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Assédio – poema de Tânia Lopes

Tudo começa (e sempre recomeça)
devagar…
Principalmente quando vens me
tentar à noite… (e aí sei que
amanhã será dia de abrir sorrisos e
pensar liberdade)!
Primeiro te ouço, entre sono, depois
despertada abruptamente
quando te tornas insistente…
E então fazes longa e insone minha noite…
Ah! E vens “caliente” e suplicante,
Ousado, esfuziante…
Viro-me
Reviro-me
Com teu calor contagiante
Que me enlanguesce
me baixa a pressão
me enlouquece…
Quero dormir simplesmente…
Mas como, se insistes?
Falsa, renego
e nem assim desistes!
E sabes (como não sei)
da influência e perturbação que me causas…
E te repetes
e te renovas na repetição
(coisas da paixão)…
Às vezes tentas tática nova,
acalmas um pouco…
Ah! Falsa calma, me enganas,
começas de novo!…
Lentamente
sorrateiramente
e num crescendo
sofregamente…
Com ânsia e constância:
—cobra perigosa, silvas
—lobo das estepes, uivas
—corcel garanhão
galopas…
Aí me entrego…
Não…não ti, mas a tua lembrança
que vem de longe,
quando eu nem sabia que teu
magnetismo,
comigo bulia,
E a extensão dessa paixão não
entendia…
A primeira vez, lembro ainda, mexias
comigo,
quando eu brincando de espiar
o mundo por outra ótica
(olhando pelo vão das pernas de
cabeça para baixo)…
a roupa esvoaçando e senti vergonha
pelo calor que me causavas…
—Vem pra dentro, menina!—
Exclamava a voz sempre presente
(a contornar perigos,
a evitar tentações)…
Ah! Mas quem diz que se ouve, quando
se deseja mesmo é experimentar?
(nem que se quebre a cara
nem que se rompa o elo)
(e intuitivamente sabemos que será
apenas um, em tantos
de correntes que nos amarram e
amarrarão sempre)…
Ah! Mas tu não conheces laços, és
livre e despudorado e
de tempos em tempos, vens me
tentar!
Desconfio que deves morar por aqui
(ou, como eu, fizeste morada)
nesta terra de tanta sorte…

Ou quem sabe vens por mim
Tua namorada?
Azar teu,
(e sorte minha)
Que sou forte
Pra resistir
Ao teu assédio
VENTO NORTE!

 

Tânia Lopes é escritora e artista plástica. Foi patrona da Feira do Livro de Santa Maria, em 2004

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