Home / * PORTAL / * SINA AUTORAL / Poesias por Noélia Ribeiro
Noélia Ribeiro em foto de Sabrina Moura

Poesias por Noélia Ribeiro

DIFERENÇA LUNAR 

 Vai. 

Leva os ternos, as taças, os quadros,  

os papéis, as aplicações e as explicações; 

tudo que me desconstrua. Não me  

completa quem não olha pra lua. 

 

QUESTÃO DE GÊNERO 

 Batom violeta 

Lápis à prova d’água 

Cílios postiços 

Sombra metalizada 

 Na bolsa 

figa santinho fita do Bonfim 

e uma faca bem afiada 

 

CRIME PASSIONAL 

 Antes de apertar o gatilho 

e chorar sobre meu corpo ainda quente, 

tome um café com leite na padaria ao lado 

e leia na plaqueta atrás do servente: 

SORRIA. VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO 

 

SUPERPOSSUINDO-TE 

 Radiografo-te o corpo de aço 

Com os olhos, my man. 

Lambo restos de meteoritos 

Caídos do espaço 

Em tua boca refém, 

Enquanto, superafiadas, 

Minhas unhas sangram 

Tu’alma siderada 

Liquefazendo 

Uma a uma 

Uma woman 

Tuas certezas, 

Com superpoderes de siamesa, 

Efeitos especiais de sétima arte 

Em cima do estrado 

E minha nudez a coroar-te 

Super-herói do cárcere privado. 

 

DE MALAS PRONTAS 

 Desligar as luzes 

Fechar as janelas 

Trancar a porta 

 Abrir a bagagem do desconhecido 

e desorganizar sentimentos… 

 Viajar é perscrutar a casa 

que levamos dentro 

 

MOVIE 

 A vida repousa em uma sala escura 

para projetar-se intensa, púrpura 

como filme de Woody Allen. 

Na poltrona, penso esperançosa 

no dia em que brotará do Cairo a rosa. 

 Assim saladespero uma eternidade… 

Assim permaneço na escuridade, 

sem perceber o lanterninha 

que iluminará nas entrelinhas 

algo de que não me lembrava mais: 

 O filme da minha vida estava há muito tempo em cartaz! 

 

ELAS 

 As mulheres loucas 

andarilham roucas 

entoando hinos 

de prece e paixão 

 Se a farinha é pouca 

as mulheres loucas 

reivindicam seu pirão 

 Ao beijar a boca 

de seus paladinos 

elas choram à míngua 

de outra língua 

que umedeça toda parte 

 Essas doidas varridas 

doam seu quinhão 

de vida 

para sair de Vênus 

e voar para Marte 

 

PLATONICES 

 O menu 

oferece um homem 

de olhar quente 

com dendê 

derramado 

sobre boa porção 

de virilidade 

e pimenta 

de suar. 

 O menu 

que esse homem 

oferece 

docemente 

me faz sentar à mesa 

em regozijo, 

mesmo que esteja 

apenas Platão 

avec moi. 

 

PIRIPAQUES 

 XVII 

nossa história mequetrefe 

não merece ser contada 

nem em word nem em pdf 

 XVIII

o que a vida me tirou 

sublimei na poesia, 

cedo ou tarde 

a morte me tiraria 

 

Noélia Ribeiro é pernambucana, radicada em Brasília. Cursou Letras na Universidade de
Brasília e aposentou-se como Taquígrafa Revisora da Câmara dos Deputados. Publicou
Expectativa (1982), Atarantada (Verbis, 2009), Escalafobética (Vidráguas, 2015) e Espevitada
(Penalux, 2017). Tem poemas traduzidos para o inglês e o espanhol. Integra a antologia As
Mulheres Poetas na Literatura Brasileira (Arribaçã, 2020). Em 2017, participou da mostra
Poesia Agora, na Caixa Cultural (RJ), e recebeu, da Secretaria de Cultura do DF, o Prêmio FAC –
Igualdade de Gêneros na Cultura. Produz, há quase dois anos, a live A Fim de Poesia, no
Instagram @noeliaribeiropoeta. Está prestes a publicar novo livro de poesia.

Please follow and like us:

Comente

comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.