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Contos aos Cantos: A Caixa por Rossana Cantarelli Almeida

(Conselho: Leia esse texto escutando a música acima)

Entrei no meu antigo quarto, na casa dos meus pais, para pegar uma manta que minha mãe havia pedido e que estava no armário. Não morava mais com eles há anos. Mas minha mãe nunca desfez meu quarto. Talvez porque os pais sempre estão prontos para nos receber de volta.
Mexendo no armário, encontrei a caixa. A caixa das memórias do meu primeiro namorado, minha primeira paixão, meu primeiro amor.
Peguei-a no colo e sentei na cama. O papel que eu havia encapado a caixa estava velho e rasgado. Era de uma estampa de ursinhos rosas e corações.
Abri a caixa.
Sorri.
Uma explosão de lembranças inundou minha mente. Tinha tantos bilhetinhos apaixonados, cartas de reconciliação, fotos nossas (tão jovens), flores secas dentro de envelopes. Cada detalhe tão bem guardado. Cada detalhe tão vivo. Cada detalhe tão intenso num momento que foi eternizado pela caixa.
Quanta discussão boba, quantos presentinhos de “dia de qualquer coisa” que inventávamos. A inocência do primeiro amor foi a saudade que senti. E quando acaba esse amor, parece que nunca mais encontraremos outro.
Olhando para os objetos, dei-me conta que podemos ser felizes muitas vezes. E que nenhum amor é igual ao outro, mas todos são intensos, vivos, loucos, apaixonados.

Não tive saudades de ninguém, tive saudades do que senti quando vivi aquele amor, hoje tão distante, e, agora, tão presente na minha memória por essa descoberta.
A lembrança do primeiro amor é eterna, como a lembrança de tudo que sentimos pela primeira vez. E ele estava ali, guardadinho, à espera da caixa ser aberta para revivê-lo 13552617_10209747906596011_634064412_nnovamente. Reviver o sentimento do amor inocente e, ao mesmo tempo, cálido.
Fechei a caixa desbotada. Alisei-a por um tempo. Sorri e a coloquei de volta no seu lugar. Lugar dela. Lugar das minhas recordações. Lugar de uma menina que amou, sofreu, se apaixonou e, hoje, é uma mulher madura com histórias para contar. E algumas delas, estão ali, na caixa. Deixe-as ali. No lugar delas, pois estão muito bem guardadas. E se um dia eu precisar me resgatar novamente, sei que poderei entrar no meu antigo quarto, na casa dos meus pais, pegar a caixa, abri-la e lembrar-me, não da pessoa que amei, mas o que me tornei por amá-la um dia.

 

Rossana Cantarelli Almeida

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É gaúcha de Santa Maria, tem 42 anos. Advogada e Analista Jurídica da Procuradoria Geral do Estado. Casada com Marcelo há 9 anos. Mãe do Cassio, 5 anos; madrasta do Arthur, 15 anos.
Mesmo quando tudo parecia perfeito em sua vida, alguma coisa a angustiava. Sem saber direito o que era, e em confidências com seu marido, ele lhe disse uma noite: apaixone-se por você!
E foi então que Rossana começou a escrever. Sua história foi tomando forma; personagens, diálogos, dramas iam surgindo na sua mente. Até que nasceu “Apenas Respire – Rock e perfume: paixão no ar”, seu primeiro romance, publicado pela Editora Multifoco e lançado em junho de 2016. Já tem outros dois livros escritos, à espera de publicação.
Agora é colunista do site Rede Sina, com a coluna quinzenal “Contos dos Cantos”, onde escolherá uma música e escreverá um conto embalado por ela.

Encontre o livro da  autora em: http://editoramultifoco.com.br/loja/product/apenas-respire/ Também à venda na livraria Athena em Santa Maria.

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