POR SAÍLE BÁRBARA BARRETO
Sábado. Passava um pouco das oito horas, quando acordei com o telefone tocando. Era um cliente. Veio lá do oeste de Santa Catarina. Foram horas dirigindo. Ele queria ver o filho, almoçar e dar um passeio. Já veio ontem depois do trabalho. Ficou em um hotel. Foi buscar o menino, mas a mãe não abriu a porta.
Dei as orientações devidas e fiquei pensando: isso é tão comum. O casal, se apaixona, casa, têm filhos e depois do divórcio não quer mais contato. Ok, mas as crianças não têm nada com isso. Não há o menor sentido em querer separar os filhos de seus pais. Sempre pergunto, quando acontece isso, qual é o motivo?
Por que os detentores da guarda não querem mais que os filhos tenham contato com o ex-marido/ex-mulher? E sempre respondem que acham perigoso. Depois do divórcio, aquela pessoa, um dia tão amada, virou um estranho. Um “monstro terrível”, que não pode ficar sozinho com as crianças.
O engraçado é que antes do divórcio não pensavam assim. Tiveram filhos juntos, não é mesmo? Foi só pela atração? Não pensaram se o outro seria um bom pai ou uma boa mãe? Sério mesmo? Juro que custo a acreditar…
E fico aqui pensando também: é mesmo uma preocupação ou uma forma de vingança? Porque se há motivos para preocupação, há mecanismos (muitos) de monitorar, e até impedir as visitas com ordem judicial, mas se é só vingança (e na maior parte dos casos é) quanta estupidez…
Nossa, por que são tão infantis? Para se vingar do ex-marido ou ex-mulher, não pensam no sofrimento das “crias”? É muita falta de bom senso, viu. Não gosto de fazer busca e apreensão de crianças e não faço. Não aciono juízes no plantão, se não for caso de vida ou morte. E, principalmente, não traumatizo crianças, com oficial de justiça, chegando para buscá-las à força, como se fossem o “bicho papão”. Nem adianta insistir. Agora, uma ação de reversão de guarda, por alienação parental, uma audiência, um bom puxão de orelha do Promotor de Justiça. Isso eu acho muito justo, muito produtivo, inclusive…
E seria tão fácil evitar este transtorno todo, se as pessoas escolhessem melhor com quem irão ter seus filhos. Se pensassem antes de colocar um ser humano no mundo. Se refletissem sobre algumas questões básicas, como por exemplo: este meu parceiro (a) possui os mesmos valores que eu pretendo passar para a criança? Se nos separarmos, ele (a) vai continuar presente na vida do nosso filho? Ele (a) possui condições de arcar com 50% das despesas da criança? E se ele faltar, eu tenho condições de arcar com tudo sozinho (a)? É o momento mesmo?
Ah, tanto sofrimento seria evitado. Pena que muita gente não pensa assim, viu.
SAÍLE BÁRBARA BARRETO é advogada, contadora de histórias e bruxa malvada nas horas vagas.