Arquivos MEL INQUIETA OPINA - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/meinquieta/ Comunicação fora do padrão Tue, 30 May 2023 03:39:38 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Arquivos MEL INQUIETA OPINA - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/meinquieta/ 32 32 O CUSTO DO ASSÉDIO PARA A ECONOMIA | por Melina Guterres (Mel Inquieta) https://redesina.com.br/o-custo-do-assediopara-a-economia-por-melina-guterres-mel-inquieta/ https://redesina.com.br/o-custo-do-assediopara-a-economia-por-melina-guterres-mel-inquieta/#respond Tue, 30 May 2023 03:14:56 +0000 https://redesina.com.br/?p=21069 Na segunda, 22, diversas funcionárias da Rede Globo, entre elas Ana Maria Braga e Patrícia Poeta, vestiram verde em solidariedade à Esmeralda*, nome fictício de uma ex-funcionária da empresa vítima de assédio moral, sexual por 4 homens no ambiente de trabalho. A história revelada na reportagem “A Globo e o assédio sexual” de João Batista …

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Na segunda, 22, diversas funcionárias da Rede Globo, entre elas Ana Maria Braga e Patrícia Poeta, vestiram verde em solidariedade à Esmeralda*, nome fictício de uma ex-funcionária da empresa vítima de assédio moral, sexual por 4 homens no ambiente de trabalho. A história revelada na reportagem “A Globo e o assédio sexual” de João Batista Jr., na sexta 19, na revista Piauí, traz depoimentos de um ambiente totalmente insalubre pelo assédio.

O assédio sexual foi constitucionalizado crime em 2001, já uma educação anti-assédio ainda carece de muito investimento. A empresa já foi condenada a pagar R$ 2 milhões de indenização e ainda pode perder 50 milhões em ação coletiva que envolve funcionárias vítimas de assédio sexual em outras situações dentro do local de trabalho da empresa. Esmeralda, como tantas outras vítimas, teve a saúde mental atingida gravemente a ponto de tentar tirar a própria vida por duas vezes.

As consequências da saúde mental das mulheres vítimas de assédio também afetam gravemente a economia. De acordo com a pesquisa “Impactos Econômicos da Violência contra a Mulher” feita pela Gerência de Economia e Finanças Empresariais da FIEMG em 2021, em 10 anos, a violência contra a mulher provocou o fechamento de 1,96 milhão de postos de trabalho, com perdas de R$ 91,44 bilhões em massa salarial e de R$ 16,44 bilhões em arrecadação de impostos. Ao todo, estima que a violência contra as mulheres produza um prejuízo de R$ 214,42 bilhões no PIB do país ao longo de 10 anos.

Um levantamento da clínica de medicina preventiva Med-Rio em 2020, realizado a partir do acompanhamento de check-ups de executivas, constatou que, quando a clínica foi inaugurada há 30 anos, 40% das mulheres apresentavam sinais de estresse; hoje, são 67%. E as doenças gástricas estão ocorrendo mais nas mulheres (18%) do que nos homens (12%). Entre as executivas pesquisadas: 25% relatam insônia, 12 % têm sinais de depressão, 62% apresentam sobrepeso, 60% não mantêm uma dieta equilibrada, 50% estão com o colesterol alto e 50% bebem álcool regularmente.

A violência, além de um dano emocional irreparável, representa grande perda para as empresas não apenas em ações indenizatórias, mas também por falta de rendimento, perda de potenciais funcionárias que, abaladas, paralisam ou desistem de seus trabalhos.
Cientes, algumas multinacional e empresas nacionais já têm tomados medidas para diminuição de danos.

Google, a empresa de tecnologia anunciou em 2018 uma série de mudanças em sua política interna para combater o assédio sexual, após protestos de milhares de funcionários em todo o mundo. Entre as medidas estão a obrigatoriedade de treinamentos anuais sobre o tema, a criação de um canal de denúncia online e a transparência nos relatórios sobre os casos investigados. Uber, a empresa de transporte por aplicativo criou um programa chamado “Driving Change”, que oferece treinamentos online e presenciais sobre assédio sexual e violência de gênero para os motoristas parceiros e os usuários. A empresa também disponibiliza um canal de denúncia 24 horas por dia, sete dias por semana, que pode ser acessado pelo aplicativo ou pelo site.

Magazine Luiza, a empresa de varejo lançou em 2020 uma campanha chamada “Você não está sozinha”, que visa conscientizar e apoiar as mulheres vítimas de violência doméstica. A empresa oferece assistência psicológica, jurídica e social para as funcionárias que sofrem esse tipo de violência, além de divulgar informações sobre o tema nas redes sociais e nos pontos de venda. Natura, a empresa de cosméticos tem uma política interna de prevenção e combate ao assédio sexual e moral, que define os conceitos, as condutas proibidas e as sanções aplicáveis aos agressores. A empresa também conta com um canal de denúncia confidencial e independente, que pode ser acessado por telefone, e-mail ou site.

Apesar dos esforços, a mulher brasileira não tem, literalmente, um segundo de paz. A Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que, em 2022, 30 milhões de mulheres sofreram algum tipo de assédio. É o equivalente a uma mulher assediada a cada um segundo. Um dos tipos de assédio que mais cresceu, segundo Samira Bueno, diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foi o caracterizado por comentários sexuais e constrangedores em ambiente de trabalho. Foram 11,9 milhões de mulheres alvos de assédio no meio profissional, o equivalente a um caso por hora.

Para um ambiente saudável e economia crescente é preciso aumentar o investimento em uma educação anti-assédio. Na maior cidade do país, a mudança começou nessa terça, 23, o prefeito de São Paulo-SP, Ricardo Nunes sancionou a lei “Não se Cale”, que estabelece a criação de uma série de medidas para o combate à violência sexual contra mulheres em bares, baladas e outros locais de lazer na cidade de São Paulo, além de outras medidas de acolhimento às vítimas seguindo o protocolo de ação desenvolvido pela Coordenação de Política para Mulheres da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC).

Que as mudanças sigam avançando, especialmente no magistrado onde as punições mais graves a juízes que comentem crimes é a aposentadoria compulsória. Ou seja, uma proteção corporativa, uma vez que a punição máxima implica no afastamento das funções, mas asseguram que o “culpado” continue recebendo seus salários, muitas vezes acima de R$ 30 mil reais.

Também nesta terça, o juiz Marcos Scalercio, acusado de assédio sexual, foi punido em decisão unânime dos conselheiros do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, com uma aposentadoria compulsória. Caso seja condenado na ação penal de assédio, ele pode perder rendimentos que recebe desde que foi afastado compulsoriamente. Em 17 anos de atuação, o CNJ já aplicou 130 penalidades a servidores e magistrados. Foram oito penas de advertência, 19 de censura, cinco remoções compulsórias, 17 de disponibilidade, 75 aposentadorias compulsórias e seis demissões.

Supondo que 75 recebam 30 mil por mês, só um mês saí mais de 2 milhões aos cofres públicos de salários pagos a criminosos.

Que as mudanças sigam, a justiça vença o corporativismo e seja verdadeiramente feita pelas mulheres e pela economia brasileira.

