Essa semana resolvi postar na minha página a fotografia da Miss Alemanha 2022. Não que eu goste dos tais concursos de beleza, mas, é inegável que a vitória de Domitila Barros, uma imigrante brasileira negra (preta para quem preferir) é muito importante em matéria de representatividade para as meninas que estão expostas a um padrão de beleza praticamente inexistente, principalmente ao sul do Equador.
Ocorre que para minha imensa surpresa os comentários foram muito negativos. Jocosos, inclusive. Parece que as pessoas não sabem que beleza é sim, apenas um padrão. Criado e alterado de tempos em tempos, por uma minoria branca e rica, mas que muda. Tem que mudar. Em razão disso, resolvi tocar mais uma vez no assunto. E usar meu espaço aqui na Rede Sina.
Porque não existe beleza. Querem prova disso? Fucem novelas antigas na internet.
Por exemplo. Se vocês encontrarem cenas de Vale Tudo da Rede Globo no aplicativo da emissora irão perceber o que quero dizer.
O ano era 1988. Naquela época, era o máximo da sofisticação era ter um aparelho de som Gradiente e um videocassete no quarto. Não existia celular, os personagens chegavam em casa e perguntavam se alguém ligou. Os carros ficavam horríveis com aquela placa amarela. Eu nem lembrava mais das placas amarelas, acredito que ninguém percebia.
Os cortes de cabelo, os laços, as mangas fofas. Tudo um horror! Imaginem sair na rua hoje assim?
E o vilão, maravilhoso marido da Bruna Lombardi, sempre com suas calças “centropeito” e sem camisa. Nenhum homem possuía muitos músculos. Mulher nenhuma implantava silicone. As sobrancelhas eram muito, muito cabeludas. Algumas atrizes sequer faziam o buço (e dava de perceber).
Atenção: tudo isto não são críticas. são observações (irônicas) de quem olha sem analisar que o padrão muda. Porque apenas o que muda é o padrão. Entenderam?
Se não entenderam, continuem. Ainda na década de 80. Pesquisem mais. Coloquem no Google “chacretes.” Aquele era o padrão de beleza feminino de 40 anos atrás. Agora perceberam?
Pesquisem o padrão masculino então. Pesquisem o clipe “Macho man”. Percebam como para os homens a situação também está cada vez mais complicada com a idealização de corpos que são praticamente esculturas e que levam muitos meninos ao consumo de anabolizantes e meninas a bulimia, ou vice-versa.
Quem quiser pesquisar, tiver tempo para conferir, vá mais fundo. Dia desses, resolvi comprar uns filmes antigos. Assisti a um em preto e branco. Da Marilyn Monroe. Ela era muito engraçada e talentosa, mas, o que me chamou a atenção mesmo foi o padrão de beleza da época. Marilyn tinha um rosto lindo, mas o corpo era normal e, mesmo sendo uma produção em preto e branco, dava para perceber que ela tinha uma barriguinha. O mocinho também não era nenhum “saradão”. Achei legal, as pessoas pareciam mais felizes.
E tudo foi mudando muito, né? Até que chegamos a um padrão inatingível para maioria. Talvez seja justamente isso que os organizadores dos tais concursos estejam querendo fazer. Reverter isso. Causar menos sofrimento e depressão aos adolescentes. Melhorar a autoestima dos mais jovens. Incluir os vários tipos de beleza. Sinceramente, penso que estas são mudanças muito positivas. E não entendo quem não consegue aceitar, principalmente no Brasil, o resultado do concurso “Miss Alemanha 2022.”
Afinal de contas, o que é considerado belo hoje pode não ser daqui 40 anos. E parabéns para Miss Alemanha. Ela é linda, sim.
SAÍLE BÁRBARA BARRETO é advogada, contadora de histórias e bruxa malvada nas horas vagas.