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Divulgação/Marvel Studios

O que uma space opera nos ensina sobre recomeços? | por Rodrigo Ricordi

A idealização de uma vida no espaço, vagar por planetas tripulando naves, seres extraterrestres, super poderes. Pouco ou quase nada disso está ao nosso alcance. Por isso alguns escritores e cineastas fritam a criatividade ao dar vida a histórias nestes cenários onde tudo pode, basta querer. Porém, humanos que somos, nossas problemáticas cotidianas estão sempre lá. Seja na lua de Endor ou na Enterprise. Seja no complexo Darth Vader ou no caricato Peter Quill, em voga no novíssimo Guardiões da Galáxia Vol. 3. A forma de escrever um arco de personagem pode até ter um contexto ficcional, mas não há como fugir de nossa humanidade. Até mesmo um guaxinim falante não consegue nos desumanizar, de forma alguma.

Fiz essa breve introdução porque o tema recomeço e/ou seguir em frente tem me tocado. 

Aqui, um pequeno spoiler: Em uma cena do filme Guardiões da Galáxia Vol. 3, Rocket Raccoon diz algo como “eu fui desmontado e remontado tantas vezes até me tornar essa coisa horrível”. Ao falar de sua forma física, o personagem nos atenta parabolicamente ao fato de que a vida nos faz em pedaços consecutiva e inevitavelmente. Claro que em um filme que encerra uma trilogia, ele se resolve com esse trauma, escolhendo um caminho que o coloca em conforto, em aceitação com o passado e aberto ao futuro. Opa! Temos aqui um processo psicanalítico? Darth Vader também foi desmontado e remontado, passou por um longo processo de negação até a redenção final. Nos dois casos, há sempre uma relação forte com alguém, seja um amor, um filho ou uma mochila. 

Comumente temos a pretensão de sermos inteiros. O espelho nos passa essa impressão. Não obstante, longe dele, a vida nos mostra que não, que não somos uma partícula, um pontinho no espaço, sem massa, sem forma, para facilitar o cálculo. Somos um amontoado de dias, de vivências e de fracassos e frustrações. Viver é ser desmontado a cada passo. Geralmente, histórias ficcionais fechadas nos trazem essa sensação de que, no fim, vai dar tudo certo. Mas, convenhamos, nossa vida não é uma trilogia do James Gunn que dura 10 anos. 

“Eu amo a maneira como a experiência nos atravessa a tal ponto que o passado se torna eterno em nossos corpos. E ele passa, em alguma medida, a ser presente. E nos acompanha no trajeto futuro”, me disse uma amiga ao refletir quando conversávamos sobre viver momentos maravilhosos e marcantes. E somando isso ao o assunto recomeço, me baguncei todo, confesso. Por isso esse texto.

Como viver um dia após o outro e lidar com a ideia de recomeço? É possível recomeçar todos os dias? Somos feitos de pegadas? Acredito que sim. Nosso ontem nos faz o que somos hoje. É a partir do que deixamos para trás (deixamos?) que podemos vislumbrar um futuro, novas ações e novas idealizações. Porque, assim como nos filmes, idealizar é o que nos faz tocar o bonde, ver no outro, no objeto, na situação algo que nos inspira e satisfaz. Quem sabe nossos recomeços sejam constantes, numa linha paralela ao nosso viver de hoje?

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