***

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Melina Guterres é CEO, fundadora da REDE SINA
www.redesina.com.br/melinaguterres

 

 

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UM OLHAR SOBRE O CENÁRIO DE CINEMA-VÍDEO DE SANTA MARIA/RS – DE 2002 A 2007 https://redesina.com.br/um-olhar-sobre-o-cenario-de-cinema-video-de-santa-maria-rs-de-2002-a-2007/ https://redesina.com.br/um-olhar-sobre-o-cenario-de-cinema-video-de-santa-maria-rs-de-2002-a-2007/#respond Sat, 19 Nov 2022 22:43:53 +0000 https://redesina.com.br/?p=19584 Compartilho com vocês a pesquisa que realizei sobre a história do cinema de Santa Maria-RS no período de 2002 a 2007, resultado de trabalho de conclusão de curso de graduação em Jornalismo na UFN – Universidade Franciscana. MONOGRAFIA (clique na imagem para rolar a paginação) ARTIGO (clique na imagem para rolar a paginação)  

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Compartilho com vocês a pesquisa que realizei sobre a história do cinema de Santa Maria-RS no período de 2002 a 2007, resultado de trabalho de conclusão de curso de graduação em Jornalismo na UFN – Universidade Franciscana.

MONOGRAFIA

melina-zucolo-guterres_tfg

(clique na imagem para rolar a paginação)

ARTIGO

Artigo 02_Dani_Melina

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Poema “AMANHÃ VERMELHO” de Mel Inquieta https://redesina.com.br/poema-amanha-vermelho-de-mel-inquieta/ https://redesina.com.br/poema-amanha-vermelho-de-mel-inquieta/#respond Mon, 24 Oct 2022 21:14:14 +0000 https://redesina.com.br/?p=19467 AMANHÃ VERMELHO Amanhã um país Acordará vermelho Pelas calejadas mãos Das mães da pátria gentil Pelos cocares perdidos De cada liderança indígena Pela dor De quem sofre por Sua cor Gênero Crença Pelas lágrimas Dos que perderam os seus Por falta de vacina Amanhã um país Acordará vermelho Pela misoginia Pelo ódio declarado às mulheres …

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AMANHÃ VERMELHO

Amanhã um país
Acordará vermelho
Pelas calejadas mãos
Das mães da pátria gentil

Pelos cocares perdidos
De cada liderança indígena
Pela dor
De quem sofre por
Sua cor
Gênero
Crença
Pelas lágrimas
Dos que perderam os seus
Por falta de vacina

Amanhã um país
Acordará vermelho
Pela misoginia
Pelo ódio declarado às mulheres
Pela falta de incentivo
Para evitar feminicícios
Pela exploração
Pela nova lei que minimiza
A punição por pedofilia

Amanhã um país
Acordará vermelho
Por que com criança não se
“Pinta um clima”
Pinta um crime

Pelos microfones arrancados
Dos jornalistas
Pelas câmeras quebradas
Dos cinegrafistas
Pelos ansiosos dedos
Dos roteiristas

Amanhã um país
Acordará vermelho

Pelos palcos
Não pisados
Pelos filmes
Não realizados
Pela música
Não tocada
Pela arte
Não produzida

Pelo eco, pelo eco da
Voz dos artistas

Amanhã um país
Acordará vermelho
Pelo sangue
Dos animais que perderam
A vida nas queimadas
Pelo ar
Trocado por agrotóxicos e fumaça
Pela floresta
Que não existe mais

Amanhã um país
Acordará vermelho
Pela seringa desviada
Pelo livro censurado
Pela bolsa de estudos
Que perderam os universitários
Pelo menino que deixou a escola
Por que precisava trabalhar
Pela menina que trata um tumor pelo SUS
Pela pesquisa que não foi finalizada e pela que não foi iniciada
Pelos seguidos cortes na saúde, ciência e educação

Amanhã um país
Acordará vermelho
Pela gasolina cara
Pelo carro que
Foi vendido
Pela carne que não
Habita mais a mesa

Hoje
A resistência
Insiste
Persiste

Amanhã
Um país acordará
Um filho da luta
Um filho da fome
Vai voltar

 

Mel Inquieta
(Melina Guterres)

 

No YouTube  | Ato dos Artistas pela Democracia | Santa Maria-RS | out 2022

 

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A guerra é um cão sem coleira por Mel Inquieta https://redesina.com.br/a-guerra-e-um-cao-sem-coleira-por-mel-inquieta/ https://redesina.com.br/a-guerra-e-um-cao-sem-coleira-por-mel-inquieta/#respond Thu, 03 Mar 2022 06:57:27 +0000 https://redesina.com.br/?p=17709 por Mel Inquieta (Melina Guterres) / Impressões sobre guerra   Quem segura esse cão?  Estava passeando com a Flor, minha cocker de 12 anos. Um pastor alemão desgovernado andava pela rua. Ele tinha fugido de uma casa. Seu dono tentava levá-lo, mas ele não respondia aos seus chamados. Eu tentava esconder a Flor atrás de …

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por Mel Inquieta (Melina Guterres) / Impressões sobre guerra

 

Quem segura esse cão? 

Estava passeando com a Flor, minha cocker de 12 anos. Um pastor alemão desgovernado andava pela rua. Ele tinha fugido de uma casa. Seu dono tentava levá-lo, mas ele não respondia aos seus chamados. Eu tentava esconder a Flor atrás de um carro e outro, ao mesmo tempo, tinha pressa para chegar no pet e comprar um remédio antes que a loja fechasse. Estava na esquina da Visconde com a Venâncio Aires. Do outro lado da rua, o Zeppelin Bar Santa Maria recém abrindo as portas com alguns guris na frente. Na esquina seguinte era o Pet.

Ao atravessar a rua, visualizo o pastor correndo em nossa direção, sem se preocupar com os carros do cruzamento. Já chego na frente do Zeppelin gritando por socorro e passando pelos guris, tentando chegar na porta. O cachorro foi muito rápido. Quando vejo, a Flor está caída, chorando. Eu empurrando tudo que estava atrás de nós até ela ficar segura dentro do bar. Os guris chutaram o cachorro e conseguiram impedir algo pior. Fiquei com coração na boca por quase uma hora ainda. Não conhecia os novos donos do bar, mas me sinto com uma dívida impagável. Muito agradecida mesmo. Não sei como seria se eles não estivessem ali naquele momento.

No fim, estamos todos bem. Flor, o cachorro, os guris, eu. O dono do cachorro, depois, pediu mil desculpas. Eu ainda estou no susto aqui, escrevendo e agradecida por estarmos bem e lidando apenas com os instintos dos nossos animais e não de seres humanos chefes de estados capazes de gerar guerra.

Ontem vi uma imagem de um homem correndo com uma criança ferida no colo. Israel teria atacado crianças na Palestina. Vi ataque da Rússia a um prédio na Ucrânia que matou 70 de uma só vez. Lembrei das tantas outras guerras e da sensação de impotência diante delas.

