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ENTREVISTA: ARTHUR DAPIEVE

POR UGO MEDEIROS (COLUNA BLUES ROCK)

“Discordo que o blues, o jazz e o folk tenham algum dia sido o centro do mercado musical. O blues, por exemplo, era race music nos EUA, aquela categoria racial-musical conhecida como rhythm’n’blues. O grosso do mercado musical americano dos anos 1930 aos 1950 ouvia canção popular americana (branca). Blues sempre foi nicho.  O que o jazz e o folk foram é usinas de criatividade, não de mercado. ” – Arthur Dapieve –

Arthur Dapieve é um jornalista e crítico musical brasileiro, trabalha para o jornal O Globo. Já foi repórter, redator, subeditor e editor do Jornal do Brasil (Caderno de Idéias e B, da revista Veja Rio e do jornal O Globo (Rioshow, Opinião, etc) Também colunista do site NO e professor de jornalismo na PUC-Rio.No rádio, apresenta uma edição mensal com o programa CLÁSSICO, uma série da rádio Batuta, a rádio de internet do Instituto Moreira Salles (IMS). Os programas ficam armazenados, podendo acessar a qualquer momento: www.radiobatuta.com.br. Ele escreveu a biografia Renato Russo – O Trovador Solitário em 1999, baseado em fitas com entrevistas do compositor e cantor Renato Russo.Além deste, tem mais cinco livros publicados, sendo eles: BRock – O rock brasileiro dos anos 80, Miudos metafísicos, Guia de rock em CD, De cada amor tu herdarás só o cinismo (romance), Morreu na contramão.(NOTA REDE SINA)

Agora uma grande aula sobre história da música com um dos maiores críticos musicais brasileiros, Arthur Dapieve. Profundo conhecedor de jazz, música clássica e rock, foi uma pessoa que me ajudou demais quando, em 2008, escrevi minha monografia sobre Rock e Geografia. Com muita honra e alegria, estendo o tapete vermelho à essa enciclopédia da resenha musical!

Ugo Medeiros – Você se lembra como a música entrou em sua vida? O rock foi o começo de tudo?

Arthur Dapieve – Talvez tenha sido aprendendo a letra de Help na aula de inglês, ainda no primário, mas os primeiros discos que comprei no ginásio eram coletâneas de sucesso, que podiam misturar John Lennon, Minnie Riperton e nomes que despontaram para o anonimato. Só um pouco depois, no meio da adolescência, comecei a comprar discos mais “metodicamente”. Não coletâneas, mas LPs de linha. Aí, sim, comecei pelos Beatles, por Bob Dylan e pelo Genesis.

UM – Quais os deveres de um crítico musical? O juízo de valor faz-se necessário, o que chuta para escanteio o relativismo “tudo é música. Não existe música ruim, apenas diferente…”?

AD – O dever é ser honesto consigo mesmo e com o artista, ser bem-informado e escrever bem. Relativismo, realmente, é incompatível com qualquer tipo de juízo crítico. Acho que mesmo o clichê “há música boa e música ruim” é bastante acrítico.

UM – Aproveitando a última pergunta, o Miles Davis pagou um pouco por isso, não? Fez tanta mistura, tantas sonoridades… E a reta final da carreira foi bem fraca…

AD – Sim, mas é bem fraca, repare, em relação a seus momentos no bebop, no cool jazz e no jazz-rock, que estão entre as criações mais importantes da história da música. Fico me perguntando: se ele tivesse vivido um pouco mais, teria feito algo bom também na fusão com música eletrônica? Ou música é como matemática, os grandes avanços ocorrem na juventude?

UM – E a imparcialidade nisso tudo? O gosto musical, o sentimento ou qualquer outra “interferência” afetam a crítica?

AD – Como eu disse, é preciso ser honesto. Mas não existe a menor possibilidade de se fazer uma crítica na qual o gosto pessoal – inclusive porque não existe gosto impessoal – não desempenhe papel importante. O que o crítico não pode fazer é achar que tudo do que ele gosta é importante ou bom. Ou que tudo do qual ele não gosta é irrelevante ou ruim. Enfim, honestidade intelectual. Gosto não pode ser picuinha.

UM – Ser crítico implica NECESSARIAMENTE em ser jornalista? Por muito tempo achei que eu deveria fazer jornalismo – ideia devidamente excluída – para escrever sobre música. Isso nos leva à atual (e eterna) discussão sobre a obrigatoriedade do diploma…

AD – De modo algum! Nem para ser jornalista é preciso fazer jornalismo… Acho que essa obrigatoriedade cria a ilusão de que a simples posse do diploma de jornalista gabarita alguém para exercer a profissão. Como professor de jornalismo, sei que isso é uma mentira. Como jornalista, meus melhores chefes nunca chegaram perto de uma faculdade de comunicação (eram mais velhos, ou seja, pré-regulamentação). Eu sei, sou minoria tanto entre os professores como entre os jornalistas. Mas acho, além do mais, que a obrigatoriedade do diploma gera uma espécie de “filtro” na liberdade de expressão, o que não é nem desejável nem constitucional.

