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Jardim da Casa Ruy Barbosa, no Rio de Janeiro (2020).. Foto: Vitor Biasoli

Ruy Barbosa lendário | por Vitor Biasoli

Dias atrás, meu amigo Candinho – que, como eu, cursou o Ginásio (equivalente ao atual Ensino Fundamental) na década de 1960 – me trouxe um recorte de jornal a respeito do centenário de morte de Ruy Barbosa, ocorrido no último 1º de março.

Era um texto do “Almanaque Gaúcho”, no jornal Zero Hora (Porto Alegre), recordando a trajetória do ilustre político baiano, destacando a existência de um genro pelotense, Antônio Batista Pereira (1879-1960), o qual se dedicou a divulgar o legado do sogro. Uma história curiosa, ao menos para quem se criou ouvindo falar elogiosamente a respeito do ilustre baiano.

Na década de 60, acredito que não existiu aluno de Ginásio que não escutou um professor citando Ruy Barbosa ou não fez análise sintática em algum trecho da sua obra.

Além de político (ministro de Deodoro e um dos responsáveis pela organização jurídica da República, senador pela Bahia diversas vezes, candidato à Presidente da República por duas oportunidades), Ruy foi exímio orador e por essa qualidade ganhou fama nacional.

Em 1907, representou o Brasil na Conferência de Haia e convenceu os representantes das grandes potências de que “a grandeza dos povos” não pode ser aferida pelos poderes militares e econômicos, mas, sim, “pelas realizações científicas e culturais, capacidade de trabalho, espírito de luta, nobreza de sentimentos e aplicação de leis justas”. Cinquenta anos depois, era um feito ainda lembrado pelos professores. “Uma das maiores inteligências do Brasil”, “a Águia de Haia”, a gente ouvia falar.

Em 1920, Ruy (já com 70 anos) foi convidado para paraninfo pelos formandos da Faculdade de Direito de São Paulo e escreveu um discurso que se tornou famoso, a “Oração aos moços”. Doente, ele não pode comparecer à formatura e um professor da faculdade leu o discurso. A “Oração…” foi impressa e ganhou grande circulação no país.

Mesmo quarenta anos depois, não era raro um professor, num momento de entusiasmo, com pretensões de colocar a gurizada na linha, sapecar um trecho desse discurso na sua fala. O Irmão Heitor, meu professor de Língua Portuguesa no Ginásio, era pródigo em fazer isso. Ele interrompia uma aula para um sermão (que ele denominava “uma lição de caráter”) e inseria uma citação do baiano:

– Vocês, que vivem numa época tão carente de valores, não devem esquecer os ensinamentos de Ruy Barbosa: jamais “desertar a Justiça, nem cortejá-la. Não lhe faltar com a fidelidade, nem lhe recusar o conselho. Não transfugir da legalidade para a violência, nem trocar a ordem pela anarquia”.

Em 2020 (pouco antes da eclosão da pandemia), quando tive a oportunidade de conhecer a Casa Ruy Barbosa (sua antiga residência no RJ, transformada em Fundação), recordei a áurea do personagem. Sua lenda me veio à baila quando entrei no jardim da casa (um “templo cívico”, como li tantas vezes). Estava acompanhado da minha antiga companheira, fizemos uma visita guiada por uma funcionária, indicando as salas, os objetos e a biografia do político com observações tão rasteiras, em um tom tão burocrático, que não houve como se empolgar. O ginasiano que eu fui ficou frustrado. Minha companheira fez críticas severas ao estado de conservação das peças e ao despreparo da funcionária.

Lendo o recorte de jornal trazido por meu amigo Candinho, senti que naquele pequeno texto estava o Ruy que aprendi na escola. Certamente não o Ruy apresentado pelos melhores historiadores, mas o que conquistou o imaginário dos brasileiros (até do próprio genro), “fez a França e a Inglaterra se curvarem diante do Brasil” e se tornou uma referência para a juventude com sua “Oração aos moços”. O Ruy que meu professor de Língua Portuguesa, no Ginásio, citava no meio de um sermão. Citações que nem sempre eu e meus colegas entendíamos, mas que achávamos super bacana.

 


Foto: Dartanhan Baldez Figueiredo

Vitor Biasoli

Nasceu em Pelotas, em 1955. Graduado em História (UFRGS), fez mestrado em Letras e doutorado em História. Lecionou 38 anos, um tanto no Magistério Estadual ou tanto na UFSM, e hoje está aposentado. Publicou livros individuais e coletivos, entre eles “Calibre 22” (poemas) e “O fundo escuro da hora” (contos). Faz parte da Turma do Café.

 

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