Sabe. Sempre fui dessas pessoas que abria a boca para dizer que achava uma bobagem tomar remédios. Sempre tive um preconceito enooooorme com viciados. Em qualquer tipo de coisa: álcool, drogas (lícitas ou ilícitas) cigarro então. Ui, que nojo!
Sempre fui a favor da terapia tradicional. Chás. Florais. Nada que uma boa conversa com uma amiga, uma tarde de risadas em uma mesa e um café quentinho não resolvesse, não é mesmo? Pois é…
Até que ELES viraram minha vida de cabeça para baixo. Escrevi um livro que ELES não gostaram. Uma sátira ao poder judiciário que caiu no gosto do povo (Causos da Comarca de São Barnabé é o nome) e ELES resolveram me processar. Civil e criminalmente.
Eu tive que me mudar. De humor. De cidade. De estado. Largar minha família. Vender meu apartamento. Perdi quase todos os meus clientes. Fiz dívidas. Perdi o sono, a paz. Divulgaram meu endereço residencial no sistema do poder judiciário. Estou me mudando de endereço pela terceira vez em menos de dois anos.
Não posso falar detalhes de um dos processos. Não posso falar o nome do vilão do MEU LIVRO livro. Meu livro de ficção! Não posso mencionar o nome do homem que me processa, porque ele é juiz Se eu escrever qualquer coisa nas minhas redes sociais, vou pagar uma multa (bem salgada). Fora a multa diária que já está fixada.
Removeram 30 postagens minhas da internet (trechos do livro que consideraram ofensivos). Tiraram minhas páginas do ar durante dois dias. A Associação dos Magistrados de Santa Catarina está ao lado dele. O Ministério Público também. Dizem que me inspirei no cara para criar o vilão. É mole? Não, não é.
Terapia não serve para mim. Florais? Ah, florais…
Fiquei sem dormir. Semanas. Precisei de medicação. Tarja vermelha. Agora preta. Tomo quatro comprimidos diariamente. Se não tivesse um bom médico eu beberia. Se não tivesse família, se não tivesse apoio, talvez usasse alguma coisa mais pesada. Eu entendo quem faz isso. Não julgo mais quem apela para o cigarro. Não reclamo mais da catinga quando avisto um fumante na rua. Não torço mais o nariz. Sou solidária. Agora eu entendo o que estas pessoas sentem. É uma fuga.
Às vezes a gente precisa fugir.
SAÍLE BÁRBARA BARRETO é advogada, contadora de histórias e bruxa malvada nas horas vagas.