UM – A crítica musical mudou bastante ao longo do tempo. Já foi algo bem romântico, algo bem Quase Famosos; depois vieram críticos mais ácidos, influenciados pela poesia maldita. Hoje em dia a escrita é mais caracterizada pela síntese e dinamismo.Você não acha que isso empobrece o texto em si? Digo, está muito técnico e politicamente correto…

AD – Politicamente correto, sim, muito técnico, não. A ênfase está na informação e não na opinião, quando o ideal é haver um equilíbrio entre ambas. O que empobrece o texto, e não só no jornalismo cultural, e não só na crítica, é o baixíssimo grau de leitura da maior parte dos jovens. Leitura relevante, quero dizer. Porque, com a internet, nunca se leu tanto, mas normalmente o que se lê é notícia rápida, abobrinha, e-mail, post, coisas que sozinhas não dão estilos ou conhecimento a ninguém. É preciso articular leitura, compreensão e formação.

UM – O blues já foi o centro do mercado musical, assim como o jazz e o folk. O rock é a galinha dos ovos de ouro desde o final dos anos 1950. Mas, atualmente, o hip-hop é fortíssimo nos EUA e a música eletrônica comanda a Europa. Podemos falar que o rock está em um processo de declínio?

AD – Discordo que o blues, o jazz e o folk tenham algum dia sido o centro do mercado musical. O blues, por exemplo, era race music nos EUA, aquela categoria racial-musical conhecida como rhythm’n’blues. O grosso do mercado musical americano dos anos 1930 aos 1950 ouvia canção popular americana (branca). Blues sempre foi nicho.  O que o jazz e o folk foram é usinas de criatividade, não de mercado. O blues ganhou mais visibilidade comercial – e mesmo assim não muito – foi com o interesse que as bandas de rock do outro lado do Atlântico tinham por ele. Foi este rock que era o centro do mercado musical de, digamos, 1954 a 1994. Acho que ele já declinou criativamente há tempos, embora ainda possa fazer algum “auê” comercial de vez em quando. Aconteceu com ele o que aconteceu com o blues, o samba, o jazz etc, as fórmulas se cristalizaram. Há coisas boa em todos esses gêneros, mas elas são ecos de outras eras.

UM – Quando os Stones, Metallica, Motorhead, Allman Bros, Lynyrd Skynyrd e outras mega bandas pararem, haverá uma grande banda que “carregue” o rock? Ou será um conjunto de bandas medianas?

AD – Bandas medianas, até por falta de comparação, se tornarão grandes bandas. Há bandas contemporâneas ou posteriores às que você menciona – e apenas as duas primeiras são imensamente populares, mega mesmo – que já ajudaram a carregar o rock. U2, Radiohead…

UM – O termo “rock progressivo” ganhou um significado ruim, chato. Me lembro do Sergio Dias dizendo “Tudo foi feito pelo Sol não é progressivo, é rock’n’roll”. A que se deve isso? Você não acha que o “Metal” vai por esse caminho?

AD – Gosto de progressivo, mas acho que os músicos do gênero (inclusive o Sérgio Dias) fizeram por onde, copiando os maneirismos elitistas de parte do pessoal da música clássica… Ficou parecendo chato, difícil, velho. Não acho que o metal vá seguir esse caminho, felizmente. Inclusive porque “o metal” são tantos… Já o progressivo basicamente sempre foi um só. Hoje em dia é um gênero muito menos atrativo que o metal.

UM – Na minha opinião, o último e mais interessante movimento do rock foi o do Do it Yourself (começo dos anos 1980, cena hardcore). E para você? Algo mais recente chama atenção?

AD – Uma ressalva, por favor. O DIY foi usado pelo hardcore (e pela música eletrônica), mas ele é anterior: é invenção do movimento punk, nos anos 1970. Seja como for, depois do hardcore, que não curti muito, houve o grunge e o pós-rock, que acho muito interessantes. Depois, porém, o rock perdeu momentum num matagal de bandas independentes inexpressivas e, pior, conformadas com a inexpressividade.

UM – Qual o maior compositor americano, Gershwin, Louis Armstrong, Glenn Miller ou Peter Seeger?

AD – Só dá para optar entre esses quatro? Nenhum deles. Duke Ellington.

