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10 poemas de Igor Calazans

01 – “Grito de Liberdade”

Em seu gozo,
mil alforrias
escorrem no peito abertas sangrias
ao orgasmo da instância ser livre.

Nas lágrimas,
centenas de desejos
açoitados pelo lar do ensejo
esvaem esmeradas o ardor que atinge.

Na voz,
dezenas de palavras cantadas
soam roucas, trêmulas e pouco faladas
o prazer do brado ecoado.

No beijo,
o único clamor de saudade
se queixa à derradeira vontade
de amar e também ser amado.

02 – “Depois”

E assim,

Quando todos estiverem atentos
à imensidão do meu vazio,
cortarão, como pétalas,
as folhas solitárias dos meus livros
e lerão o que deixei palavra por palavra.

Frente a frente, cara a cara desses versos,
saberás a origem que expresso,
os meus pesos carregados pelos ombros,
como as lágrimas mais pesadas dos teus prantos
quando cito nossos tempos como amigos…

E me abre, diante à flor da poesia,
um desprezo, do segredo à revelia,
expostos por ruídos do desvelo
tão secretos e sentidos pelo medo.

E, então, tu me atinges à memória…
E resgata a minha voz por teu silêncio
quando fechas o livro na lembrança
e abres no coração meus pensamentos.

03 – “Como a Água que Bebo”

Aprendi a me virar
Revirando o que se vira
Perco o céu mirando abaixo
Topo o chão vendo pra cima
Sei que há olhar soslaio
Quando viro e não me mexo
Tombo torto e quase caio
Pelos lados do avesso.
Mas, enfim, um ser contrário
Também pode se encaixar?
Quem sabe um dia,
Como água,
Ganho a forma do lugar…

04 – “Epílogo”

Poeta de mão cheia
e bolso sempre vazio…
Adulado por mil tapinhas nas costas,
açodado por aplausos e elogios.
Na alcova, em cima da cama,
descansa enterrado vivo
sobre os fósseis amontoados
das capas de seus próprios livros.

05 – “Alma”

Um tanto de um raro instante
De uma estante que guarda vento
Um canto de um doce encanto
Do rastro santo desse momento.

Esplendor singelo da paz de agora
Vozes imergem ao orgulho atento
Gritam pra fora o que se aflora
Na breve falta de um movimento

Estática do pleno imo
Assisado fogo de um brio terno
São imagens do espelho turvo

Retidas as dores de um fel medonho
A sombra rouca que reflete sonho
De quem enxerga por trás de tudo.

06 – “Cansei-me do Bom Coração”

Cansei-me do bom coração.
Vencido, assim, pouco a pouco,
pela humana frieza do não,
que cala-me à atroz solidão
em ecos malditos que ouço!

Onde está você, indivíduo?
Será que está morto,
Será que está vivo?
A desgraça nunca ultrapassa
às mentiras que ainda insistimos.

Para não crer a tragédia humana
e assumir um crime, ou castigo,
como posso assim eu viver
sem nunca podido querer
um dia sequer ter nascido?

Ah, cansei-me do bom coração,
do olhar pueril e bondoso
que via em gotas da chuva
sementes de água formar
um mar maior que esse poço…

profundo, seco e árido,
sorvido de luz pelos dias,
eu vejo minh’alma no mundo
tão pálida num corpo obscuro,
bater no coração que batia!

07 – “E o Fim se Foi”

Foi-se. Escafedeu-se!
A vela branca acesa em direção ao corpo
anuncia: como é falsa a vida!
A morte estava lá…
Olhando de cima
como somos tolos de chorar
e egoístas com o tempo.
A banalidade da carne
é tamanha
que nos alimentamos de sopros,
uivos dos ventos,
desalmas, desoras penosas,
brandas e dolorosas
brisas repousadas nas danças
das folhas secas,
nos cantos dos pássaros,
em toda imagem turva
que nos torna um cenário
exposto ao fim.
E o fim se foi
como um retrocesso,
um insucesso da vida
que existia à luz de velas
que tantas vezes foram
apagadas em comemoração.

