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Cotidiano acadêmico, pandemia e inspirações

Na nova vida acadêmica as aulas se tornaram síncronas, assíncronas, ou até mesmo híbridas,  e nem tudo ocorre como o planejado, e nem tudo é como anunciado. No entanto, talvez a virtualidade tenha nos devolvido a capacidade de encontrar respostas inesperadas para situações até então,  pouco prováveis. O próprio sistema ensina a dar a volta nos obstáculos e mostra que tudo é relativo.

Hoje, novamente a rede travou (na semana anterior fora o bug mundial do Teams),  a aula atrasou, a primeira meia hora foi perdida até que se restabelecessem os caminhos e, mais uma vez, me vi assolada pela dúvida sobre onde estariam os alunos (a turma costuma ser pontual!!!)  e como acioná-los se os canais estavam bloqueados(  não os tenho para além dos contatos institucionais).

A aula consistia em um webinário –  nome novo para o velho seminário – sobre  comunidade e comunicação comunitária, com  os estudantes  trazendo os seus comentários sobre textos previamente selecionados.  Depois de algumas ligações e percalços, os caminhos voltaram a abrir.

Reúne o povo em meio a um todo que parecia atravessado e ter tudo para dar errado. Nada mais rotineiro neste contexto pandêmico de não-lugares. Mas eis que, de repente, a aula flui de modo inspirador a partir da exposição do Bernardo, acadêmico da PP, sobre a noção de comunidade do afeto defendida em artigo por Raquel Paiva e Marcelo Gabbay.  O texto é belo, desafiador e cheio de esperança ao discutir as  “novas formas de contato no momento em que grandes (antigas e novíssimas) incertezas assombram a era atual”, conforme afirmam os autores (2017, p.160).

O mais surpreendente é perceber o percurso reflexivo que a leitura de um texto pode desencadear em quem o lê.  Quando o leitor disseca não apenas o texto em si, mas entende como ele foi construído.

E ao falar dele enquanto processualidade, parece provocar uma espécie de insight coletivo, um “contágio”,  que puxa a todos para participarem de um fluxo  de racionalidade que se constitui em pensamento crítico e  problematizador dos discursos produzidos no mundo da vida. Em tais momentos, a sala de aula, virtual ou presencial, se revela naquilo que é: um lugar plural, polifônico, dialógico, espaço da construção de percepções de mundo mais vastas, mais nítidas, lugar de confiabilidade, de  importância, de expressividade, de trocas, de experiências e também de afeto.  Talvez este seja o melhor retorno para quem ocupa o lugar mediador.

Há dias em que o planejado não acontece. Ainda bem.

PAIVA, R. & GABBAY, M.  Sobre a Comunidade do Afeto: comunicação alternativa e comunidade no contexto atual. In: PARÁGRAFO. JAN/JUN. 2017 V.5, N.1 (160-169)

ROSANA ZUCOLO
Jornalista, professora universitária (UFN), mestre em Educação(UFSM) e doutora em Comunicação(Unisinos). Nascida gaúcha, mora em Santa Maria, tem alma cigana, a Bahia como segunda terra e o mundo como casa. Se diz  ” parideira de jornalistas” e renasce com eles todos os anos. Descobriu ter uma certa predileção por pares: dois filhos, dois gatos, dois prêmios Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, dois empregos por muito tempo, dois projetos de cursos de comunicação, dois blogs,  duas casas, dois irmãos, dois cachorros, duas cachorras…
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