UM – Indiscutivelmente, a música brasileira é muito rica, mas não há tanto intercâmbio entre os diferentes estilos regionais. Isso já é diferente nos EUA, onde há uma constante troca. Há na música nova iorquina influências claras da música apalachiana, assim como um swing de jazz no bluegrass. Você não acha o brasileiro mais provinciano? Por que isso ocorre no Brasil?

AD – Olha, Ugo, desculpe-me, mas discordo tão profundamente da premissa da pergunta que não tenho nem como responder direito. Não acho a música brasileira menos “intercambiada” ou mais provinciana, não. Como assim, com Noel, Tom, Villa-Lobos, Caetano, Paralamas, Chico Science, Gaby Amarantos? São todos misturados entre regiões, entre nações.

UM – As grandes orquestras filarmônicas são mantidas pelo Estado e doações privadas. Ainda há espaço para o erudito na mídia? Mais, será que o erudito persistirá sem esse approach? Como você vê a música erudita daqui a algumas décadas?

AD – Antes de mais nada, é preciso evitar o termo “música erudita”. Consta que a primeira menção a ele estava numa carta do imperador da Áustria a Mozart, reclamando da suposta dificuldade de uma peça. Dificuldade em Mozart?! “Erudito” aí tem, portanto, caráter pejorativo, embora alguns músicos e ouvintes elitistas alimentem o termo. Depois, é preciso ter em mente que a música clássica é mantida também pela venda de discos (é o nicho onde o digital fez menos estragos), pela projeção de óperas do Metropolitan e da Royal Opera House nos cinemas, nas assinaturas para se assistir à Filarmônica de Berlim via web, todo fim de semana… Além disso, ela é usada como fator de integração e progresso social em todo o mundo, como no formidável El Sistema, da Venezuela, de onde emergiu um dos melhores maestros em atividade, Gustavo Dudamel. A música clássica é quase onipresente na mídia desde, claro, que você não procure por músicos de fraque e cartola regidos por um alemão idoso. Ela está nas trilhas de filmes (o que é Ennio Morricone, afinal?), de TV e de games… Assim, daqui a quarenta anos, acho que ela ainda estará por aí, firme e forte.

UM – Por falar em música erudita, como ela entrou em sua vida?

AD – Entrou via bandas de rock progressivo, como Yes e Emerson, Lake & Palmer. A partir deles, fui ouvir as peças que eles tinham regravado a seu modo… Brahms, Mussorgsky… Então, um novo mundo se abriu para mim. Acho que a melhor indicação para um neófito em música clássica que posso dar é um livro: Música clássica em CD, um escrito pelo recém-falecido Luiz Paulo Horta. A partir dele, começa-se a montar uma boa discoteca clássica.

UM – Mudando um pouco de assunto, você consideraria o Kraftwerk o mais próximo de erudito dentro da música eletrônica?

AD – Do meu ponto de vista etário, o Kraftwerk nem é música eletrônica… Quando comecei a ouví-lo, em meados dos anos 1970, ele me parecia rock progressivo. Depois é que fui descobrir que era parte do tal “krautrock”, rock alemão com características experimentais, junto com, entre muitos outros, Tangerine Dream e Can (o meu favorito). Mantenho-o nessa prateleira. Na eletrônica propriamente dita, acho Massive Attack o mais clássico.

UM – Professor, valeu pela participação. Deixo esse espaço para as suas considerações finais.

AD – Parabéns pelos 100 mil acessos, Ugo. Bela marca.

Entrevista publicada originalmente em https://www.colunabluesrock.com/single-post/2013/08/31/Entrevista-Arthur-Dapieve

Ugo Pate Medeiros – Assistiu ao filme Quase Famosos (filme de Cameron Crowe) e concluiu que a vida seria mais divertida no mundo da música. Assim, Criou e tornou-se editor do Coluna Blues Rock, responsável pelos vídeos exclusivos, contatos comerciais, produtor das festas e confraternizações do site e o responsável pela cafeteira da redação de apenas um (silêncio é sempre a melhor companhia!).
Colaborou em diversos sites e revistas impressas; cobertura in loco de festivais como o Rio das Ostras Jazz & Blues Festival e o Psicodália; pesquisador musical com ênfase na estadunidense. Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela PUC-Rio, quando escreveu a monografia Críticas à Sociedade Norte-americana: uma leitura a partir do rock. Excelente trocador de fraldas e, nas horas vagas, um ótimo saco de pancadas no judô e no jiu-jitsu. E de tanto apanhar no tatâme, talvez para anestesiar, segue firme (e dolorido) atrás das melhores cervejas artesanais. Tem o site https://www.colunabluesrock.com desde 2007. Em 2018 se torna colunista da Rede Sina.

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