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PAGU É A AUTORA HOMENAGEADA DA 21ª EDIÇÃO DA FLIP

“Esse crime, o crime sagrado de ser divergente, nós o cometeremos sempre”, nesse espírito disruptivo que desafia a mente normatizada viveu, por 52 anos, Patrícia Rehder Galvão, conhecida como Pagu. A autora homenageada da 21ª da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty nasceu em 9 de junho de 1910, em São João da Boa Vista (SP) e foi jornalista, dramaturga, poeta, tradutora, cartunista e crítica cultural. Atuou nos movimentos modernista e feminista, além de ter se dedicado ao ativismo contra o fascismo.

“A decisão de homenagear uma autora importante para o movimento Modernista de 1922, que não participou da Semana de Arte Moderna, passadas as celebrações de seu  centenário, vem do desejo de explorar sua produção artística muitas vezes reduzida por perspectivas limitadoras. Essa homenagem traz luz também a outras marginalidades literárias pujantes que merecem uma nova mirada “, comenta o diretor artístico da Flip, Mauro Munhoz.

Pagu usou pseudônimos durante toda a vida: Patsy, Mara Lobo, King Shelter, Ariel, Pat, Léonie, Pt, Gim, Solange Sohl, Peste. A escolha das curadoras, Fernanda Bastos, jornalista gaúcha e editora de livros, e Milena Britto, professora da UFBA, traz luz à ampla produção artística de Patrícia Rehder Galvão que,  assim como outras tantas extraordinárias artistas e escritoras, sofreram estigmatização social, que tolhe e constrange tudo o que estiver fora de certa ordem ou coerência esperada da razão organizada.

“Quantas escritoras se manifestaram em Pagu? Quantos universos a autora criou e expandiu por meio de suas produções? Muitas são as paisagens de dentro e de fora que ela nos mostra com suas múltiplas linguagens, todas trazendo em comum uma contestação incansável diante do mundo rígido”, explica Fernanda Bastos.

“Com seus modos de dizer e desenhar mundos, Pagu desenvolve uma paisagem em que são retratadas diversas mulheres brasileiras: operárias, mães, boêmias, artistas, as que aspiram à liberdade. É transformador olhar o presente por meio das lentes de Pagu”, complementa Milena Britto.

Se, durante sua trajetória artística, as muitas línguas faladas por Pagu enfrentaram incompreensão e até repulsa, hoje sua produção nos inspira reflexões que ultrapassam os limites da razão e nos convidam a decifrá-la a partir das pistas que sua estética representa como legado.

A pluralidade de gêneros incorporados no repertório artístico da autora faz dela uma aparição destacada na cena literária brasileira, ainda que tenha falecido em 12 de dezembro de 1962, sem o reconhecimento e a legitimação que muitos de seus contemporâneos usufruíram. Foi prolífica à sua maneira, dedicando-se a muitos projetos que sempre cruzavam linhas e normas estabelecidas, surpreendendo no desenho, cartum, tradução, poesia, prosa, crítica literária, panfleto político, caderno de croquis, correspondência, crônica, diário e performance. Publicou os romances Parque Industrial, em 1933, com o pseudônimo de Mara Lobo por orientação do partido comunista, considerado o primeiro romance proletário brasileiro, e A Famosa Revista, publicado em 1945 em colaboração com Geraldo Ferraz. Pelo pseudônimo King Shelter, lançou diversos contos policiais, reunidos posteriormente no volume Safra Macabra.

Imprensa e teatro

Pagu teve destacada atuação na imprensa, tendo participado de publicações como Brás Jornal, Revista da Antropofagia, O homem do povo/A mulher do povo, A platéia, A vanguarda socialista, France-Presse, Suplemento Literário do Jornal Diário de São Paulo, Fanfulla e A tribuna.

Para o teatro, traduziu grandes autores, muitos deles até então inéditos no Brasil, como James Joyce, Eugène Ionesco, Fernando Arrabal e Octavio Paz. Estão ainda, entre os feitos de Pagu, a entrevista que ela realizou com Sigmund Freud e a introdução da cultura de soja no Brasil, graças ao contato com o imperador chinês Pu-Yu.

Profundamente múltipla e engajada, sua obra e sua figura política têm sido abraçadas por grupos sociais que apontam no trabalho da autora um símbolo da luta contra as desigualdades e a estigmatização – em especial das mulheres e das feministas, que percebem na figura de Pagu um emblema da força feminina.

SOBRE A FLIP

Desde sua primeira edição, em 2003, a Flip, que foi reconhecida como  Patrimônio Histórico Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, é uma experiência única: os encontros promovidos nos cinco dias de Festa são apenas parte de uma manifestação cultural muito mais ampla.  São, na verdade, fruto de uma relação que atravessa as ruas da cidade de Paraty em todos os meses do ano. A cada ano, um projeto artístico, arquitetônico e urbanístico é elaborado para promover um novo encontro com o território do qual emerge. A literatura é ferramenta para criar pontes entre diversas formas de arte e conhecimento.

