CONTOS

2008:
FUTEBOL AO SOM DE “RAUL”
Algumas pessoas encontram a coragem ao romperem com seus próprios conceitos. Eis a história de Maira, mais uma mulher entre tantas que precisam apenas tomar uma decisão para ser feliz na vida.

Maira precisava organizar as idéias, colocá-las numa prateleira, todas empilhadinhas e escolher uma, focar a vida.Mas se dispersava com qualquer barulho da rua, não conseguia concentrar-se. Dizia a si mesma que precisa decidir… subia nas escadas dos livros, tentava fazer brilhar alguma idéia bendita. Pedia conselhos, ouvia todos… mas não compreendia… afinal quem a entenderia… se nem ela entendia. Buscou nas experiências alheias, relatos e nada… nada vinha…. só uma pressão maior… o tempo se esgotava a cada hora, cada dia, minuto. Maira pirava sozinha. Certo dia comprou um cigarro (ela não fumava), uma bebida (ela não bebia) e um pouco de maconha (ela não usava drogas, era careta mesmo!) e foi para casa. Começou pelo cigarro, deu uma boas baforadas e umas boas risadas, rompia com toda a educação da escola, da família, do governo, da “puta que o pariu” que dissesse que fumar fazia mal. Naquele momento, pra ela, fazia bem.Pegou um copo e serviu a bebida, lembrou de um namorado que adorava um trago, brindou a ele.- Salve o idiota! – gritou depois de mais uns goles (ela não gritava)Por sorte conseguiu comprar um baseado já fechado, afinal ela não precisa de nenhum inteiro. Alguns “pegas” já levavam Maira há um outro estado de consciência. Ligou a TV, passava algum jogo de futebol. Divagou sobre 22 “retardados” correndo atrás de uma bola. Até que então se deu conta, que era disso que precisava, marcar um gol! E vibrar a sua vitória!Nunca prestou atenção tanto ao futebol como naquele dia. Precisava elaborar estratégias, ser zagueira, meio-campo, atacante e goleira, afinal tomar um gol estava fora de cogitação. Passou a organizar o time, ser a técnica de si mesma… . Ao som de Raul “controlando a minha maluques, misturada com a minha lucidez”, traçava seus próximos objetivos, tentava ficar maluca, algo que nunca se permitira. No dia seguinte, acorda com ressaca, os cabelos piores do que costume. Ainda bem que moro sozinha – repetia a si mesma. Liga o rádio e lá vem Raul de novo…. “tente outra vez…”.- Porra (ela não falava palavrão) Raul! Eu a recém comecei… a pensar diferente!Maira desandou, caiu em choro. Aquele maluco dizia tudo que parecia certo… Mas ela que era a “certinha” que fazia tudo “conforme o regulamento” estava ali em prantos, desesperada por uma decisão que parecesse mais plausível… e com a certeza de que de “certa”, virou “louca”… porque “louco é quem me diz que não é feliz”. Cansada de jogar na defensiva, desligou o rádio (rompiam-se conceitos, decisões). E antes que começasse o “segundo tempo”, partiu para o ataque. Saiu da gaveta, uma nova Maira… e nem foi preciso empilhar tantas “fitas”. Continuou “careta” como sempre foi (não curtiu a ressaca)…mas capaz de cometer “loucuras”, quebrar “padrões”. – Foi ela, atrás do que sempre quis pra sua vida! – – Antes tarde do que nunca – dizia Maira quando abriu a porta de casa decidida.