Quem segura esse cão? Esse cão da guerra? Tem coleira pra isso? Que sensação horrível ter que pedir socorro numa esquina de Santa Maria por causa de um cachorro. Imagina numa situação de guerra.

Como o inconsciente processa as imagens de uma guerra?

Sonhei que estava em pequeno barco, navegava por um rio com um bloco de notas, uma câmera. Alguém parecia ajudar na condução. À minha frente, o Caronte remava, fazendo a travessia dos mortos. Um de cada vez. À direita, sentados numa enorme montanha, uma multidão aguardava, jogando moedas para a  passagem.

Eu apavorada, pensava: Como um único Caronte vai fazer a travessia de toda essa gente? Quanto tempo os mortos permanecerão no limbo? A sobrecarga ao Caronte não tinha sido gerado por circunstâncias naturais. O sistema de travessia estava em colapso. Queria ajudar, mas não tinha nenhum poder sobre a situação. A mim só cabia registrar, só tinha a visão, a palavra escrita e uma sensação imensa de impotência. Ontem me emocionei após acompanhar as notícias, entre elas, um ataque da Rússia à Ucrânia que matou 70 de uma só vez, um ataque de Israel à crianças na Palestina. Um homem correndo com uma criança ferida no colo. A população desesperada em volta. Pessoas passando frio e fome.

Como dormir com todas as imagens que nos chegam diariamente? Eu lembro das mesmas sensações em outros ataques e guerras civis. Iraque, Afeganistão, Síria, etc. O povo não tem culpa, toda guerra é estúpida.

Óbolo ateniense cunhado c. 454−404 a.C.. Nele há a efígie de Atena e a coruja. Óbolo de Caronte é um termo alusivo para uma moeda colocada em ou sobre a boca de um defunto antes de seu sepultamento. As fontes literárias gregas e romanas especificam a moeda como um óbolo, e explicam-o como um pagamento para Caronte, o barqueiro que conduzia as almas através do rio que dividia o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Exemplos arqueológicos destas moedas, de várias denominações na prática, tem sido chamados “os mais famosos bens mortuários da Antiguidade”

 

O fim da indústria bélica e do seu capital de morte

Confesso que ainda me sinto bem ignorante para comentar sobre esta guerra. Pra mim, nenhuma se justifica. No entanto, o que tem me chamado atenção são as sanções econômicas como forma de arma, até apelidada como Bomba Nuclear Financeira. A minha estranheza é por que só estou ouvindo esse termo agora que a Rússia ataca a Ucrânia e não nas outra tantas vezes que os EUA invadiam outras nações? Por que cometendo os mesmos crimes contra a vida civil, uns são vistos como heróis e outros vilões? Lamentável ter que ver tanta devastação outra vez. Talvez a maior sanção pela paz que possa haver definitivamente é o fim da indústria bélica e da sua moeda de morte.

Perguntas que não calam e só aumentam.

Eu poderia escrever sobre a invasão da Rússia na Ucrânia, dizer que Putin sentindo-se ameaçado resolveu agir com a mesma ignorância americana e que, por isso, recebeu sanções jamais vistas. Dizer que lembrei das aulas de cinema e de ter ficado chocada ao saber que o governo americano investia bilhões na indústria cinematográfica em roteiros que exaltavam seus heróis, patriotismo e interesses.  Que toda guerra tem seus Joseph Goebbels, para quem não sabe, o antigo Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista. Sempre há uma sociedade que adora comprar ideias absurdas. Fiquei com mais medo do que alívio quando vi que republicanos e democratas levantaram para aplaudir as novas sanções anunciadas recentemente por Joe Biden à Rússia. Pensei: – Pronto, agora os russos vão explodir tudo com suas armas nucleares para provar que os americanos não são os donos no mundo. Que, na verdade, todo mundo sabe que são, afinal quantas guerras realizadas, nações invadidas, mortos e quantas sanções? Alguém já tinha ouvido falar em bomba nuclear financeira? Nunca o mundo todo se uniu contra os EUA em seus ataques como está acontecendo agora contra a Rússia. Também nunca ficou tão evidente que vivemos numa sociedade xenofóbica e racista. As vítimas brancas de olhos azuis tomam as notícias e solidariedade do mundo também de forma não vista em outras guerras e povos. Negros e estrangeiros tem mais dificuldade de sair da Ucrânia. As medidas acalmarão ou ativarão os ânimos? Putin pretende matar o presidente comediante que não abandona seu país?  E este pretende seguir convocando civis para lutar? Por que aviões russos sobrevoam agora a Suécia? Por que meus amigos que estão nessas regiões não respondem? Se Putin queria só um pedaço da Ucrânia, onde estavam os separatistas, por que invadir toda? Hoje vi a cena uma barreira humana de homens civis (todos de 18 a 60 foram convocados para defender o país) para impedir o avanço das tropas russas por terra em uma das cidades da Ucrânia. Se alguém tinha alguma dúvida sobre a soberania deste país, seu povo prova que não. E isso não é marketing pago com impulsionamento.  É orgânico, pago com sangue. Numa guerra é impossível não contar com a morte. Lembrei do sonho que tive esta noite . É tão triste acompanhar estas imagens. É tão preocupante esta situação. Impossível não se perguntar se uma terceira guerra mundial pode estar começando. O que esperar de uma guerra nuclear? A humanidade em extinção?

A guerra é um cão sem coleira!

Caronte: quem é o barqueiro do submundo na mitologia grega?
Na mitologia grega, Caronte (em grego: Χάρων, transl.: Chárōn) é o barqueiro de Hades, que carrega as almas dos recém-mortos sobre as águas do rio Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos

 

