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A IRMÃ QUE PINTA | POR ROSANA ZUCOLO

Não lembro exatamente quando ela começou a pintar. Não morávamos mais juntas há muitos anos e os reencontros se davam em períodos de férias ou feriados prolongados, uma vez que  o mundo da vida e da vida profissional nos levou a espaços distintos e distantes geograficamente.

Numa dessas férias, ela chegou com telas, tintas e pincéis. Senti um estranhamento porque sempre me vi diante de alguém “pé de vento”, quase dispersiva,  muito conectada com distintas pessoas e o mundo externo a um só tempo.  Pintar para mim era sinônimo de concentração absoluta, quase uma introspecção. Mas foi quando descobri haver diferentes modos de introspectar.

Daquele curto período saiu uma série de paisagens e casarios, ainda titubeantes, que hoje emolduram as paredes da nossa casa original.  E assim, ocasionalmente a cada férias “grandes”, ela vinha com novidades.

Numa dessas levas, herdei  o quadro de uma jangada de velas amarelas, duplas, a deslizar num mar azul crepúsculo, cuja moldura em azul e branco tende a ampliar e a realçar o cenário. De imediato gostei  do jogo das cores e do movimento que ele sugeria. Firme e aberto ao mar infinito.

Devo ter percebido ali, de modo inconsciente, algo em gestação em meio aos caos da vida cotidiana a jogar os sujeitos num emaranhado de tensões, neuroses e imediatismos. Fato é que, para ela, a pintura sempre foi um movimento latente como uma lanterna a iluminar a alma selvagem. O lugar onde não é possível sucumbir, nem se dobrar às ordens de um mundo duro e funcional. Um lugar de onde  se pode resistir e sobreviver. Um lugar de existência.

Tal movimento não veio pela via acadêmica ou disciplinar.  Talvez nem pela lucidez  que a racionalidade proporciona. Veio selvagem, aos borbotões, ocupando as brechas, preenchendo as frestas, quase marginal, pincelando um espaço ali, outro lá, a invalidar os medos, a suturar as inseguranças, as comparações.

Despretensiosamente um curso aqui, outro professor ali, um amigo acolá. Daqui levou parte de uma antiga coleção de história da arte editada pela Folha de SP e esquecida numa caixa. Depois ganhou uma edição atualizada, presente de aniversário.

A pandemia parece ter acelerado o processo dela. De 2020 para cá, Rosele vem  explorando o traço no desenho e pintando de modo sistemático. Um crescente movimento de aperfeiçoamento e criação muito marcada pelo intuitivo. Apaixonada por Monet, ano passado fez uma série de delicados ensaios impressionistas inspirados na obra dele.

A série de retratos que veio recentemente para Santa Maria reflete o deslocamento da alma para espaços outros, para  um mundo carregado de personagens e cores que ganharam vida na materialidade das telas. Outras paragens por onde a alma transita para podermos  existir e que ela precisa deixar emergir.

Dias atrás um amigo baiano, meu antigo analista para quem mandei as fotos de alguns quadros dela, me disse sobre a necessidade de se refletir e escrever sobre o lado B da pandemia.  Ainda não me sinto autorizada a fazê-lo em profundidade, mas quando vejo ter sido o que permitiu à alma da minha irmã vir ao mundo de modo tão forte e firme, acredito sim, haver muito a ser revisto e dito. E que ela continue a pintar e a criar!

 

ROSANA ZUCOLO

Jornalista, professora universitária (UFN), mestre em Educação(UFSM) e doutora em Comunicação(Unisinos). Nascida gaúcha, mora em Santa Maria, tem alma cigana, a Bahia como segunda terra e o mundo como casa. Se diz  ” parideira de jornalistas” e renasce com eles todos os anos. Descobriu ter uma certa predileção por pares: dois filhos, dois gatos, dois prêmios Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, dois empregos por muito tempo, dois projetos de cursos de comunicação, dois blogs,  duas casas, dois irmãos, dois cachorros, duas cachorras…
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