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Obrigada Santa Maria! por Martha Souza

Cheguei no coração do Rio Grande aos 9 anos de idade. Filha caçula, entrei no embalo dos irmãos mais velhos, que vinham para a universidade de Santa Maria.

Sair de uma casa espaçosa em uma cidade onde todos se conheciam, ou até mesmo eram familiares, não foi tão simples. Recordo da primeira noite barulhenta no 13o andar do Edifício Taperinha. Tudo era novidade. O pisca-pisca dos letreiros, as buzinas, as freadas, os sons das risadas que subiam da ‘primeira quadra’ e adentravam nossa nova morada. Até mesmo o caminho que deveria percorrer até o colégio Manoel Ribas era assustador, pois sequer conhecia uma sinaleira até aquele momento. Acostumada com pequenos trajetos para chegar à escola Pedro Américo em Lavras do Sul, custei para habituar com tamanho movimento e barulheira.

Essa era a realidade de muitos dos meus colegas, advindos de diferentes partes do estado. Muitas amizades foram se formando e novos aprendizados sendo construídos. Eram os tempos dourados de aguardar ansiosamente os domingos para ficar nas filas do Cine Glória ou Independência e na saída correr para os doces da Copacabana. Combinar encontros com as amigas para treinar, na frente do espelho, os embalos de John Travolta. Na adolescência restava torcer para as férias acabarem logo e chegar a tão esperada ‘boate do reencontro’, que acontecia nas dependências do Clube Comercial. A felicidade máxima era quando economizávamos o suficiente para comprarmos o último vinil da Rita Lee, Queen, Supertramp entre outros.

Aqui escolhi ser Enfermeira, frequentando a saudosa FACEM na década de 1980. Hoje observo, orgulhosa, como se tornou imensa a Universidade Franciscana, não mais apenas com o curso de Enfermagem, mas trazendo a oportunidade de jovens frequentarem diferentes graduações, especializações, mestrados e doutorados.

Inesquecíveis as noites de estudos na casa das companheiras de faculdade, quando tudo finalizava com um bom carreteiro, risoto ou o famoso ‘arroz de china pobre’. Foi quando conheci realidades muito diferentes da minha, aprendendo com culturas de colegas vindas de outras regiões do estado e mesmo de fora dele.  Fui do churrasco à polenta com galeto, saboreando as novidades que a vida me proporcionava. Bom saber que os laços que nos uniram nos tempos de universidade permanecem por meio dos nossos encontros anuais, interrompidos temporariamente pela pandemia.

Após a formatura, como muitos, fui embora para labutar. Tive a felicidade de retornar na metade da década de 90, sentindo o coração vibrar de alegria ao pensar que novamente estaria abraçada pelos morros que tanto vi cobertos pelas neblinas dos longos invernos, trazendo comigo as filhas para aqui estudarem.

Ter a oportunidade de trabalhar na cidade que me viu crescer e amadurecer foi, e ainda é, um privilégio. Procuro devolver com respeito, ética e lealdade toda a educação que aqui recebi.

Santa Maria acolheu a todas(os) nós. Abrigou e nos tornou filhas(os) dessa terra que faz o coração apertar quando ficamos um período fora. Ouvir, ao longe, nas madrugadas o apito do trem, até hoje faz o dia começar com um esboço de sorriso.

Aqui tive oportunidades que certamente auxiliaram a ser quem sou hoje.

Obrigada Santa Maria!

Parabéns pelos seus 163 anos.

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