Tudo que está acontecendo hoje m fez lembrar do meu texto de minha  estreia numa extinta plataforma de blog (comunique-se) em 2004.
2004:
Ciranda Americana Quando “os poderes” invertem
Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar vamos dar a volta meia, meia volta vamos dar. O anel que tu me destes era de vidro e se quebrou o amor que tinha nele era pouco e se acabou. Portanto seu Iraque entre dentro desta roda diga um verso bem bonito diga adeus e vá embora….
– Não sou perfeito. Sou pobre, mas tenho petróleo. Querem me expulsar do meu território?
Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar vamos dar a volta meia, meia volta vamos dar. O anel que tu me destes era de vidro e se quebrou o amor que tinha nele era pouco e se acabou. Portanto Dona “ONU” entre dentro desta roda, diga um verso bem bonito diga adeus e vá se embora…
– Até quando os anéis serão de vidro? Até quando se quebrarão? Até quando não me ouvirão? O mundo paga o teu erro. O meu amor foi você que não aceitou… faço o que posso, mas o fim foi você que iniciou.
Ciranda cirandinha, vamos todos cirandar vamos dar a volta meia, meia volta vamos dar. O anel que tu me destes era de vidro e se quebrou o amor que tinha nele era pouco e se acabou. Portanto seu jornalista entre dentro desta roda diga um verso bem bonito diga Adeus e vá se embora…
– Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a volta meia, meia volta vamos dar. Até quando vamos dar a volta meia e a meia volta e parar no mesmo lugar? Já era hora de ir embora, volta doida, volta maluca, volta estrangeira, volta americana, até quando matarás?
Pá, pá , pá …..
No dia 3 de maio, 14ª Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), divulgou em seu relatório anual de 2003, que cerca de um terço da população mundial viveu privada da liberdade de imprensa. Segundo ela, 501 veículos de comunicação foram censurados em todo o mundo, 766 jornalistas foram presos, mais de 1.460 foram agredidos ou ameaçados e 130 estão presos neste momento. Os índices aumentam na região da Ásia e do Oriente Médio. Por que será? Ninguém sabe…. Todo mundo sabe, por causa desta guerra miserável, inútil, que só mostra que o ser humano se assemelha cada vez mais com um monstro, sem piedade, compaixão. Grande roda, grande ciranda. Porra de roda, porra de ciranda, me surpreende como existem pessoas que ainda glorificam os Estados Unidos da América. Engraçado seu nome né? Unidos da América? Estados ,,, América.
A América é só os Estados Unidos? Essa ciranda é muito fechada, só pensa em si. Pra que o diferente? Quem a critica, quem a instiga é morto! Quanto será o número de jornalistas mortos pelo governo americano. Oh, oh, oh, não os americanos jamais cometeriam tal crime. Eles jamais passaram esta imagem, só que agora pegaram um presidente diferente, que não consegue organizar o que fica “por trás dos panos”. Um presidente que quer ser herói mas planta ódio. E o povo americano é inocente? Será só culpado seu presidente? a maioria votou a favor da guerra. O anti-americanismo cresce e os americanos justos ou não, corruptos e crianças, estudantes e doentes, a favor e contra a guerra…todos, todos, todos sofrem e sofrerão as consequências da ciranda americana.
Mas, enfim, o que mais me surpreende é a evolução da mídia americana, finalmente atacando o próprio governo. Nos últimos dias jornais americanos noticiaram a violência e a humilhação que sofrem os presos iraquianos nas mãos dos soldados dos Estados Unidos da América.
Oh, oh, oh, os americanos não são tão bonzinhos assim? Oh, oh, oh, quem é o herói agora?
A minha dúvida é o que aconteceu com a mídia americana, será que endoideceu? Sempre fora vista como grande auxiliar do governo – a população tinha que buscar informações fora para saber os verdadeiros fatos da guerra. Pobre povo americano, tanta liberdade de imprensa, tão democrático, tão confuso, tão perdido, sem rumo, sem sentido e agora sem herói. Será a mídia o mocinho ou o vilão? Ou será que jornalistas americanos também estão sendo mortos, presos, ameaçados, violentados?
Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar, vamos dar a volta meia, meia volta vamos dar, o anel que tu me destes era de vidro e se quebrou. O amor que tinha nele era pouco e se acabou, portanto, Presidente Bush, entre dentro desta roda diga um verso bem bonito, diga adeus e vá embora!

Paz!

 

(Melina Guterres / Mel Inquieta)

Jornalista, poeta e criadora da Rede Sina.

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A MULHER DO FIM DO MUNDO DISSE ‘NÃO!’ https://redesina.com.br/a-mulher-do-fim-do-mundo-disse-nao/ https://redesina.com.br/a-mulher-do-fim-do-mundo-disse-nao/#respond Fri, 28 Jan 2022 01:07:37 +0000 https://redesina.com.br/?p=17430 POR MELINA GUTERRES / MEL INQUIETA Publicado originalmente em REVISTA ISTOÉ em 27/01/2022   Recentemente vimos uma série de abordagens românticas sobre o fato de Elza Soares ter falecido no mesmo dia (20 de janeiro) que seu ex-marido, o ex-jogador de futebol Mané Garrincha, exatamente 39 anos depois. “Ela foi encontrar seu grande amor”, muitos dizem, mas …

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POR MELINA GUTERRES / MEL INQUIETA

Publicado originalmente em REVISTA ISTOÉ em 27/01/2022

 

Recentemente vimos uma série de abordagens românticas sobre o fato de Elza Soares ter falecido no mesmo dia (20 de janeiro) que seu ex-marido, o ex-jogador de futebol Mané Garrincha, exatamente 39 anos depois.

“Ela foi encontrar seu grande amor”, muitos dizem, mas por que Elza Soares não pode viver um grande e saudável amor em vida? Aliás, por que tantas mulheres como ela, precisam escolher entre amar e sobreviver?

Por que a Elza vinda do Planeta Fome, a voz que calou a plateia que ria da pobreza no programa de rádio de Ari Barroso, que cantou para não perder mais filho por conta da desnutrição, que foi obrigada a casar com 12 anos, por que essa mulher, neta de escravos, que lidou com tantas perdas, ainda teve que lidar com a violência doméstica?

Garrincha, seu grande amor, seu grande agressor, faleceu de cirrose hepática pouco tempo após a separação do casal, depois de 16 anos juntos. Eles, no auge de suas carreiras, tiveram que sair do Brasil com os filhos após terem a casa metralhada no período da ditadura militar. No exterior, Garrincha não tinha o mesmo prestígio e oportunidades para jogar. Generosa e sensível, com uma carreira em ascensão, ela tentou cuidar e ser compreensiva com ex-marido que estava em declínio e não conseguia sair do alcoolismo.

Elza era criticada e até mesmo chamada de bruxa ciumenta por parte dos amigos de Garrincha. Nem ela, nem Garrincha tiveram um Estado que os amparasse. Tiveram  sim, um Estado que tentou assassiná-los. Ela nunca perdoou a ditadura pelo que fizeram com suas vidas. Em 2014, em seu artigo “A Copa que não comemorei”, conta sobre a frustração de Garrincha não ter jogado a Copa de 70. “Passados 50 anos do golpe, ninguém jamais tomou nenhuma atitude sobre o que nos aconteceu naquele 1970, e eu continuo brigando pelo Mané, até hoje. Quando eu canto “Meu Guri”, canto com muita força, e essa é uma maneira que eu tenho de cantar uma música do Chico, mas homenageando o Mané. Eles são os dois guris de “my life”.”Inclusive, a última publicação do canal de Youtube de Elza antes do seu falecimento é um vídeo dela com Agnes Nunes cantando a canção.

A ditadura não justifica a violência cometida por ele contra Elza. Se assim fosse, todos os exilados e vítimas de torturas atentariam contra suas companheiras.

Elza, além de enfrentar a ditadura, poderia ter sido mais uma vítima fatal de violência doméstica. É preciso lembrar, mais do que o amor entre os dois famosos, que Elza sobreviveu ao conturbado relacionamento cheio de traições e violência porque há exatos 39 anos, apesar de amar muito, ela disse: Não! Recordar e reforçar que foi justamente a separação que a fez viver até os 91 anos.

As marcas da violência de Garrincha contra Elza estão registradas em entrevistas, em documentários e mesmo na arte de Elza, que nos seus últimos álbuns fez da arte um grande serviço à população.

O álbum “A Mulher do Fim do Mundo”, seu primeiro disco só com canções inéditas, lançado em 2015, traz diversas canções sobre o universo das mulheres, entre estas a canção “Maria da Vila Matilde”, composição de Douglas Germano, e que reflete o retrato do problema da violência doméstica contra as mulheres no Brasil.

