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Motel Destino, filme abre o 52 Festival de Cinema de Gramado. Foto:Divulgação

CRÍTICA | MOTEL DESTINO, filme de abertura do 52° Festival de Cinema de Gramado por Dario Pontes

Crítica

O Motel é um lugar de encontros quase sempre fortuitos, erráticos, no mais das vezes, ‘secretos’. Já o Destino é um lugar de permanência, de como se estar no mundo; é a missão de um sujeito, seu caminho na vida.

Quando eu ouvi pela primeira vez o título do mais recente longa de Karim Aïnouz, o tal Motel Destino me pareceu tratar-se de um lugar poético, de existência metafórica no universo simbólico dos personagens. Até pode ser, também. Todavia não. No filme, Motel Destino é o nome de um motel barato de beira de estrada no litoral do Ceará. É nesse espaço ‘realista’ onde se desenreda a trama de um abrasivo triângulo amoroso e sexual de nuances trágicas. Dayana (Nataly Rocha), funcionária e sócia do motel, vive lá de caso com o sócio proprietário do estabelecimento, Elias (Fábio Assunção). Ele, sudestino, ela, nordestina. A dupla vive uma relação tóxica, abusiva, com momentos frequentes de violência contra a mulher. O instável equilíbrio do casal é definitivamente rompido com a chegada ao local do jovem Heraldo (Iago Xavier), em fuga numa guerra de traficantes que encontra ali a possibilidade de um esconderijo temporário. O que acontece entre os três a partir daí pode parecer dramaturgicamente óbvio, mas eu não vou contar pra evitar spoiler, pois espero que todos possam ir conferir a obra nas telonas ou nas telinhas.

Karim Aïnouz é um dos cineastas mais festejados do cinema autoral brasileiro. Dirigiu clássicos como Abismo Prateado, O Céu de Suely, Madame Satã e, mais recentemente, A Vida Invisível de Eurídice Gusmão (2019). Não à-toa, havia em Gramado grande expectativa de toda a audiência sobre esse filme de abertura, que foi exibido no último Festival de Cannes onde, conta a lenda, teria sido aplaudido por doze minutos. A expectativa é uma faca de dois legumes. Pode ter um efeito muito positivo quando o resultado consegue “superar a expectativa”. Mas pode ser decepcionante quando a entrega fica “aquém da expectativa”. A verdade é que o público de Gramado aplaudiu friamente ao final da sessão. E o comentário à boca miúda das pessoas era que “esperava mais do longa”. Eu posso dizer que AMEI o filme.

Considero Karim um mestre genial na direção cinematográfica. Ele costuma esculpir cada cena minuciosamente, como um quadro, uma pintura. E desta vez não fez diferente. Caprichando nos pincéis e paletas de cores quentes, amarela e vermelha, a fotografia do longa é bela e profunda, emoldurando com perfeição o fogo-fátuo das incontáveis e inflamáveis cenas de sexo e nudez.

O recurso da câmera escondida compõe com esmero o aspecto voyer da personalidade do Elias. Bem como o uso alternado de supostas imagens das câmeras de segurança do motel, ajudam a construir o clima de mistério e sedução que permeia a interação dos personagens do triângulo amoroso central, entre si e com os demais clientes do motel. Os sons onipresentes de ‘gemidos’ dão o toque de Midas na ambientação do espectador ao espaço cênico.

O trabalho de Produção da Cinema Inflamável e da Gullane Filmes é esmerado e detalhista, quase documental. As locações são todas memoráveis. O Ceará nunca foi tão tórrido e caliente. Tudo entremeado por elementos realistas e naturalistas precisos, com intencionais toques pseudo-experimentais, usados sempre em favor da trama. Muito bom de se ver.

Os atores dão um show à parte. Os novatos Iago Xavier e Nataly Rocha entregam uma poderosa dupla protagonista que fica ecoando com densidade na memória do espectador. E o veterano Fábio Assunção, no auge de sua potência interpretativa, constrói o antagonista mais cativante da temporada. Vilão sim, mas com carisma e beleza. Nota 10.

Recomendo a todos prestigiarem o filme que entra em cartaz no próximo 22 de agosto com distribuição nacional da Pandora Filmes.

Dario Pontes,
Médico Psiquiatra e Crítico de Cinema para a Rede Sina.

 

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