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Império dos Fazendeiros | por José Renato Ferraz da Silveira

“Há países e épocas em que elites esclarecidas se avantajam, às vezes, às intuições do povo e conseguem levá-lo a novas etapas de desenvolvimento… Há outro onde o povo parece empurrar a sociedade, talvez sem um roteiro de marcha definido, mas com um sentido inequívoco de renovação. Creio que é este hoje o caso do Brasil”.

Parece atual, não? Contudo, essas palavras foram pronunciadas por San Tiago Dantas, pouco meses antes de morrer em 1964.

Há 59 anos!

Qual é o atual projeto nacional? Qual é o nosso “sonho intenso”? Eliminação da pobreza absoluta? Redução da desigualdade em termos relativos? Maior inserção do Brasil ao lado das grandes potências? Integração latino-americana? Integração às correntes e ao dinamismo da economia globalizada?

E diante desses inúmeros projetos, qual o papel da nossa “elite esclarecida”? Vale ressaltar que a ideia de elite esclarecida parte da premissa que são lideranças políticas e econômicas responsáveis e dignas. Elas podem mostrar um caminho e um destino para a Nação.

Recordo-me do intelectual José Guilherme Merquior quando escreveu que o projeto nacional de mais longa duração de nossa história, o liberal-oligárquico (1850-1930), o “Império dos Fazendeiros”, se tornou viável pela inserção do Brasil no comércio mundial da época. A nossa integração na economia internacional se deu através das exportações de produtos tropicais que possibilitaram no plano interno a manutenção por muito tempo da estrutura escravocrata e de latifúndio agrário.

Muito tempo passou e o Brasil continua sendo o “Império dos Fazendeiros”. Ainda somos os maiores produtores e exportadores de commodities no mundo, em especial as commodities agrícolas e minerais.

De acordo com a Agência Brasil, “nos três primeiros meses do ano, a balança comercial acumula superávit de US$ 16,068 bilhões. Isso representa 29,8% a mais que o registrado nos mesmos meses do ano passado pelo critério da média diária. O saldo acumulado também é o mais alto para o período desde o início da série histórica”. Conforme o Suno Notícias, Supersafra do agro em 2023 deve injetar mais de R$ 1 tri na economia brasileira.

 

Vale destacar que na última eleição presidencial, os maiores doadores eleitorais de Bolsonaro vieram da rica comunidade do agronegócio do país. De acordo com o Money Times, “juntos, eles respondem pela maior parte dos R$ 22,2 milhões que o ex-presidente recebeu em mais de 250.000 doações, na maioria pequenas quantias de pessoas físicas, segundo uma análise da Bloomberg das contas eleitorais”.

Ainda de acordo com o estudo, em comparação, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva arrecadou menos de R$ 1 milhão.

Segundo José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro: “Os agricultores apoiaram Bolsonaro em massa porque foram quase perseguidos historicamente por causa da questão ambiental no Brasil (…) mesmo quando queriam fazer a coisa certa, sempre acabavam ligados ao desmatamento”.

Não podemos ignorar que em relação ao desmatamento no governo Bolsonaro: “o balanço parcial de 2022 consolidou a explosão do desmatamento. Os piores números de desmatamento entre janeiro e agosto registrados pelo SAD aconteceram nos últimos quatro anos, com o total saltando de 4.234 km2 em 2019 para 7.943 km2 em 2022”.

Para finalizar, no Blog de Andréia Sadi: “o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse ao blog que foi desconvidado da Agrishow, maior feira de agronegócios do país. Segundo Fávaro, a organização queria constrangê-lo politicamente, ao adiar a sua participação para que ela acontecesse depois do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)”.

Na noite de sábado (29 de abril), pressionada por expositores, as associações organizadoras da Agrishow anunciaram num comunicado o cancelamento da cerimônia de abertura.

No domingo (30 de abril), o ex-presidente Bolsonaro (PL) viajou a Ribeirão Preto para participar da abertura da Agrishow (cuja cerimônia foi cancelada  no dia anterior pela organização).

Pois bem, “Bolsonaro reviveu em Ribeirão Preto o clima de campanha eleitoral de 2022” (Folha de São Paulo).

De fato, a eleição presidencial brasileira de 2022 ainda não acabou!

Pela minha contagem, estamos no sexto turno.

Obs: O Banco do Brasil aplicou R$ 35 bilhões no Agronegócio no 1° trimestre de 2023, valor 34% superior ao mesmo período de 2022, no governo Bolsonaro. Na comitiva à China, Lula levou 100 empresários do agronegócio. A China é o principal destino das exportações do agro, com destaque para a soja, celulose, cana de açúcar, carne bovina e carne de frango.

 

Prof. Dr. José  Renato Ferraz da Silveirajosé

Professor Associado III do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) . Líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP). Editor-chefe da Revista Interação (ISSN 2357-7975). Articulista do Diário de Santa Maria . Colaborador do Blog Obvious
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