A canção que tem como refrão principal  “Cê vai se arrepender de levantar a mão prá  mim”, também possui um toque pessoal de Elza

“Mão, cheia de dedo
Dedo, cheio de unha suja
E prá cima de mim? Prá cima de moi? Jamais, Mané!

E nestas quase quatro décadas, o que evoluiu para mudar situações como esta? Por que os índices de violência contra mulher ainda são tão grandes a ponto de o Brasil ser considerado o quinto país no mundo onde mais se mata mulheres? Por que o país segue cheio de Garrinchas? Por que a violência segue banalizada e até mesmo romantizada? Que sociedade é essa que ensina as mulheres a tolerarem tanto? Que desconhece e ainda demoniza o feminismo?

Felizmente, ainda que timidamente, vemos por parte da justiça e de alguns grupos, a reeducação dos homens agressores e de outros que buscam debates por uma masculinidade mais saudável. O documentário “Silêncio dos Homens”, traz importantes relatos sobre estas questões.

Há muitas cobranças e julgamentos também às mulheres que permanecem em situação de violência. Condená-las não é solução. É preciso um Estado e um amparo social para tratar o casal e toda uma família que vive em situação de violência.

A promotora Gabriela Manssur, em entrevista/live a Istoé, relata que as vítimas começaram a pedir para ela conversar com seus maridos agressores. O apelo das mulheres fez com que a promotora criasse um projeto de atendimento a eles, o que posteriormente virou lei. Os números de reincidentes diminuíram mais do que a prisão. Uma prova que reeducar é possível.

Hoje, é necessário discutir políticas públicas que tratem não apenas a violência, mas também a consciência do machismo estrutural e suas sequelas, seja em instituições públicas, privadas, campanhas publicitárias, novelas, filmes, fóruns, salas de aula e desmistificar a ideia errônea do feminismo.  Talvez, ir além, institucionalizar o feminismo, tornando-o disciplina obrigatória em escolas e até mesmo em concursos públicos.

A reeducação precisa ser coletiva, social. Não basta combater a violência, é preciso ensinar a viver de forma igualitária.

Quem sabe assim, no futuro, com uma sociedade mais consciente, um Estado preparado para dar amparo, Elzas e Garrinchas possam viver relação mais saudável, menos tóxica, juntos até o final.

Enquanto isso, vale reforçar que o 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos.

Em caso de violência, denuncie! E se você é um vizinho, amigo, estranho que esteja presenciando uma situação de violência, meta a colher, denuncie!

Assista Elza cantando “Maria da Vila Matilde”

Escute o álbum “A mulher do Fim do Mundo”

https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_ljuTdv2L0hDvvE28v5LPbwI80H9LlbiH0

 

 

 

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MADRUGADA INQUIETA | DOIS FILMES PARA PENSAR SOBRE NOSSOS TEMPOS https://redesina.com.br/madrugada-inquieta-dois-filmes-pra-pensar-sobre-nossos-tempos/ https://redesina.com.br/madrugada-inquieta-dois-filmes-pra-pensar-sobre-nossos-tempos/#respond Mon, 27 Dec 2021 04:56:09 +0000 https://redesina.com.br/?p=17097 por Mel Inquieta / Melina Guterres Quem trabalha com conteúdo sabe que uma vírgula pode mudar todo sentido de uma frase. Imagina quem trabalha com dados. O filme “Dilema nas Redes” mostra bastante o conflito ético de profissionais que entendem bem de inteligência artificial e o tanto quanto ela é nociva. Fake news dão mais …

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por Mel Inquieta / Melina Guterres

Quem trabalha com conteúdo sabe que uma vírgula pode mudar todo sentido de uma frase.

Imagina quem trabalha com dados. O filme “Dilema nas Redes” mostra bastante o conflito ético de profissionais que entendem bem de inteligência artificial e o tanto quanto ela é nociva. Fake news dão mais lucro para empresas que notícias verdadeiras. E quem já está careca de saber de tudo isso e assistiu “Não olhe para cima” deve estar batendo palmas no seu sofá. O filme disponível somente na Netflix é uma sátira a todo negacionismo. Com grande elenco como Leonardo DiCaprio e Meryl Streep, impossível não associar o filme de Adam McKay com os governos Trump e Bolsonaro em relação ao Covid.

A sátira apocalíptica mostra o desdém dos governos com a ciência, a supervalorizaçâo do supérfluo. No filme um cometa capaz de destruir a Terra é anunciado pelos cientistas. Na realidade se os governos tivessem tomado medidas preventivas e comprado vacinas antes, não teríamos tantos números de mortos por Covid.

O negacionismo parece tão ilógico assim como os grupos que voltam a afirmar que a Terra é plana.

No entanto não dá pra avaliar esses tempos sem debater a Inteligência Artificial, sua capacidade de segmentar e influenciar grupos.

Os dados que “O Dilema das Redes” traz mostra um mundo cada ano mais polarizado. Cada pessoa recebe informações conforme seus gostos pessoais e assim vão formando seus grupo, alguns catastróficos capazes de promover a violência e assassinatos em massa.

Os algoritmos não são capazes de distinguir certo de errado, mas induzem e fomentam qualquer lado. São números, bolhas de informações. Por mais que as tecnologia avancem, a Inteligência Artificial serve para quem?

Não existe bem e mal. Existem várias verdades e o capitalismo acima de tudo.

O ódio, as fake news, geram engajamento e lucro.  Nenhuma novidade para indústria bélica, que lucram a cada nova guerra. A morte, violência dá visibilidade, pergunte para qualquer editor de site de notícias.

A questão é como sair dessa bolha lucrativa da banalidade do mal.

As máquinas fomentam o que cada um propaga. Umberto Eco que faleceu em 2016 já dizia  “As redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho e não causavam nenhum mal para a coletividade. Nós os fazíamos calar imediatamente, enquanto hoje eles têm o mesmo direito de palavra do que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”.

Os “imbecis” desse tempo crescem com a ajuda da Inteligência Artificial. A pós-verdade, (capacidade das emoções sobrepor-se à verdade), impera.

Mas ela também não é novidade. Na Alemanha nazista, as pessoas se deixaram influenciar e quase exterminaram o povo judeu.

Hanna Arendt, em sua obra Eichmann em Jerusalem, diz que o nazista Adolf Eichmann, um dos responsáveis pelo transporte dos prisioneiros judeus para os campos de concentração, que levaria milhões de pessoas aos mais diversos tipos de torturas e à morte, disse em seu julgamento que apenas cumpria ordens.  Hanna ainda diz: O problema com Eichmann era exatamente que muitos eram como ele, e muitos não eram nem pervertidos, nem sádicos, mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais. Do ponto de vista de nossas instituições e de nossos padrões morais de julgamento, essa normalidade era muito mais apavorante do que todas as atrocidades juntas, pois implicava que […] esse era um novo tipo de criminoso, efetivamente hostis generis humani, que comete seus crimes em circunstâncias que tornam praticamente impossível para ele saber ou sentir que está agindo de modo errado”.

