Segundo o que sabemos sobre Física atualmente, não dá para voltar no tempo. Há como alterar o tempo de um referencial para frente, nunca para trás. Isso de forma teórica, muito bem “demonstrada” na prática no filme Interestelar (2014), dirigido brilhantemente por Christopher Nolan. Mas, entrando na liberdade poética da ficção científica, tudo pode e temos aí os live actions de Marvel e DC voltando no tempo, visitando universos alternativos e tudo mais. A mais recente peripécia temporal e multiversal está no filme The Flash, dirigido por Andy Muschietti, lançado no último dia 15 de junho no Brasil.
Cercado de polêmicas em função do ator que interpreta o velocista escarlate, Ezra Miller, o filme chega às telonas confortável em si mesmo. Após adiamentos e mudanças de roteiro, regravações e tudo que um filme deste calibre carrega, o produto final é satisfatório para quem gosta deste universo de quadrinhos. The Flash traz um monte de fanservice, e eu não vou entrar em detalhes para não estragar a experiência de quem ainda não viu. Mas não tenho como fugir do tema do filme, que não é segredo para ninguém, pois é da essência do personagem querer voltar no tempo e salvar sua mãe da morte. A trama está envolta nas consequências que uma mudança no passado pode trazer ao presente. E se a gente pudesse voltar no tempo e mudar alguma coisa? Tentador, não? Até demais.
O passado está escrito e gravado em nossa memória, faz parte de nosso crescimento e não tem choro. Mas e se a vida nos oferece a chance de retomar de certo ponto? Como se um hiato houvesse se estabelecido e cessado no espaço-tempo. O quanto a gente aprendeu com erros e acertos do passado nos colocaram no presente da forma que somos/estamos? Barry Allen aprende na força que é melhor seguir em frente, que a vida é uma e nada que ele faça vai consertar o passado. Siga em frente, Barry, não tem jeito.
Fora da ficção, a coisa já é diferente, não é mesmo? Certo que não podemos voltar no tempo e no espaço. Mas podemos reavaliar, rever, recomeçar, reciclar as coisas da vida. Reciclar é interessante, não no sentido ambiental. Mas no “re”, de de novo, e no “ciclar”, de voltar, movimentar.
Quando o passado vem nos visitar, muita coisa nos toca, nos atravessa. Para mim é uma pororoca de lembranças. Estou organizando um material para lançar em livro em breve. Isso me balançou bastante. Revisitar minhas dores localizadas num espaço e num tempo específicos, foi como voltar no tempo. Lá existiam paixões, motivações, ideais e ideias que, hoje, não existem mais. Mas tudo parece tão vivo quando a gente entra nessa máquina do tempo! Ora, é impossível voltar, mas é possível reviver. Pelo menos quando há memória. E afirmo a vocês: há hiatos que, se quebrados, viram novas histórias, com novas perspectivas, mas com aquele sabor doce que só a saudade sabe elaborar enquanto a gente correu para a frente atrás do relógio.