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Fellipe Cartier em homenagem à mãe, SUZANA CARTIER LARANGEIRA, primeira mulher negra a ser nome de escola em Santa Maria-RS

MINHA MÃE (TAMBÉM) É NOME DE ESCOLA MUNICIPAL | por Fellipe Cartier

NOTA PÚBLICA DE AGRADECIMENTO
Fellipe Cartier – Jornalista | Ator | Diretor

PROJETO DE LEI 9623/2023
EMEF SUZANA CARTIER LARANGEIRA
PROPONENTE: VEREADORA LUCI DUARTES (TIA DA MOTO)

 

Ela tinha um poder avassalador! Seu modo de ser/estar atravessava muros, casas, escolas, comunidade, relações… atravessava a gente. Personagem com uma história ascendente e cheia de reviravoltas. Nessa trama, o cenário da vez foi a Câmara de Vereadores de Santa Maria – RS. O capítulo foi ao ar nesta terça-feira, dia 22 de agosto, às 15h. O episódio: a votação e aprovação do Projeto de Lei 9623/2023, em que concede o nome da Suzana Cartier Larangeira à uma Escola Municipal de Ensino Fundamental na cidade de Santa Maria-RS. Cidade essa onde a mesma nasceu no dia 26 de abril de 1948. O projeto tem como proponente a vereadora Luci Duartes (Tia da Moto), que além de colega e amiga, trabalharam juntas na Secretaria de Educação da cidade em questão (2000 a 2002). Os 21 vereadores presentes na Câmara (lista abaixo) deferiram o projeto por unanimidade.

Isso quer dizer que o legado da Suzana (minha mãe) está marcado na eternidade. Essa série de pleonasmos é devido a tanta história, fazendo história em uma única pessoa. Uma mulher, de família humilde, filha de Alayde e Raul, que foi caixa de supermercado, atendente de loja e esteio de sua família… Estudou, graduou-se em duas profissões (Pedagogia e Psicologia), especializou-se (Orientação Educacional), foi professora, coordenadora, diretora, orientadora… Mãe, esposa, avó, sogra, amiga, colega, irmã, confidente… Uma grande mulher que sempre via o Outro como a extensão de si. Aliás, revelo aqui: ajudou tanta gente, sem alardes e sem arestas, acolhendo em sua casa, em sua família, em seu consultório, em sua sala de aula… Lutou docemente contra as adversidades da vida, seduzindo até os mais incautos. Culpa do seu jeito meigo, amoroso, de escuta aflorada, sorriso rasgado… ficava difícil não cair nos encantos dela.

Contudo, difícil mesmo é imaginar que, em meio a aproximadamente 284 mil habitantes na cidade de Santa Maria – dentre tais, muitos professores – ela faz história sendo a primeira professora negra a levar o nome de uma escola na cidade. Alerto: que seja a primeira de muitas! Dito isso…

Nunca tive dúvida – ela, em vida, foi e continua sendo minha maior inspiração. Ela foi e continua sendo inspiração para muitos. Ela era incrível! Juro! Por vezes olhava para ela e pensava: Meu Deus, que sorte eu tive de tê-la como mãe, amiga e confidente! No dia 06 de março de 2022 ela nos deixou fisicamente. Até os seus últimos dias na terra, ancorou-se no otimismo e no amor. Inclusive, antes de partir, prestes a se aposentar, estava inquieta em, continuar ou não, a lecionar. Sabemos que jamais deixaria esse ofício, mas o mais curioso é que a aprovação desse projeto responde e corrobora com sua ânsia em continuar lecionando. O universo respondendo? Sim! De certa forma isso iria ocorrer, agora não por ela, mas através dela, pelo ímpeto de sua colega e amiga Luci Duartes. Isso prova aquilo que disse de outrora – ela atravessa.

Para quem conviveu com a mesma, sabe o quão solar e potente era sua forma de educar e tratar seus alunos, pais e colegas. Para quem não conviveu, fica aqui representada a mais bela homenagem que uma cidadã pode receber: uma escola com seu nome e de período integral (até porque ela viveu lecionando). E como toda a trama que se preze precisa de um tema – a Educação – faz jus a todo o empenho e dedicação – em vida – dessa personagem. Outras vidas virão, com direito a seu nome no currículo. Já ouço: “São meus novos alunos, filho!”, diria ela entusiasmada.

