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Imagem de Ri Butov por Pixabay

BAÚ NO SÓTÃO | E por falar em eternidade

POR MENALTON BRAFF

Tenho aqui, à minha frente, as laudas do livro Eternidades na palma da mão, da Mara Senna, quem me concedeu o privilégio desta leitura prévia.

Este é seu terceiro livro de poemas. Luas novas e antigas, o primeiro, já vem com o carimbo de alta qualidade poética, sem os canhestros titubeios de uma estreia. Mas aquilo que eram qualidades humanas e literárias, no livro anterior, veio ainda com mais força em seu segundo livro, Ensaios da tarde, quando a poeta já se firmava como uma das mais brilhantes estrelas do cenário literário ribeirão-pretano.

Há neste novo livro, em que a eternidade cabe na palma da mão, um afinamento instrumental que só confirma a Mara como uma das mais felizes expressões poéticas das novas gerações literárias brasileiras. A delicadeza das ideias aliada ao modo delicado de dizer, eis o feliz encontro entre os planos do conteúdo e da forma, que é a condição para que se atinja a essência da poesia, como é o caso da Mara.

A dor ou as dores da existência, o sentido de incompletude da vida, o anseio por chegar  além do ramerrão do dia a dia, resulta um certo tom melancólico que perpassa por boa parte de seus poemas.

  Porém, para as coisas não vividas,/ mas tão ardentemente desejadas,/ só consegui inventar desculpas/ esfarrapadas,/ e estendo a elas/ essas mãos vazias de eternidade.

Muitas vezes encontramos passagens da mais pura metafísica, em lugar do lirismo predominante, mas sem ranços de filosofês. Eis um exemplo:

Uma rosa branca na escuridão/ não se deixa tingir de negrume,/ muito menos se deixa contaminar/ de amargura;/ continua a ser o que é,/rosa branca e pura.

Em muitos de seus poemas, a simplicidade atinge uma beleza raramente encontrada nos tempos atuais. São verdadeiras pedras preciosas escondidas que sua poesia revela, como em Eu tenho o sono das costureiras,/ atulhadas de encomendas,/ fatigadas em vésperas de festas.

Aspecto deste livro de poemas que não se pode deixar de citar são as aproximações sonoras. No poema Agulha, podemos encontrar: quieta, inquietação, espeta, testa, ecoa, escoa. São exemplos de exploração sonora, um dos pilares da poesia, recorrentes neste volume. Em Mil e uma, o mesmo recurso aparece novamente: milagre, acre, sabre, abre, lágrimas.  O poema Desabafo é uma verdadeira alegoria em que são utilizados três versos de Manuel Bandeira como encerramento.

Mas a Mara Senna toca muitos instrumentos poéticos, como, por exemplo, passagens de humor neste Fita métrica: Quando me enlaçavas a cintura,/ davas mil voltas ao redor de mim./quando foi que teus braços encolheram/assim?

A força do erotismo de alguns de seus poemas está, sobretudo, na delicadeza e na pureza de suas ideias.

Estamos assistindo à ascensão de uma poeta com talento e vocação para altos voos.

 

Menalton Braff nasceu em Taquara (RS) e radicou-se em São Paulo (Capital e interior) Formado em Letras, com pós lato sensu exerceu o magistério superior antes de mudar-se  para o interior onde se dedicou ao ensino médio. Tem 27 livros publicados, sendo nove infantojuvenis e catorze de literatura geral (contos e romances). Conquistou o Jabuti, livro do ano em 2000, com À sombra do cipreste, foi finalista da Jornada de Passo Fundo em 2003, finalista do Jabuti (contos) em 2007 e finalista do Jabuti e do Prêmio São Paulo de Literatura (romance) em 2008. Pela Editora Reformatório teve publicados Amor passageiro (coletânea de contos) e Além do rio dos Sinos (romance), livro com que conquistou o Prêmio Machado de Assis, da Biblioteca Nacional.
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