2008:
FOSSA

Matias acordava de um sono profundo, era um novo dia e sua vida seria a mesma de ontem, de antes de ontem, nada mudava. Sua rotina era a mesma, de manhã: café, trabalho, ao meio-dia: almoço em algum shopping, tarde: trabalho, noite: horas frente à TV ou lendo notícias na internet. Aos fins de semana namorava.Já estava monótona a sua vida. Matias um rapaz de 30 anos, sem filhos, com espírito aventureiro, empregado numa firma em que a maior parte do tempo trabalhava em uma sala. Pelo menos a vista da janela era boa.Antes de dormir imaginava tantas possibilidades sobre si, sua vida, futuro que ria de si mesmo ao pensar que mais tarde morreria de com câncer no cérebro de tamanha imaginação que este continha.Seu gosto pela noite era incomum. Quando só, o silêncio e seus pensamentos o bastavam, em grupo era algum bar, boteco, festa.Mas nessa rotina que adotara para si, nada era melhor que sua imaginação e seus sonhos. Matias sonhava todas as noites, sentia-me mais vivo dormindo que acordado. Em um sonho reunia diferentes emoções que na vida real não tinha há meses. E a vida seguia…. .Até que um dia sonhara com sua mãe, já falecida, segurando um rolo de pão entre mãos, com farinha no avental, gritando-lhe:- Levanta dessa cama guri, se continuar assim, não vai tocar nunca essa vida pra frente.Acordou num susto às 3 da manha, lembrou na hora das palavras de seu pai “para um bom entendedor meias palavras bastam”. Foi até a cozinha, serviu um suco de uva, sentou-se sobre a mesa e chorou. Sua mãe tinha razão, ele ainda estava dormindo, trabalhava para se sustentar, namorava uma menina que não sabia se um dia casaria e ainda por cima não fazia o que gostava, não correrá atrás de seus sonhos e nem tentara sequer sair da sua cidadezinha.Quando amanheceu, logo foi ao trabalho pediu demissão, passou no banco transferiu todo dinheiro da poupança para conta, foi até a namorada e pediu um tempo indeterminado. Alegava que precisava ficar sozinho e pensar.Chegou em casa, arrumou as malas, dirigiu até a capital, deixou o carro num amigo e foi para o aeroporto.Sentou-se num banco confortável e pensou “e agora para onde eu vou?”. Dormiu.Acordou-se, estava na sua cama, tinha sido só mais um sonho…Levantou-se, seguiu a sua rotina.

2005:
O Amor

Certo dia o amor ficou brabo. Os casais não estavam mais se amando e se separavam várias vezes, deixando um vazio no peito. As pessoas, no inconsciente, vagavam, buscando um sentido. O amor vendo tudo isso, cansou e se recolheu.Neste dia, o Cupido ficou doente, muito doente. Mesmo assim resolveu ir trabalhar. Soltou várias flechas, mas elas não continham a magia do amor. E os casais começavam a ter relacionamentos rápidos que, às vezes, não passavam de um dia apenas. E assim foi. Uma geração inteira à procura de sentido. E nela as relações pediam amor, mas não passavam de instantes de sedução e prazer.Deus vendo tudo aquilo foi conversar com o Amor, que já não saia mais de casa.- Amor, deve trabalhar. Não vê como esta geração está?- Vejo sim, por isso me recolho. Ninguém quer saber do Amor!Então Deus convidou o Amor para dar passear na Terra entre os homens.- Veja Amor! As pessoas buscam o amor, desejam-no, guardam no peito. Algumas no inconsciente, outras consciente. Mas veja…Deus convidou agora o Amor para se aproximar um pouco mais, e então passearam por vários lares, quartos, bares, etc.O amor então chorou.- Oh meu Deus, como pude deixá-los tão só!- Sim Amor, a humanidade clama teu nome no inconsciente coletivo.Veja essa pequena luz branca que há em seus corações. Eles ainda possuem a esperança, mas temem. Temem amar porque já sofreram demais, temem falar sobre seus sentimentos, temem um envolvimento porque perderam a confiança, temem e temem e, às vezes, acreditam numa moral que nunca fez sentido, porque só tu és verdadeiro, Amor. És um servo de grande valia minha, confiança. Sei que és incondicional, e jamais se apegaria a preconceitos. Veja Amor, com seus próprios olhos, como buscam o amor de forma errada. A humanidade precisa de ti. O amor então abraçou a humanidade, num calor profundo e todos adormeceram … até serem despertos por um grande amor.E desde então, os homens dormem porque se baseiam ainda nas próprias leis e moral e não nas de seus corações. Deus, muito justo e sensato, deixa que os homens façam suas próprias escolhas. Só cresce aquele que busca e descobre o próprio caminho. A humanidade é uma criança que dorme no berço. Mas quem é que o balança?

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