É impressionante. Estamos no ano 2022 e as pessoas ainda esperam que o homem seja MAIS (velho, rico e alto que a mulher). Rachar uma conta de restaurante ainda é tema de enormes polêmicas e, por incrível que pareça, mulheres bem sucedidas, que ganham BEM mais que seus respectivos cônjuges, vão para as redes sociais, exigir cavalheirismo. Cá entre nós, que expressão mais antiquada, hein?!
O que é um cavalheiro, afinal de contas? Um homem que paga uma conta de restaurante sozinho, que puxa uma cadeira para a mulher sentar, que manda flores, muitas irão responder. E, até certo ponto, eu concordo. Querem não gosta de gentilezas, não é mesmo? Quem não gosta de ser cortejada por um homem apaixonado? Só que paixão passa, gurias.
Príncipes encantados não existem. E os reais, aquela meia dúzia que vive na Europa, quando casa, costuma fazer a noiva assinar contratos pré-nupciais sem direito a nada. Pesquisem sobre o contrato que a princesa Kate assinou, se estiverem curiosas.
Sabe, gurias. Antes de me tornar advogada, fui digitadora no fórum durante quatro anos. Metade deste período em vara de família. Vi muitas mulheres com complexo de Cinderela (dessas que casam para serem felizes para sempre) em desespero. Mulheres acostumadas com todas essas gentilezas e que, inclusive largaram suas carreiras, pois seus gentis cavalheiros, que durante o romance diziam “meu dinheiro dá para nós dois” tinham arrumado outras donzelas para cortejar. A paixão acabou e quando acaba, tudo muda. Principalmente, a generosidade do maridinho.
Precisamos acabar com estes clichês todos. A mulher pode também ser MAIS (velha, rica e até alta que o homem). Uma mulher independente não deve ficar chocada de rachar uma conta. Ao contrário, deve ficar satisfeita por poder pagar sua parte e até ajudar um marido/namorado que ganhe um pouco menos que ela. Não é vergonha nenhuma ser bem sucedida. Ivete Sangalo que o diga, linda, rica, casada com um homem mais jovem, que visivelmente é loucamente apaixonado por ela.
O mundo está mudando. As mulheres evoluíram e os homens também. Não é raro pais disputarem guarda de filhos no judiciário em 2022. Vinte ou trinta anos atrás isso não acontecia.
Portanto, normalizem comparecer aos encontros, principalmente aos primeiros, guiando o próprio veículo, ou levando dinheiro para o táxi. Porque caso as coisas não deem certo, é só jogar em cima da mesa a parte de vocês da conta e ir embora embora sem precisar da carona de um cara que talvez vocês não queiram ver nunca mais.
Não pensem “ah, eu invisto em roupa e maquiagem, então ele deve pagar o restaurante.” Este pensamento é medieval e não faz o menor sentido, pois geralmente parte de quem espera que o homem tenha um carro e automóveis dão uma despesa absurdamente alta para quem não sabe. IPVA, seguro, combustível, manutenção estacionamento, saem mais caro que a maior parte dos salões de beleza.
Aliás, não invistam tanto assim na embalagem. Invistam no conteúdo. Trocar um “pé e mão por apenas R$ 50,00” por aquele livro que está em promoção, por exemplo. Também trocar uma parte das prestações com roupas por mensalidades de cursos de idiomas, vão por mim, vai ser mais útil.
Invistam na saúde também. Trocar umas idas ao shopping por uma boa terapia não faz mal ninguém. Viajar, conhecer lugares, culturas diferentes. Isso ninguém arranca da gente.
Sabem aquela história da mulher que sempre via um futuro brilhante para cada homem que ela tocava? Até ela se tocou.
SAÍLE BÁRBARA BARRETO é advogada, contadora de histórias e bruxa malvada nas horas vagas.