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UMA REFLEXÃO SOBRE RELAÇÕES EXTRACONJUGAIS – POR SAÍLE BÁRBARA BARRETO

Estava dia desses lendo um artigo sobre traição. A discussão era sobre culpa. Estranhamente, os comentários eram sempre “A” amante ou ‘O’ homem casado. Ninguém lembrou de mencionar “O” amante e “A” mulher casada, tampouco “O” amante “DO” homem casado e “A” amante “DA” mulher casada. Estavam restritos, obviamente, à traição masculina clássica, como se ela fosse a única que existe.

Acontece que existem variações. Muitas. Por exemplo e ao contrário do que muitos imaginam, não são poucas as mulheres hoje que traem. Muito pelo contrário. O número de esposas infiéis é quase tão grande quanto o de maridos. Da mesma forma, isso também acontece nas uniões homoafetivas, a diferença é que a mulher é um pouco mais discreta.

A mulher dificilmente é descoberta. Ela escolhe melhor os horários, os lugares, não se expõe, não comenta com muita gente. Quando pede o divórcio, porque se envolveu com outra pessoa, costuma dizer que o amor acabou. O homem, até por uma certa aprovação da sociedade, é mais indiscreto. Vejo tanto isso no escritório…

É ilusão achar que apenas o homem heteressoxual, bem-sucedido e “mais velho” arruma uma amante jovem e interesseira. Os tempos mudaram. Hoje são inúmeras situações que levam alguém a viver uma relação extraconjugal.

Podem ter certeza que nem tudo restringe-se “a sacanagem”. Muitas vezes o relacionamento oficial vai “de mal a pior”. Já não tem mais sexo, já não tem mais conversa. Muitas vezes a pessoa conhece alguém e acaba se apaixonando. Ninguém está livre de conhecer alguém e se interessar a ponto de querer terminar seu casamento. Sentimentos não são tão fáceis assim de controlar.

Na minha experiência como advogada, percebo que muitos dos que traem, já foram traídos. Existem alguns que fazem isto como “vingança” também. O que é raro, é uma pessoa, seja homem, mulher, hetero ou homossexual realizado em seu casamento “pulou a cerca” apenas por pular.

O que vejo, estou falando como advogada, não sou psicóloga, é que, na maioria das vezes, as pessoas são levadas a fazer isso pela carência. Algumas pessoas realmente têm gosto pela aventura, é verdade e não dá para negar, mas, pelo que percebo, não são a maioria. O homem realmente tem mais incutida a ideia de aventurar-se. Também é verdade. Ele muitas vezes acredita que que não irá se envolver-se, que “o relacionamento paralelo não prejudicará o principal”. Uma vez ouvi um dizer isto. Nunca esqueci a frase. Só que muitas vezes se envolve sim. Não foram poucos os divórcios em que atuei porque o homem apaixonado por outra, decidiu terminar seu casamento. Foram muitos. Muitos mesmo. Então, a ideia de que a amante nunca se tornará esposa é também bem ultrapassada. Acreditem.

Para finalizar, pendo que “culpa” é uma palavra muito forte. As pessoas conhecem outras pessoas, muitas outras, todos os dias. Há “oferta” na internet, de sites especializados em namoro (e até em traição). Sim, existe um site para pessoas casadas conseguirem amantes e é muito popular.

No ambiente de trabalho, nas ruas, bares, eventos, viagens, as tentações são cada vez maiores. São infinitas. É como uma comparação que vi um palestrante fazer uma vez e achei perfeita. Você entra em uma sorveteria e só há dois sorvetes para escolher, “flocos ou morango”, por exemplo. Você odeia morango e escolhe flocos. Não vai mudar da ideia nunca mais. Agora se você entra em uma sorveteria e existem 357 sabores de sorvete, talvez você tenha dúvida antes de escolher o seu. E isto é normal.

Atenção, este é apenas um comparativo. As pessoas não são sorvetes, sei disso. O comparativo é apenas uma forma de explicar que no mundo há cada vez mais gente. Aquela vida no interior, em que cada um acabava casando com um primo e ficando a vida inteira com ele, não existe mais. E nem por isso, o “mudar de ideia” te transformará em um monstro. Portanto, não dá para colocar todo mundo em um “balaio” e generalizar. Como se fosse só o homem que trai, sempre com uma mulher mais jovem, que está “de olho no dinheiro dele” Tem de tudo. E cada caso é um caso.

 

SAÍLE BÁRBARA BARRETO é advogada, contadora de histórias e bruxa malvada nas horas vagas.

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