Cabe a nós da família “Cartier Larangeira” (também frutos), honrarmos o compromisso para/com nossos irmãos que serão alfabetizados nessa escola, para/com os funcionários que nela vão trabalhar, e para/com todos os professores que, tal qual nossa Suzana, fez a diferença em todos locais por onde passou. Vamos ser colaborativos, atentos e atuantes; Se preciso for, vamos cobrar recursos e insumos, tanto das autoridades como dos responsáveis pela escola. E da mesma forma nos dispomos a ajudá-los no que for preciso.

Suzana encerra sua passagem na terra, mas deixa um rastro avassalador para a humanidade… deixa frutos, deixa vida, deixa ensino e nos ensina como uma verdadeira personagem sai deste plano para entrar na eternidade: o aluno – a semente; o professor – o adubo. a escola – a colheita; a educação – a salvação.

AGRADECIMENTO

Em nome da família “Cartier Larangeira”, agradeço a comunidade santamariense, aos amigos que foram apoiar a causa e, principalmente, a vereadora Luci Tia Moto e a professora Vera Baptista pela mobilização. Agradeço também os 21 vereadores, que com suas falas nos deixaram emocionados, provando que a Suzana reverberava aquilo que recebeu de todos: carinho e amor. Gratidão Givago Bitencourt Ribeiro, Manoel Badke (Prof. Maneco), Pablo Pacheco , Tony Oliveira, Adelar Vargas (Bolinha), Admar Pozzobom, Alexandre Vargas, Anita Costa Beber, Delegado Getúlio, Helen Martins Cabral, João Ricardo Vargas (coronel Vargas), Juliano Soares (Juba), Marina Callegaro, Paulo Ricardo Siqueira Pedroso, Professor Danclar, Roberta Leitão, Rudys Rodrigues,Tubias Callil, Valdir Oliveira e Werner Rempel.

Em breve, teremos a inauguração da ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL SUZANA CARTIER LARANGEIRA. Mais uma vez a nossa Suzana vai aprontar esse encontro, com direito a mobilização da comunidade e da nossa família. Mais um capítulo dessa personagem que ficará onipresente em nossas vidas. E claro… Conto eu e nossa família, com a presença de todos!

Gratidão Santa Maria!
Fellipe Cartier – Filho da Suzana

Suzana Cartier Larangeira
26/04/1948 – 06/03/2022


 

INAUGURAÇÃO DA ESCOLA MUNICIPAL SUZANA CARTIER LARANGEIRA

A primeira professora negra na cidade de Santa Maria a levar o nome de uma escola

A Prefeitura de Santa Maria, por meio da Secretaria de Município da Educação realiza o ato de inauguração da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Suzana Cartier Larangeira. A Escola será a primeira da área urbana da cidade a disponibilizar turno integral, acolhendo cerca de 120 estudantes do 6º ao 9º ano. O evento vai ocorrer no dia em que a pedagoga e psicóloga completaria 76 anos de vida –  26 de abril, às 17h30min, no Auditório da Faculdade Palotina de Santa Maria (Fapas), que fica na rua Padre Alziro Roggia, 115, Bairro Patronato, em Santa Maria.

A homenagem conta com a presença de representantes de instituições, colegas, ex-alunos, pais, familiares e amigos da professora e psicóloga. A ideia surgiu do Projeto de Lei 9623/2023, proposto pela vereadora Luci Duartes (Tia da Moto), sendo aprovado no dia 22 de agosto, às 15h, na Câmara de Vereadores da cidade. Os 21 vereadores presentes aprovaram, por unanimidade, o PL que concede a Suzana Cartier Larangeira o nome de uma Escola Municipal de Ensino Fundamental. Na ocasião, os vereadores falaram da importância da iniciativa e da função social exercida pela professora durante seus mais de 40 anos dedicados à educação.