Os filmes “Não olhe para Cima” e “O dilema das redes” disponíveis na Netflix, nas suas diferentes narrativas e críticas pautam muito bem a questão da pós-verdade e questionam sem dúvida o que é o modo certo e errado de agir nos dias de hoje.

Zygmunt Bauman, que faleceu um ano depois de Eco, e chamou os tempos atuais de Modernidade Líquida dizia “na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável”.

Como Bauman, os profissionais que prestam depoimento no filme “Dilema das Redes”, dizem exatamente o mesmo. Todos são produtos. A “invasão dos imbecis” de Eco está desenhada nas cenas de “Não olhe para cima”. E infelizmente a banalidade do mal apontada por Hannah segue bem presente em todo o mundo.

A pergunta que faço é :

Enquanto a ignorância for moeda, que futuro teremos?

Fica a dica de dois filmes para assistir  e 3 autores para ler neste fim de ano e rever e reler nos anos seguintes.

 

SINOPSE: 

Dois astrônomos descobrem que em poucos meses um meteorito destruirá o planeta Terra. A partir desse momento, eles devem alertar a humanidade por meio da imprensa sobre o perigo que se aproxima.

P.S: Em Não Olhe para Cima tem duas cenas pós créditos, assistam!

SINOPSE: 

Especialistas em tecnologia do Vale do Silício soam o alarme do perigoso impacto das redes sociais na democracia e na humanidade como um todo.

AUTORES:

Hannah Arendt, na Universidade de Chicago em 1966. © ART RESOURCE / HANNAH ARENDT BLUECHER LITERARY TRUST

Hannah Arendt

Judia nascida na Alemanha, Arendt vivenciou os horrores da perseguição nazista, o que motivou a sua pesquisa sobre o fenômeno do totalitarismo. … Suas principais obras são “As Origens do Totalitarismo”, “Eichmann em Jerusalém”, “Entre o Passado e o futuro” e “A Condição Humana”.  Segundo Hannah Arendt, a banalidade do mal é o fenômeno da recusa do caráter humano do homem, alicerçado na negativa da reflexão e na tendência em não assumir a iniciativa própria de seus atos. O ser contemporâneo se relaciona com a imagem fabricada de si, distanciando-se cada vez mais de sua essência humana.

 

UMBERTO ECO

 

Umberto Eco 

(1932-2016) foi um escritor, professor, filósofo e crítico literário italiano. Autor do best-seller “O Nome da Rosa”, exerceu grande influencia nos círculos intelectuais de todo o mundo, nas décadas de 60 e 70, por sua teoria da “obra aberta” e outras pesquisas na área da estética e da semiótica. Eco defendia que era impossível lidar com a interpretação sem analisar a percepção (que era a base de todo o processo), a cultura, a tradução etc.

 

Zygmunt Bauman

 

Zygmunt Bauman

Sociólogo polonês, utilizou o conceito de “Modernidade Líquida” (ou “Pós-Modernidade”) como forma de explicar como se processam as relações sociais na atualidade. Esses seriam, para ele, justamente, os traços essenciais das relações sociais na atualidade.  Assim, duas das características da modernidade líquida são a substituição da ideia de coletividade e de solidariedade pelo individualismo; e a transformação do cidadão em consumidor

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Quando toda uma cidade perde https://redesina.com.br/quando-toda-uma-cidade-perde/ https://redesina.com.br/quando-toda-uma-cidade-perde/#respond Wed, 22 Dec 2021 09:18:32 +0000 https://redesina.com.br/?p=17057 Por Melina Guterres / Mel Inquieta Depois de 35 anos um arcebispo recém chegado em Santa Maria-RS,  simplesmente transfere uma das personalidades mais importantes da cidade e ainda para uma região de conflito agrário. Tenho certeza que a irmã Lourdes certamente pode ser a próxima irmã Dorothy. Pela sua força, convicção e sim pela capacidade …

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  • Por Melina Guterres / Mel Inquieta

Depois de 35 anos um arcebispo recém chegado em Santa Maria-RS,  simplesmente transfere uma das personalidades mais importantes da cidade e ainda para uma região de conflito agrário.
Tenho certeza que a irmã Lourdes certamente pode ser a próxima irmã Dorothy. Pela sua força, convicção e sim pela capacidade de defender uma causa e dar a vida pelo próximo.
Agora como todo e velho patriarcado,  a decisão veio depois do trabalho de uma mulher se destacar, ganhar as telas de todo país em sua principal emissora. Querem os homens o ônus de 35 anos de trabalho de uma mulher?

Ora, qual o risco que a Irmã Lourdes representa?
Uma força imensa numa economia que vai a contramão do capitalismo? Uma freira  com posicionamentos fortes e solidários.

Por que tirá-la da sua região, aquela a qual ajudou a tornar a capital da economia solidária na América Latina?
Por que tirá-la dos merecidos holofotes aos seus 70 anos? Por que transferi-la justo no ano que deve comemorar os 30 anos do Feirão Colonial? Algo assim chega beirar à maldade.

Irmã deve ir em abril ainda às vésperas das campanhas eleitorais de 2022.

Ah esses homens tão cheio de poderes e interesses  Ah esses pequeninos homens que precisam “tirar o tapete” de uma grande mulher para provarem sua infinita inferioridade.

Quantos será que são e que nomes terão?

Que  grande perda para Santa Maria.

#FicaIrmaLourdes
#FicaIrmaLourdesDill

 

#FicaIrmaLourdes

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CABELOS BRANCOS E AS PEQUENAS REVOLUÇÕES COTIDIANAS por Mel Inquieta https://redesina.com.br/cabelos-brancos-por-mel-inquieta/ https://redesina.com.br/cabelos-brancos-por-mel-inquieta/#respond Fri, 01 Oct 2021 09:57:09 +0000 https://redesina.com.br/?p=16155 Quando criança achava estranho que na televisão somente os homens ficavam grisalhos. O envelhecimento masculino é “um charme” bem aceito. Já a “permissão” dos cabelos brancos das mulheres é tão recente que chega a beirar a novidade. Acompanhamos o envelhecimento dos apresentadores e as tentativa de muitas mulheres seguirem cada vez mais jovens. Há pouco …

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Quando criança achava estranho que na televisão somente os homens ficavam grisalhos. O envelhecimento masculino é “um charme” bem aceito. Já a “permissão” dos cabelos brancos das mulheres é tão recente que chega a beirar a novidade.

Acompanhamos o envelhecimento dos apresentadores e as tentativa de muitas mulheres seguirem cada vez mais jovens. Há pouco tempo era quase impossível visualizar mulheres assumindo seus cabelos brancos, principalmente na televisão.

Fato é que não fomos naturalizados a aceitar o processo de envelhecimento. Os antigos contos de fadas trazem referências de mulheres idosas capazes de maldades para ter a juventude de volta.

O faturamento do mercado de beleza no Brasil cresce ano a ano, atingindo a marca de 29,62 bilhões de dólares em 2019, conforme dados da Euromonitor. Isso faz dele o quarto maior mercado mundial de cosméticos e cuidados pessoais, atrás apenas de Estados Unidos, China e Japão. Já dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica mostram que mais de 1,5 milhão procedimentos estéticos são feitos no Brasil todos os anos. 

