Tecer qualquer comentário sobre poesia pode soar cretino. Que fique claro aqui que não estou a atacar a academia. Não é isso. Dado que, para mim, a poesia que flui sozinha pelo ar, pelas veias e sinapses do poeta, não acredito na crítica pela crítica.
“papá da terra, mamá da água” (Editora Bestiário, 2023), do poeta Gabriel Santos de Araújo, é uma obra primeira. Tanto pelo fato da estreia quanto pelo fato que é um deleite de ler. Sei que sou suspeito e escrevo essa resenha com um olho na letra e outro no colega.
Mas não posso negar que a samsara que é ler um livro de poemas, escrever um livro de poesia, encontra um belo ciclo de morte e vida nos versos do Gabriel.
“papá da terra, mamá da água” é um texto, uma vivência, uma confissão de um poeta que crava as unhas no peito e arranca a pele. A própria e a do leitor.
A figura do pai, do avô, da mãe (terra ou água ou os dois), do pai e dos filhos e até do espírito santo (seja ele de que banda for). A enxada, a terra, a conexão de um homem com sua essência.
O poema te aponta o dedo, te julga e te acaricia. Mas nunca será réu. Poesia é café com leite. E a do Gabriel tem cheiro e gosto de saudade e de bolo de vó, de chulé de bota, de suor de filho, de vida em movimento, olhando para trás para andar para a frente.