Segundo familiares da homenageada, até os seus últimos dias na terra, ancorou-se no otimismo e no amor. Inclusive, antes de partir, prestes a se aposentar, estava inquieta em, continuar ou não, a lecionar. Tamanho amor que tinha pela Educação e pelo Ser humano. Para quem conviveu com a mesma, sabe o quão solar e potente era sua forma de educar e tratar seus alunos, pais e colegas. Para quem não conviveu, fica aqui representada a mais bela homenagem que uma cidadã pode receber: uma escola com seu nome e de período integral (até porque ela viveu lecionando). E como toda a trama que se preze precisa de um tema – a Educação – faz jus a todo o empenho e dedicação – em vida – dessa personagem. Outras vidas virão, com direito a seu nome no currículo.

Em meio a aproximadamente 284 mil habitantes na cidade de Santa Maria – dentre tais, muitos professores – ela faz história sendo a primeira professora negra a levar o nome de uma escola na cidade. Suzana encerra sua passagem na terra, mas deixa um rastro avassalador para a humanidade… deixa frutos, deixa vida, deixa ensino e nos ensina como uma verdadeira personagem sai deste plano para entrar na eternidade: o aluno – a semente; o professor – o adubo. a escola – a colheita; a educação – a salvação.

Função social na Educação

Uma grande mulher que sempre via o Outro como a extensão de si. Seu modo de ser/estar atravessava muros, casas, escolas, comunidade, relações… atravessava os alunos, os pais dos alunos, os colegas de trabalho, as pessoas… A qualidade do espaço escolar se dava pelo acolhimento e pelo pertencimento de todos – a começar pelo aluno, até chegar a sua casa/bairro/comunidade. O conteúdo pedagógico também dava vazão a rodas de brincadeiras, oficinas diversas, passeios, jogos, esportes, eventos e artes em geral.   Com espírito inquieto provocava as potencialidades de cada um, a fim de, desenvolver o pensamento crítico. Se necessário for atravessar as salas de aula e ir até o núcleo familiar – assim faria. Suzana despertava a comunidade, com o simples ato de ouvir, tocar, olhar e ajudar. Havia cumplicidade com tudo e todos! A ideia da Suzana era ensinar o aluno a desenvolver suas percepções de mundo. Fora das salas de aula ajudou muita gente, sem alardes e sem arestas, acolhendo em sua casa, em sua família, em seu consultório…

E isso se comprova em um relato dela descoberto no computador da família:

A experiência de ser professora me orgulha muito, tenho muita paixão pelo que faço… Amo meus alunos! Sou alguém que busca antes de qualquer coisa ser fiel ao meu coração, no entanto, em muitos momentos me percebo vacilante buscando o equilíbrio entre o sonhar demais e ter os pés no chão. Então, busco conforto, e quem não busca, mas bem mais que o material, busco conforto espiritual, a quietude da alma!!! O contato amoroso com o outro. O estar com o outro faz encontrar o que busco, assim como o conhecimento, que amplia minha visão interior e externa a do meu mundo. A propósito relembro Madalena Freire quando diz em uma mensagem para os professores; Estar vivo é estar em conflito permanente, produzindo dúvidas, certezas questionáveis. Estar vivo é assumir a Educação do sonho do cotidiano….

Trajetória na Educação

  • Professora de Educação Infantil, nas escolas: Colégio Metodista Centenário e EMEI Zahie Bered Farret
  • Classe de Educação Infantil na EMEF Miguel Beltrame
  • Anos Iniciais; EMEF Lidovino Fanton, EMEF Euclides da Cunha, EMEF Santa Cecília, EMEF Diácono João Luiz Pozzobon, EMEF Pedro Kunz/ escola do campo .
  • Coordenadora Pedagógica dos Ano Iniciais nas escolas; EMEF Lidovino Fanton, EMEF Santa Cecília;
  • Coordenadora de Ensino da Orientação Educacional na Secretaria Municipal

de Educação de Santa Maria;

  • Vice direção da EMEF Adelmo Simas Genro
  • Direção da escola EMEF Chácara das Flores.

BIOGRAFIA DA HOMENAGEADA

SUZANA CARTIER LARANGEIRA nasce na cidade de Santa Maria – RS. A data – 26 de abril. O local –  Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo. “Às 18h, ela nasceu, minha filha Suzana Rosa Cartier, pesando 3kg e 600 gramas”, assim dizia sua mãe, Alayde Rosa Cartier, uma dona de casa e envolvida com os filhos. Seu pai, Raul Nicolas Cartier, era funcionário dos Correios e Telégrafos. Boa parte do tempo viveram na rua Floriano Peixoto, em frente à casa 76, que serviu de palco para inúmeras brincadeiras, tendo mais tarde a companhia de seus dois irmãos – Soami e Suzete.

