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Uma cidade presa no tempo, por Artur Sponchiado

“Entre as matas, os vales e os rios…”, assim começa o hino de um pequeno município que, desde 1919, se mantém como um lugar pacato e tranquilo. À primeira vista, assemelha-se a muitas outras pequenas cidades: segura, honesta e ingênua. No entanto, uma análise mais aprofundada revela complexidades ocultas e desafios sociais que se desenrolam “por trás dos panos”.

A natureza exuberante desse lugar é, sem dúvida, um de seus maiores trunfos; um verdadeiro paraíso para os amantes da tranquilidade e da vida simples. Contudo, a beleza natural contrasta fortemente com a mentalidade conservadora de seus habitantes. Com uma população de apenas 3.081 pessoas, a cidade parece estar congelada, no tempo, com a maioria dos moradores resistindo tenazmente a qualquer tipo de mudança ou progresso social.

Essa resistência ao progresso cria um ambiente opressivo para aqueles que não se encaixam nos moldes tradicionais de tal comunidade. Pessoas LGBTQIA+ e indivíduos de etnias não europeias enfrentam preconceito constante e olhares julgadores. A colonização italiana deixou um legado de exclusão, em que o racismo ainda é evidente e as pessoas negras são injustamente marginalizadas.

O cenário político da cidade é igualmente desanimador. Em vez de promover debates construtivos sobre políticas públicas e melhorias para a comunidade, a política local se resume a rivalidades partidárias acirradas, principalmente entre PT e MDB. Durante as eleições, o município se transforma, em um campo de batalha verbal, onde a discussão política se degrada em fanatismo partidário. Vitor Oliveira, cientista político e diretor da Pulso Público, adverte que “A política não pode ser tabu, mas também não deve ser um cabo de guerra”; porém, nesse local tranquilo, a política se tornou uma arena de disputas irracionais.

As eleições são marcadas por um comércio aberto de votos, em que o poder econômico dita os resultados. A prática de compra de votos é tão prevalente que a cada ciclo eleitoral, cerca de um milhão de reais é gasto nesse comércio corrupto. Esse ciclo vicioso não apenas subverte o processo democrático, mas também perpetua a corrupção e o atraso social. A questão central que persiste é: quem são os verdadeiros culpados – aqueles que compram ou aqueles que vendem seus votos?

Em suma, essa pequena cidade, com sua natureza deslumbrante, é um lugar preso em suas próprias contradições. Embora ofereça uma vida aparentemente tranquila, esconde profundas divisões e preconceitos que impedem seu desenvolvimento social e político. Para que o município avance, será necessário um despertar coletivo, em que todos os cidadãos estejam dispostos a enfrentar e superar seus preconceitos e resistências ao progresso.

 

 

ARTUR SPONCHIADO. Nascido em Taquaruçu do Sul – RS, no ano de 2003. Completou o Ensino Médio na E.E.E.B. José Zanatta (2021). Fora premiado em diversas Olimpíadas de Matemática, Ciência e Astronáutica, além de Feiras de Ciências. Foi um dos vencedores do Prêmio João Fontana de Produção textual em 2021. Atualmente, é graduando em Engenharia Química na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ). Atuou como estagiário remunerado no Laboratório de Análises Forenses da Polícia Científica de Chapecó (2023-2024). Atualmente, exerce o cargo de Analista de Qualidade na indústria de reciclagem plástica Azeplast em Chapecó-SC.

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