Isso aconteceu faz alguns anos. Quando eu morava em São José. Lembro que naquele dia acordei cedinho e fui dar uma volta pelo condomínio. Vi que não tinha ninguém na piscina, resolvi voltar para casa, colocar um biquíni e pegar um solzinho. Não fui trabalhar. Vantagens de ser profissional liberal (me dei folga).
E então eu estava lá deitada em uma espreguiçadeira quando elas chegaram. Uma menina pequena, com dois lacinhos cor de rosa na cabeça, chinelinhos combinando e uma boia em cada braço, biquíni azul, correndo e logo atrás, uma senhora de cabelos brancos, que tentava (sem sucesso) alcançá-la.
Resolvi entrar na piscina. Elas entraram também. Vieram para perto de mim. A pequena bem sorridente me olhando. Perguntei: “qual o teu nome?” Ela respondeu “Isabela”. Falei que era bonito. Ela riu. Perguntei quantos anos tinha, ela mostrou três dedinhos e começamos a conversar. Isabela perguntou quantos anos eu tenho, pedi para ela adivinhar e ela disse “doze”. Fiquei toda faceira. Quem não ficaria?
Isabela já conhece várias cores (tanto em inglês quanto em português) e fez questão de mostrar: “pode perguntar, tia!” E eu perguntei todas as cores que vi em volta. Ela sabe mesmo. E me disse que está na creche, que gosta muito de lá “porque tem amiguinhos” e que a “tia” Cida é muito legal.
Na sala dela estudam o Bernardo, a Sofia, a Helena e o Enzo, mas o Enzo “é namorado dela e não da Sofia”. Neste momento a avó nos interrompeu, para dizer que o “namorado” dela é o chinelo. Rimos muito eu e a pequena Isabela.
Resolvi “pegar no pé dela” e perguntar se o pai sabe que ela tem um namorado. Isabela disse que não tem pai. Neste momento fiquei tão constrangida. Então a avó sorriu e explicou.
O pai da pequenina morreu 13 dias antes dela nascer. Foi um acidente de carro. Ela veio morar com as duas para filha poder trabalhar. Fica com a menina de manhã e à tarde a leva para creche.
Eu só ouvi. Continuei falando com minha nova amiguinha mais um pouco e pensando: coitada da mãe desta menina. Viúva treze dias antes do parto, criando a pequena com a ajuda da avó. E olhando para filha dela jamais se poderia imaginar. Tão esperta, tão saudável, tão visivelmente feliz…
Como tem gente que passa trabalho neste mundo. E é só conversar um pouco com qualquer pessoa para ouvir uma história triste, um drama. Nem tudo é perfeito como aparenta ser em redes sociais, mas todos os problemas podem ser superados. Com amor.
Saíle Bárbara Barreto é advogada, escritora e bruxa malvada nas horas vagas.