Certo, errado? Não sei, mas parece que a imagem escraviza, sacraliza e incomoda quando está fora do senso comum. O homem que pinta os cabelos às vezes vira alvo de piadas, deboches. As mulheres que não pintam, estão “se descuidando”. No entanto, alguns preconceitos parecem diminuir. Um relatório da Research & Markets aponta que o mercado mundial de beleza masculina deve crescer de 57,7 bilhões de dólares, em 2017, para 78,6 bilhões de dólares até 2023. 

Belezas à parte, vivemos taxados como se fossemos produtos na fileira de um supermercado. E sem ironia, talvez sejamos isso mesmo, uns mais bem aceitos e consumidos que outros conforme ditam certos padrões de um período histórico.

Agora ainda vivemos a era dos filtros nos aplicativos. Embelezamentos a palma da mão em nossos celulares e casos de pessoas que chegam em clinicas estéticas pedindo para ficarem iguais a como os filtros deixaram suas imagens. Em 2016,  dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP),  apontam que dos quase 1,5 milhão de procedimentos estéticos feitos naquele ano, 97 mil (6,6%) foram realizados em pessoas com até 18 anos de idade, tornando o Brasil  líder mundial no ranking de cirurgias plásticas em jovens. Somente nos últimos dez anos, houve um aumento de 141% no número de procedimentos entre jovens de 13 a 18 anos, segundo a SBCP. Entre as cirurgias mais procuradas estão os implantes de silicone, a rinoplastia e a lipoaspiração. 

Qual será o futuro e a insatisfação das próximas gerações se seguirmos sendo apenas consumidores e pouco questionadores do nosso tempo?

Vale lembrar que a ressignificação de certos valores podem ter um importante meio de comunicação como aliado: o cinema! Quem não lembra Meryl Streep vivendo a poderosa Miranda Priestly no filme O Diabo Veste Prada (2006)?  Na época Meryl tinha 57 anos e ela mesma optou pelo então emblemático cabelo branco representado naquela forte figura de poder que era sua personagem. Em entrevista, atriz conta a inspiração veio de através da modelo e atriz Carmen Dell’Orefice, que nos anos 1960, com quase 40 anos, após seu próprio marido arrancar um de seus fios brancos, ela indignada, decidiu nunca mais pintar os cabelos e se tornou uma referência de força e empoderamento feminino sempre recordada no meio da moda. 

Um relatório divulgado pela Mintel, empresa inglesa especializada em pesquisas de mercado, revelou que, em 2018, 68% das mulheres entre 25 e 64 anos já consideravam aceitável ter cabelos grisalhos. A naturalização dos brancos é mais comum na Europa mas no Brasil  já vemos várias atrizes, jornalistas, modelos e mulheres de diversas idades assumindo cada vez mais seus brancos e até recebendo comentários ofensivos por isso.

Há uns 20 anos a mãe de um amiga comentou que assistiu a entrevista de uma professora de teatro minha. Era da Olga Reverbel, então dama do teatro gaúcho. Na ocasião questionavam se ela faria plástica e, que Olga teria respondido, que havia pensando muito sobre mas que optou por “não mudar nada no mapa da minha vida”.  E que essa sua fala, a teria feito desistir de realizar também um procedimento.

Esse tipo de consciência que sim deveria ser imortal. Já as referências de cabelos brancos pude ter privilégio de ver minha vó, mãe, suas amigas e tantas outras mulheres vivendo sem medo de esconder o tempo. Que as “bruxas” sempre consigam voar mais alto que o patriarcado e a sociedade que vive as consumir e desfazer da sua própria natureza.

Melina Guterres é fundadora da Rede Sina, jornalista, diretora, roteirista, poeta e inquieta.
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Pensemos numa ala da empatia…. por Mel Inquieta https://redesina.com.br/pensemos-numa-ala-da-empatia-por-mel-inquieta/ https://redesina.com.br/pensemos-numa-ala-da-empatia-por-mel-inquieta/#comments Thu, 15 Jul 2021 01:39:49 +0000 https://redesina.com.br/?p=15367 Nos conhecemos por algumas horas. Pela manhã dei bom dia ao levantar. Logo ele levantou também, veio conversar comigo e com os demais pacientes que dividiam a mesma sala do Pronto Socorro. Fabiano, um rapaz gordinho que aparentava uns 40 e poucos anos, contou que era de Jaguari. Teve um enfarte e veio de ambulância …

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Nos conhecemos por algumas horas. Pela manhã dei bom dia ao levantar. Logo ele levantou também, veio conversar comigo e com os demais pacientes que dividiam a mesma sala do Pronto Socorro.

Fabiano, um rapaz gordinho que aparentava uns 40 e poucos anos, contou que era de Jaguari. Teve um enfarte e veio de ambulância de Jaguari até Santa Maria. Contou que adorava uma carne gorda e agora ia ter que começar a se cuidar. ““Há tempos sentia uma dor no braço esquerdo, mas não achei que fosse nada sério. A gente vai deixando… acha que não é nada, né?” Ao meu lado, outro senhor com problemas no coração também trocava uma ideia com o rapaz. Lembrei das pesquisas a apontar  que os homens tendem a procurar mais tardiamente os médicos e morrem mais cedo  do que as mulheres.
Não deu 1h, Fabiano enfartou na nossa frente. Só ouvia sua esposa dizer: “respira amor”, repetidas vezes. Logo chega a equipe de saúde do hospital, tendo que afastar com pressa a maca a senhora de São Luiz Gonzaga, assustando a mim, mais dois pacientes e seus acompanhantes que dividem a mesma sala apertada do Pronto Socorro do Hospital de Caridade. O rapaz é levado à sala ao lado. Impossível não se emocionar com a situação e o choro da sua esposa que podia ser ouvido no corredor. “Respira, respira, respira!” Numa súplica como se a sua voz, sua fala pudesse mudar aquela situação.
Fico com 3 idosos e 2 acompanhantes em estado de nervos, pedindo água. Levantei, começo a conversar com as pessoas e, numa tentativa de tentar acalmar o ambiente, pergunto se alguém queria ouvir poesia. Descubro então, que a senhorinha de São Luiz Gonzaga, a qual teve a maca empurrada para dar passagem ao Fabiano, é uma professora de Letras, aposentada, prima de um grande poeta gaúcho. A filha dela também escreve poesia e o neto cursa Letras.
Depois fui buscar água. A esposa do Fabiano chorava no corredor. Não a tinha visto antes, apenas escutado a sua voz. Perguntei se era ela que estava no quarto e disse que o seu marido fora muito simpático conosco. “A gente estava junto há 23 anos. Ele sempre foi assim, gostava de conversar com todo mundo”. Sem pensar, abracei a ela que estava só. E ela me abraçou como quem se segura para não cair.
Eu sinto muito – disse.
Logo ela foi chamada para ver o corpo do marido, voltei para minha maca, conversei mais um pouco com meus “colegas” de quarto. E como ontem, olhei para paredes acinzentadas, imaginei-as repletas de poemas, uma sala de estar onde as pessoas que necessitam desse ambiente possam ter mais oportunidade de troca e a gentileza uma com as outras, algo tão importante no processo de cura seja entre pacientes e trabalhadores da saúde.

