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7 POEMAS DE NOÉLIA RIBEIRO

 

PARQUINHO

 

A espera já dura semanas

Ela ajeita-se no banco

(as costas não doem mais)

Pisca uma dezena de vezes

sob a luz estroboscópica do sol

Puxa o vestido até os joelhos

Retira da bolsa a foto dos dois

 

A criança de fralda deixa

esvair-se da mão um punhado de areia

e pega outro punhado

Não espera

Não deixa para depois

 

CONVIVENDO COM A DOR

 

Hoje ela adormeceu

Amanhã não sei

Os que me amam

alcanço eu

Alguns já alcancei

A quem me trata

com desdém

dou o meu desprezo

Sua dor não farejo

Com a minha convivo bem

 

O PARNAÍBA

 

O rio divide os falares

da Maria do Maranhão,

da Isabel do Piauí

 

Mergulho meu Pernambuco

com as duas moças em mim,

enquanto espoca a cajuína

sob o sol

(cega a vista libertina)

na água

do rio

do ventre

da nação nordestina

 

AGOSTO DE 2021

 

Mudez da glote a reciclar

ausências de corpos e

mais corpos, laranjas

podres na fruteira, cova

rasa apocalíptica sobre a mesa

 

Cabernet Sauvignon

Ano zero, martírio bacante

do poema, em recusa

à mordida fria da carnificina

 

O choro não é livre

O choro não é livre

O choro não é livre

 

FERIDA TÂNTRICA

 

Feridas tenho por toda parte

Insurge-se, porém, a natureza do corpo

contra o suposto olvido

e estanca de uma delas o sangramento

após seu beijo desmedido

 

NUAS

 

O olho grande da moral

atrás dos óculos do cego

que atravessa a avenida

por onde elas passaram

cobertas só pelo desejo

 

 

NEOTEMPO

 

Segues o rumo da venta da vida

por desvio do vento e engarrafas vendavais

sob ipês recheados de fuxicos

Vives o tempo da delicadeza

como na canção do Chico

 

Noélia Ribeiro

A poeta pernambucana, residente em Brasília, Noélia Ribeiro publicou Expectativa (independente), em 1982; Atarantada (Verbis), em 2009; Escalafobética (Vidráguas), em 2015, Espevitada (Penalux), em 2017, e Assim não vale (Arribaçã), em 2022. Graduada em Letras pela UnB (Português e Inglês), tem poemas publicados em antologias, jornais e revistas eletrônicas. Em 2017, participou da exposição interativa Poesia Agora, na Caixa Cultural (RJ), além de receber da SECULT-DF o Prêmio FAC – Igualdade de Gêneros na Cultura. Seu poema Abelha-rainha tirou o quinto lugar no Prêmio Off Flip de Literatura (Poesia). Organiza e apresenta o programa A Fim de Poesia, no Instagram @noeliaribeiropoeta.

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