia a moral sofrerá uma reviravolta; os costumes mudarão” (em “Cositas sueltas”). Também escreveu sobre o direito ao voto para as mulheres e questionou as pesadas tradições que as impediam de escolher um caminho para além do casamento. Ela praticava um jornalismo combativo e, em mais de uma ocasião, defendeu que a primeira atitude a tomar para mudar a situação das mulheres era romper com os estereótipos, os lugares fixos que a sociedade patriarcal lhes apontava, e, por esse motivo, convocava as mulheres a demonstrar que são intelectualmente fortes.

Em 1920, ela publicou “Languidez”, livro pelo qual obteve o prêmio Municipal de Poesia e o segundo prêmio Nacional do mesmo gênero. Em 1925, publica “Ocre”; em 1934, “Mundo de Siete Pozos”; em 1938, ano de sua morte, publica “Mascarilla y Trébol”.

Em 1935, descobriu-se portadora do câncer de mama. Deprimida, volta a procurar seus velhos amigos: Horacio Quiroga, Estrella Gutierrez, Enrique Amorín, Fernandez Moreno. O suicídio de Horacio Quiroga em 1937 a deixa profundamente abalada.

“Voy a dormir” foi o último poema escrito por ela e enviado para o jornal La Nación, poucas horas antes de sua morte. Um ano e meio depois do suicídio de seu grande amigo Horácio Quiroga, aos 46 anos, Alfonsina se vestiu de mar. Seu corpo é resgatado na manhã seguinte, era uma terça-feira, 25 de outubro de 1938.

Com um convite à leitura dessa antologia e demais poemas da autora, finalizo esse comentário com o último poema escrito por Alfonsina Storni na versão original e na tradução de Wilson Alves Bezerra:

 

VOY A DORMIR

 

Dientes de flores, cofia de rocío,

manos de hierbas, tú, nodriza fina,

tenme prestas las sábanas terrosas

y el edredón de musgos escardados.

Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.

Ponme una lámpara a la cabecera;

una constelación; la que te guste;

todas son buenas; bájala un poquito.

Déjame sola: oyes romper los brotes…

te acuna un pie celeste desde arriba

y un pájaro te traza unos compases

para que olvides… Gracias. Ah, un encargo:

si él llama nuevamente por teléfono

le dices que no insista, que he salido.

 

VOU DORMIR

 

Dentes de flores, touca de sereno,

mãos de ervas, você, criada fina,

deixe prontos os lençóis de terra

e o edredom de musgos e cardos.

Vou dormir, criada minha, me deite.

Ponha uma luz na cabeceira;

uma constelação, à sua escolha;

todas são boas; traga aqui pertinho.

Me deixe sozinha: escute nascerem os brotos…

te nina uma planta celeste lá em cima

e um pássaro traça seus compassos

para que você se esqueça… obrigado.

Ah, um encargo, se ele ligar de novo,

não pegue recado, diga que saí.

 

Boa leitura!

 

 

Maria Alice Bragança nasceu em Porto Alegre, RS. Jornalista, diplomada pela FABICO/UFRGS, mestre em Comunicação Social pela PUCRS, redatora e editora de emissoras de rádio e de jornais, como Correio do Povo e Zero Hora, foi também professora de comunicação social e artes visuais nos cursos na Universidade Feevale. Como pesquisadora da área de comunicação e do jornalismo, possui artigos publicados em revistas e anais de congressos nacionais e internacionais. Atualmente, é diretora de Comunicação da Associação Gaúcha de Escritores (AGES), gestão 2019/2020. Escreve poesia desde a adolescência, tendo publicado poemas em jornais, em antologias nacionais e em Portugal, além dos livros de poesia: Quarto em quadro, pela Shogun Arte, e Cartas que não escrevi, pela Casa Verde. Mantém, sem periodicidade, o blog “Alice & Labirintos” (alicelabirintos.blogspot.com) e é uma das fundadoras e organizadoras do coletivo feminista de escritoras Mulherio das Letras RS, participando também, além do grupo nacional do coletivo, do Mulherio das Letras Portugal e Mulherio das Letras Europa. Tem poemas publicados nas revistas literárias Gente de Palavra, Germina, InComunidade (Portugal), Literatura & Fechadura, Ser Mulher Arte e Mallarmargens.

 

 

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