No ano 1955 inicia os estudos na Escola Estadual João Belém até terminar o primário. De 1961 a 1964 estuda no Colégio Estadual Cilon Rosa realizando a 1ª à 4ª série “ginasial”. Como ela mesmo lembra: “Achei tão estranho nesta escola a troca de professores, não existia um contato mais próximo nem do professor e nem do aluno, a não ser, no contra turno que íamos em pequenos grupos para as diferentes oficinas, termo da época. O estudante tem que se virar para aprender e acompanhar. Durante esse tempo que estive nesta escola, aprendi pintura, bordado, crochê, fazer flores de tecido, organizar uma mesa para refeição, cantar em coral…”, pontua Suzana em textos descobertos no computador da família. Tais ensinamentos, mais a frente, são determinantes como metodologia em suas aulas. Neste período Suzana descobre duas paixões: o seu talento para as Artes e seu esposo Iguassú, um rapaz de 16 anos.

Ao concluir o ginásio, perde seu pai por complicações respiratórias e, com as circunstâncias do momento, teve que ajudar no sustento da família. Inicia no mercado de trabalho como auxiliar de costura em um atelier de moda. Após, é aprovada em uma seleção para uma vaga de secretária em uma loja comercial de Santa Maria. Aos 17 anos, entra para a Cooperativa Popular de Consumo de Santa Maria, onde permaneceu por 16 anos, atuando nas funções de: balconista, auxiliar de escritório, caixa, gerente de caixa e, eventualmente, gerente de loja. Um ano depois, Suzana casa-se com Iguassu e com ele tem os filhos – Sandro, Alexandre, Eduardo e Felipe. Divide seu tempo como mãe, esposa e seu curso Científico noturno no Colégio Estadual Manoel Ribas, finalizado com êxito. Período que assume  (também) o cargo de tia, sendo aqui representados por Fabrício (in memorian), Ricardo e Camila. Ligados diretamente a ela. Sem contar os inúmeros afilhados, amigos e admiradores.

Realizações acadêmicas

Vem a realização do vestibular na UFSM para o curso de Fonoaudiologia, porém não passa. Sem possibilidade de cursar um pré-vestibular, busca a Pedagogia e é aprovada na UFSM. Ao ingressar na graduação em 1982, deixa o trabalho na Cooperativa Popular de Consumo para dedicar-me somente ao curso superior. O desejo de continuar os estudos era maior. Ao concluir o curso de Pedagogia, ingressa no curso de Formação em Educação Infantil pela Organização Mundial para a Educação Pré-Escolar. Cinco anos depois, entra para a docência, através de uma seleção para professor de Pré-escola no Colégio Centenário. Mesmo aprovada e atuando como professora, seu interesse é ingressar na rede pública. Presta concurso para o magistério público municipal de Santa Maria e obtém aprovação e a nomeação logo após. Em 1988 é nomeada professora dos anos iniciais na rede municipal de ensino de Santa Maria. No ano de 1991, novamente participa de concurso seletivo para Educação Infantil e é aprovada e nomeada. Retorna a Universidade Federal de Santa Maria para fazer o curso de pós-graduação, em nível de especialização em Educação – Orientação Educacional. Em 1996 torna-se avó, com o nascimento do Thomas, seguido da Quendra, do Ieouã e da Sofia. No ano de 2013 é aprovada no curso de Psicologia da ULBRA Santa Maria, formando-se e obtendo o título de Psicóloga.

No dia 06 de março de 2022 ela nos deixou fisicamente, vítima do câncer.

Curiosidades

  • O vôlei foi uma das suas paixões de Suzana, assim como, seu engajamento com ações humanitárias.
  • A rua Floriano Peixoto, em frente à casa 76, serviu de palco para inúmeras brincadeiras, festejos, encontros e muitas histórias
  • Foi torcedora da Escola de samba Beija Flor de Nilópolis do Rio de Janeiro
  • Sua cor preferida era verde

 

(release Secretaria de Educação de Santa Maria)

 

 

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