Ao ocupar os espaços públicos com cultura, e ao promover mecanismos de troca entre aqueles que transitam e aqueles que vivem no território, a Flip condensa uma dupla singularidade: diferencia-se de outras festas e festivais literários, da mesma forma que, ao incorporar-se no intenso calendário de comemorações populares de Paraty, reafirma essa identidade tão ímpar.

Além de reunir personalidades do mundo da cultura e literatura para conversas, palestras, lançamentos de livros, entre outras atividades, a Flip promove ações de incentivo à leitura e à formação de novos leitores com um programa educativo para crianças e jovens ao longo de todo o ano, que culmina na celebração da Flipinha e Flipzona.

Pela Flip já passaram autores das mais variadas origens, tendências e linguagens. Entre os nomes internacionais de destaque estão Svetlana Alexijevich, Toni Morrison, J. M. Coetzee, Teresa Cárdenas, Salman Rushdie, Anne Enright, Jonathan Safran Foer, Nadine Gordimer, Karl Ove Knausgård, Ian McEwan, Chimamanda Ngozi Adichie, Amós Oz, Paul B. Preciado e, mais recentemente, Annie Ernaux.

O projeto é realizado pelo Ministério da Cultura e Governo Federal com concepção da Associação Casa Azul. Conta com o benefício da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Patrocínio Master do Instituto Cultural Vale e do Itaú Unibanco e Apoio da Maqmóveis e Prefeitura de Paraty.

21ª Flip – Festa Literária Internacional de Paraty 

Data: 22 a 26 de novembro de 2023 

www.flip.org.br 

(Conteúdo: Gabriela Toledo Assessoria de imprensa)

 

Veja também:

Lista de obras da autora 

Ficção

  • Parque Industrial (romance proletário) (com o pseudônimo Mara Lobo). São Paulo: Edição particular, 1933. 145 pp.
  • A Famosa Revista (em colaboração com Geraldo Ferraz). Rio de Janeiro: Americ-Edit, 1945.
  • Safra Macabra (contos policiais) [textos publicados na revista Detective em 1944, com o pseudônimo King Shelter], org. de Geraldo Galvão Ferraz. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.

Autobiografia

  • Paixão Pagu: A Autobiografia Precoce de Patricia Galvão. (texto inédito escrito em 1940), prefácios de Geraldo Galvão Ferraz, Kenneth David Jackson, Rudá de Andrade. Rio de Janeiro: Agir, 2005. 164 pp.

Textos políticos

  • Verdade e Liberdade. São Paulo: Comitê Pró-Candidatura Patrícia Galvão, 1950.

Desenhos

  • Álbum de Pagu: Nascimento, Vida, Paixão e Morte. (inédito de 1929). Revista Código, Salvador, n.2, 1975. (Depois na coletânea Pagu: Vida-Obra).
  • Croquis de Pagu e Outros Momentos Felizes que Foram Devorados Reunidos, org. de Lúcia Maria Teixeira Furlani. Santos/São Paulo: Editora Unisanta/Cortez, 2004. 128 pp.

Coletânea

  • Augusto de Campos (org.). Pagu: Vida-Obra. São Paulo: Brasiliense, 1982. (nova edição – São Paulo: Companhia das Letras, 2014. 469 pp.)

Reedições

  • A Famosa Revista, com prefácio de Sérgio Milliet, em Dois Romances (com Doramundo de Geraldo Ferraz), Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.
  • Parque Industrial, prefácio de Geraldo Galvão Ferraz. São Paulo: Alternativa, s. d. [1981]. 145 pp.
  • Parque Industrial. Porto Alegre/São Carlos: Mercado Aberto/Universidade Federal de São Carlos, “Novelas exemplares”, 1994.
  • Parque Industrial, prefácio de Geraldo Galvão Ferraz. Rio de Janeiro: José Olympio, “Sabor literário”, 2006. 122 pp.
  • Parque Industrial (romance proletário), prefácio de Augusto de Campos, notas e posfácio de Antoine Chareyre, posfácio de Kenneth David Jackson. São Paulo: Editorial Linha a Linha, 2018.

Traduções

  • Industrial Park (A Proletarian Novel), tradução em inglês de Elizabeth e Kenneth David Jackson, posfácio de Kenneth David Jackson. Lincoln / Londres: University of Nebraska Press, “Latin American Women Writers”, 1993. 153 pp.
  • Industrijski Park (Proleterski Roman), tradução em croata de Jelena Bulic. Zagreb, Naklada Jurčić, 2013.
  • Parc Industriel (Roman Prolétaire). Prólogo de Liliane Giraudon, tradução francesa, notas e posfácio de Antoine Chareyre. Montreuil (França): Le Temps des Cerises, coleção “Romans des Libertés”, 2015. 166 pp.
  • Parque Industrial (Novela Proletaria), tradução em espanhol e prefácio de Martín Camps. México, Samsara, 2016.

Música da Rita Lee inspirada nela:

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