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Mercado Público de Porto Alegre. Foto de Carlos Edler. Publicação autorizada pelo autor.

A psicanalista escutando a solidão por Graziela Miolo

A experiência de escuta clínica que a Psicanálise proporciona é uma das mais interessantes viagens que a vida pode me proporcionar. São muitos universos e perspectivas que visitam minha sala de atendimentos diariamente. São dores, alegrias, sonhos, frustrações, adoecimentos e potências.

Confesso: me fascina! Fascina a possibilidade de ser pega pela mão por essas pessoas que confiam a mim a escuta de suas vidas. Elas me fazem um convite a andar de mãos dadas pelos meus diversos contextos e terrenos.Às vezes são passeios curtos, porém intensos. Em outros momentos, viagens que atravessam o oceano.

Com ou sem planejamento prévio, as vidas vão desfilando e desfiando seus enredos, com pudores e dores.

Mas chama atenção, que entre os enlaces e desenlaces dessas vidas, tem sempre um receio, um medo até. Algo como uma precaução. Uma precaução contra uma dor. Entre desejos de produzir novas histórias, que acabam ganhando nomes como: qualidade de vida, dormir bem, comer de forma menos compulsiva, conseguir melhorar o relacionamento amoroso, descobrir um ideal de vida, romper com padrões… E então acena o medo. O medo de mudar. O medo de não conseguir. Ou o medo de conseguir!

Sempre existe o medo que algo novo possa acontecer, mesmo que esse seja o desejo que os move até a busca pela ajuda. Algumas vezes não se trata de algo paralisador. Ao contrário, pode ser um medo que move. Um medo que rompe com aquilo que está pré-definido, mas que acena com a nuance da novidade. Mas também tem aquele medo que paralisa. Que encontra clausura na dor, e assume esse lugar como somatório de possibilidades, para supor que a desistência do investimento na mudança é real demais para conseguir a própria mudança.

O medo de encarar o novo, sem que o novo seja amparador. A dor ampara. Ela pode ser algo que ampara a dor, e encontra força de ganhos, que permitem que a vida siga. Mesmo em meio a dor. A dor toma contornos de companheira. E aí o medo não é o medo da mudança, mas o medo da solidão.

Mudar e construir outros sentidos para dor pode significar inventar um lugar. Um lugar novo. Bem ou mal, o medo é um companheiro. A solidão pressupõe um desligar-se daquele lugar já conhecido. Ele considera a expectativa de reconhecimento de uma busca, pois ele registra a ideia de uma passagem. Um movimento. O medo pode confundir-se com a expectativa de algo. Algo ainda está para acontecer…como aquelas borboletas no estômago, descrita pelos apaixonados, que ilustram em palavras a sensação de estar em expectativa.

Quando a mudança ocorre, finalmente tem-se um fim. Aquele momento, aquela expectativa terminam. E nesse sutil momento apresenta-se a ideia de solidão. Quem agora é companheiro? Quem agora acomoda? Quem agora ampara? Quem ou o que garante?

A expectativa de ser amado, que acompanha a formação do ser humano, e que no início de tudo é a única garantia de sobrevivência, acaba sendo uma alavanca de vida, para muitos de nós. A expectativa de alcance das expectativas que são preconcebidas. Isso mesmo:a expectativa da expectativa acaba sendo o que sustenta a vida.

Afinal, se aquele menino for o jogador de futebol que o pai não foi, ele terá mais certezas do amor paterno. Mais garantias que aquele pai estará com ele… Não irá abandonar, uma vez que o ideal(do pai) foi alcançado. O grande dilema é que aquele menino cresce, e arrasta com ele a corrente daquela expectativa, e acaba cumprindo os protocolos com a ideia de que ali a segurança se sustenta. A segurança de que ele é especial para alguém, e por isso precisa ser o melhor médico que o mundo já viu, uma vez que suas pernas e habilidades com a bola não garantiram aquele amor.

O pai olhando para ele orgulhoso sustenta muita coisa do que aquele menino, que agora enfrenta o mundo desamparador, acredita conseguir. Mas um dia esse menino reconhece que aquele esforço tem um preço alto. Um preço de amor devotado ao ideal e que suprime o desejo. Ser para além do melhor, mas ser quem ele quer ser, quem ele consegue, quem ele agora entende que faz sentido ser, desvenda o mistério das suas dores. Mas mudar pode reconhecer seus desejo, e afastá-lo daquilo que é a expectativa da expectativa..

E aí, quando o desejo subjetivo se instaura, a solidão aparece. A solidão de bancar a subjetividade de quem se é.
Na medida do reconhecimento de seu desejo, aproxima-se o lugar de ruptura. Aquele lugar que exige romper com aquele tipo de relacionamento com o mundo. E romper pode ser alívio, mas também é mudar. E mudar pode significar estar só. Sozinho sendo quem se é. Não ser especial, mas ser diferente. Habitar a diferença no mundo, na expectativa de ainda assim ser especial. Ser digno de ser amado, mesmo sendo o que é.

Em muitos momentos me intriga o quanto a solidão pode ser assustadora. Ela assusta a dor. Como se a dor fosse algo impossível de ser vivido.E não me refiro aqui apenas a solidão física. Não trata-se de ir almoçar sozinho, ou jantar numa sexta a noite em um lugar repleto de pessoas acompanhadas. Não me refiro apenas a superficialidade de estar num bar sozinha ouvindo música, enquanto existem casais e grupos de amigos compartilhando daquela experiência. Me refiro a ideia de bancar a sua promessa de ser humano, a partir de uma demanda que não cumpra apenas com as exigências mundanas que, por vezes, habitam nossa experiência social, sem que ao menos possamos ter consciência.
Mudar a relação com o que queremos ser, pode desvelar a companhia do medo. Pode reconhecer o significado da liberdade. Mas pode também impregnar a vida de originalidade. E num mundo de iguais, de performances, de apelo a produtividade, e de garantia em formato de celulares e carros elétricos, tudo aquilo que é único, original e singular pode beirar o lugar da loucura.

Quando a solidão traz consigo o reconhecimento de sentidos, significados próprios e direções possíveis de serem construídas, ela pode ser doce. Doce, sutil, amorosa e, talvez, a companhia mais amparadora. Ampara da dor, de uma forma reparadora. Repara a dor de perceber que não conseguir atender a expectativa da expectativa, e ainda assim, encontrar amor.

Se nada é completo, tudo pode completar, desde que faça sentido. Desde que a caminhada se aprofunde. Desde tenhamos a consciência de que quem caminha ao nosso lado é aquela criança que um dia quis ser o amor de alguém, e que hoje pode continuar desejando este lugar, desde que seja, acima de tudo, o seu amor também. Um amor respeitoso e amável, que considera o caminho como passagem…e o sentido próprio da vida como ancoragem!

 

Graziela Miolo é Psicóloga e Psicanalista. Especialista em Clínica Psicanalítica, Mestre em Psicologia Clínica. Experiência na docência superior por 14 anos, entre cursos de graduação e pós graduação. Amante de leitura e de música. Sou inquieta com tudo que mobiliza e toca o ser humano e suas complexas formas de expressão. Me considero alguém atenta à vida. Mulher e mãe.

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