Um genocídio é um extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso. E foi exatamente isso que aconteceu contra a população Yanomami, um extermínio promovido pelo estado brasileiro. Um extermínio, de maneira deliberada através de ações, que sempre esteve ali, talvez sem a mesma atenção que ganhou após a repercussão das imagens que chocaram o mundo, mas estava ali. Sempre esteve.
Estava ali a tragédia quando indígenas da comunidade Walomapi foram recebidos a tiros por garimpeiros no rio Uraricoera, ou quando em quatro barcos invadiram Maikohipi e atiraram bombas. Estava ali quando a comunidade Palimiú foi atacada por 40 barcos com homens armados disparando, ou quando executaram dois jovens indígenas de 20 e 24 anos.
Também estava ali quando a UNICEF alertou sobre a desnutrição crônica das crianças yanomamis. Os dados mostravam que 81,2% das crianças menores de 5 anos sofriam com desnutrição crônica, 48,5% com desnutrição aguda e 67,8% estavam anêmicas. Os números de casos de malária, que subiram 473% logo no primeiro ano de governo Bolsonaro, também ajudam a ilustrar um pouco do horror que essa população foi submetida. Um horror ignorado pela então Ministra Damares Alves, que comandava o Ministério dos Direitos Humanos e não seguiu as recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e não atendeu o pedido de ajuda da Defesa Civil do estado de Roraima. Os mais de 20 pedidos de socorro ignorados pelo governo Bolsonaro resultaram em 570 crianças mortas pela fome.
Um genocídio feito em sociedade entre criminosos do garimpo, que armavam, compravam maquinários e pagavam os seus capangas para invadir, tudo em nome do lucro oriundo do ouro concentrado na região, e pelo então Presidente da República e os seus Ministros e Ministras. As imagens das operações de combate ao garimpo ilegal e as equipes do SUS são um alento, mas não bastam. Assim como no holocausto do povo judeu não bastaria punir apenas os guardas dos campos de concentração sem prender os oficiais e operadores da burocracia nazista, agora não basta prender apenas os jagunços que viviam no meio da lama sem prender quem vivia no Palácio do Planalto. Sem a prisão de Bolsonaro, o chefe do genócidio, a tragédia da injustiça vai continuar por aqui.
Alice Carvalho