08 – “Eu Poderia”

Eu poderia ter tudo
Mas preferi ter apenas.
Eu poderia ter conhecido o mundo,
Mas preferi ter o inventado ao meu gosto.
Eu poderia ter tido sucesso estrondoso
Mas preferi ter sido em silêncio
Eu poderia ter vencido na vida
Mas preferi ter perdido esse tempo.
Eu poderia ter milhares de coisas
Mas preferi ter só coisas minhas
Eu poderia ter um palácio vistoso
Mas preferi ter poucas visitas
Eu poderia ter conseguido
Mas preferi não ter o que ser
Eu poderia ter tudo com isso
Mas preferi apenas não ter.

09 – “Palavra de Estimação”

Todo poeta tem
sua palavra de estimação.
Às vezes mais de uma,
outras vezes, só algumas,
mas sempre tem sua palavra de estimação.
Como se fosse criada por ele,
cuidada a seus preceitos,
alimentada por suas metáforas
e que se encaixa perfeitamente
pelo fel de sua hipérbole,
rimando os motes finais
de qualquer ensejo.

Todo poeta tem sua palavra de estimação…

A minha?

– Segredo.

10 – “A Salvação da Humanidade ou a Conta não Bate?”

I

Isso, lá atrás, Thoreau já nos dizia…

“Tudo fica muito claro,
SEM SOMBRA DE… DÍVIDAS!”

E pra salvar a humanidade
de uma lastra distopia
não devemos pagar nada
que não seja pela vida.

Danem-se os milagres econômicos,
se a tal dessa oblação não vale um terço
da mais pura e sincera devoção
pela fé de quem nunca rezou mesmo.

A humanidade respira, sei lá como,
já que o ar, cada vez mais rarefeito,
alastra-se no mal de quem não cuida
à distância reservada ao respeito.

Enquanto os dividendos dolorosos
apontam suas perdas mais profundas,
a morte para ti é mera conta
que não vale a razão de tanta luta.

…Um carro, o barco, minhas joias,
a viagem que também já está paga…
Meus Deus,
Como a vida pode ser assim injusta?!

Como pode-se viver
sem ter quem morra?
Como pode-se ganhar
Sem quem trabalhe?
Sem os burros das cargas mais pesadas,
Sem a boiada dos tolos miseráveis?

Como posso degustar o meu uísque
mergulhando o meu silêncio com Sinatra,
sem quem durma de frio na calçada,
sem que coma a comida estragada,
sem quem viva paciente para o nada?

II

Mas, pensam, pensam sim…
Pensam em nós de vez em quando,
colocando a máscara na cara,
alertando para nós o nosso engano:

– Precisamos encontrar a salvação!
A economia jamais pode parar!
Assim, todos nós vamos quebrar!
Juro, não quero nem pensar,
quando essa tal de pandemia for passar…

Gente,
O que iremos fazer?
Sem trabalho, crescendo o desemprego…
Juro, eu penso em todos nós…
Juro, não é só o meu dinheiro…

… Mas, infelizmente, vocês que me perdoem…
Não vamos poder assim deixar
que só uns 5 ou quase 10 mil mortos
façam um país todo parar…

…Viram só os valores do mercado?!
o Dólar e a moeda despencando…
Os cortes serão imensuráveis!
É o futuro do país que está em jogo…

III

PORCO, SOCIOPATA, SALAFRÁRIO!
CHAUVINISTA, DESUMANO, DESGRAÇADO!

Qual é o futuro do País?
Que seja o calvário da tua falência,
já que o dinheiro lhe é mais caro que a morte!

Aprenda que a vida cobra caro
às pessoas que não valerem nada
e que sentem na riqueza conquistada,
a questão ocultada pela “sorte”.

É preciso sempre acreditar!!
Ir, batalhar, correr atrás!
Ouvir atento e sempre aprender:

Não se vira um ser humano
por acaso,
assim da noite para o dia.
Estudamos vários anos
esse caso,
juntamos os conceitos adequados
para o “case” infalível
da empatia.

Saiba que a queda, antes de tudo,
é o ensejo para o lado criativo
aflorar consciência coletiva
na essência social do indivíduo.

 

IGOR CALAZANS

Igor Calazans Abreu, nascido a 22 de abril de 1986, em Niterói, Rio de Janeiro. Poeta e jornalista, possui três livros publicados até o momento, além de participações destacadas em importantes antologias nacionais, regionais e revistas literárias. É editor das plataformas digitais “Recanto do Poeta” e idealizador do movimento cultural “Vespeiro Poético”. Algumas de suas obras passaram a ser estudadas em escolas públicas de Santa Catarina, através do projeto “Poesia na Escola”.

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