P.S: Desde ontem aguardando leito, mesmo com plano de saúde. Uma tristeza ver um hospital como o Caridade num estado de calamidade. Além disso, seria importante um psicólogo para acompanhar os pacientes e acompanhantes, ainda mais depois de verem alguém morrer diante deles. Pode ser habitual para os profissionais da saúde, mas não é a rotina de quem não atua na área.

O que faço aqui? Exames, crise alérgica. Mais, só o tempo dirá.

No face:

 

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Ressonância social por Mel Inquieta https://redesina.com.br/ressonanciasocial-por-melinquieta/ https://redesina.com.br/ressonanciasocial-por-melinquieta/#respond Wed, 30 Jun 2021 18:36:39 +0000 https://redesina.com.br/?p=15226 Ontem ao fazer um exame de ressonância, o técnico me informou que eu deveria manter os olhos fechados durante 30 minutos, principalmente na hora em que o barulho aumentasse. Deitei, me colocaram dois fones de ouvido, mobilizaram meu pescoço com um aparelho de metal, colocaram na minha mão esquerda uma campainha para tocar caso me …

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Ontem ao fazer um exame de ressonância, o técnico me informou que eu deveria manter os olhos fechados durante 30 minutos, principalmente na hora em que o barulho aumentasse.

Deitei, me colocaram dois fones de ouvido, mobilizaram meu pescoço com um aparelho de metal, colocaram na minha mão esquerda uma campainha para tocar caso me sentisse mal. Logo vi meu corpo entrando naquela máquina. A sensação de claustrofobia é enorme, impossível não associar com um caixão. Perguntei se havia uma música zen para colocar, o técnico me disse que antes tinha, mas o Ecad (Escritório Central de Arrecadação – um órgão privado, fundado em 1976 para arrecadar os direitos autorais de cada música executada) apareceu querendo cobrar a reprodução por dia. Pensei: que insensibilidade do Ecad, ainda mais nesses tempos. Eu já paguei eles para um evento, mas jamais imaginaria que pudessem cobrar num local desses.

Entrei sem música, lembrei da personagem de um dos meus contos que revisa suas memórias num estado quase que vegetativo. Ali, eu não podia me mover nem ver, só lidar com meus pensamentos.
A máquina começa a emitir um som estridente, fecho os olhos. Quanto mais ele aumenta mais sinto raiva do Ecad. O técnico disse que eu poderia abrir os olhos nos breves intervalos entre um som e outro.

Momentos que pareciam um respiro naquele afogamento sonoro.

Uma nova “trilha” começa, aquela sequência de sons repetitivos pareciam uma série de tiros, uma metralhadora. Lembrei do seu Júlio, motorista de aplicativo, que me contou que foi aposentado pelo exército por ter ficado quase surdo de um ouvido. “Eu atirei demais, o médico disse que devo ter dado mais de 50 mil tiros”, disse. Logo me veio uma imagem que há pouco tinha visto,  a do corpo do Lázaro Barbosa,  o spree killer recentemente morto numa “caçada” quase que medieval.

O barulho da máquina de ressonância aumentavam e com ele as memórias de uma sociedade que comemorava um assassinato com buzinas e dancinhas. A imagem dele não desaparecia, parecia encostar na minha pele, como se fôssemos um. Eu não sou o Lázaro! Era a vontade que eu tinha de gritar! Tentava mudar de pensamento, mas não conseguia,

essa sina de me colocar no lugar do outro é tão forte quanto a minha razão.

Sofri pelas vítimas que ele fez, pela mãe que o pariu, pela sociedade que comemora mais o assassinato que a recuperação moral de um criminoso. Enquanto aqueles sons aumentavam e diminuíam, lembrei do documentário que fiz sobre a reabilitação de jovens infratores, da fala do diretor do Case (Centro de Atendimento Sócio-Educativo / antiga Febem), do orgulho que ele e os funcionários sentiam ao dizer que um dos meninos foi parar na França pelas cestarias que aprendeu a fazer em umas oficinas dentro da instituição. Lembrei também das notícias dos modelos de prisão na Europa, onde eles devolvem a dignidade do ser humano os ensinando, e que estes modelos de prisão tem os mais baixos números de reincidentes, e da tantas prisões fechando por falta criminosos nestes países.
Também me vieram imagens de milhares de notícias de mulheres assassinadas pelos companheiros. Do arcabouço social onde uma patroa é incapaz de cuidar do filho da sua empregada. Do menino Miguel em busca da sua mãe, da cidade que não ouviu o menino Bernardo e permanecerá sempre sob o véu da culpa.
São muitas falhas estruturais, que ajudam a reforçar que antes de tudo é

preciso reabilitar a empatia.

O exame acaba, saio meio tonta. Retiram o aparelhos e me perguntam.
– Você está bem?

Não estava, mas fiquei pensando: será que não é essa a pergunta que falta para começarmos a mudar cada dia?

 

O FRIO, AS RUAS E UM MORADOR AQUECIDO PELOS SEUS CÃES

Pouco antes de chegar no local do exame médico, num dia gelado que não chegava a fazer 10 graus, vejo um rapaz dormindo na rua apenas com uma coberta bem leve. Junto a ele, dois cães dormem. Peles que se aquecem tanto quanto um pedaço de pano. Estou no carro, não podia parar, nem perder o horário do exame. Bato uma foto, mando-a para um colega da prefeitura e um outro da imprensa, indicando o local. Quando deixo o exame, recebo mensagens sobre a repercussão da imagem. Nos comentários, várias pessoas sensibilizadas e uma questionando justamente o ato de fotografar. Embora o jornalismo cotidiano não faça parte da minha rotina, me vi no lugar dos meus colegas que todo dia são duvidados e questionados em sua profissão, seja nas redes sociais ou mesmo na rua.

Recentemente a prefeitura fez um encaminhamento de diversos moradores de rua à casa de passagens, mas vale lembrar também que muitas dessas pessoas também precisam de assistência para cura de seus vícios.

E curar um vício vai muito além de uma internação. É preciso resgatar a dignidade.

Julgar suas razões por insistirem em permanecer nas ruas, não trazem soluções. E esse resgate pode vir das esferas públicas, privadas e, acima de tudo, de educação mais empática da sociedade.

 

AS FOTOS

Morador de rua dorme na Av. Presidente Vargas próximo a Floriano Peixoto com seus cães em 29 de junho de 2021 em Santa Maria-RS quando a temperatura na cidade não atingia 10 graus.

Cedida para o portal parceiro da Rede Sina, Paralelo 29.

 

PUBLICADO EM:

 

REVEJA NA REDE SINA

 

Bate-papo: Reinaldo Santos (live)

BOCA DE RUA

 

DICA:
O Jornal Nacional recentemente fez uma sensível campanha mostrando um pouco da vida de jornalista.

 

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