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A Internacional Serrotista obra de Daniel Jablonski

A Internacional Serrotista é uma peça de Daniel Jablonski criada especialmente para a segunda edição do “Serrote Ao Vivo”, evento realizado no auditório do Instituto Moreira Salles (SP) em 23 de março de 2019. A obra responde a duas demandas de naturezas distintas: 1. observar o caráter performático do formato, no qual os autores apresentam seus ensaios ao vivo; e 2. fazer uso de um serrote, objeto que dá nome à revista.

                À guisa de capa da publicação, A Internacional Serrotista abriu a noite com um curto trecho de Подруги (Três mulheres), de1935-6. Este filme, do realizador russo Lev Arnshtam, notabilizou-se por sua uma trilha sonora, arranjada por ninguém menos que Dmitri Shostakovich. E, notadamente, por uma versão do hino socialista “A Internacional” (1871), executada de forma propositalmente desastrada no então novo instrumento teremim.

                A performance musical, realizada em colaboração com Tomás Oliveira, baseia-se na transposição desse mesmo arranjo dito “bêbado” para o serrote musical, instrumento caseiro cujo timbre é similar ao do instrumento eletrônico russo. Valendo-se de diversos loops gravados ao vivo, Tomás executou “A Internacional” na íntegra, contando ainda, ao final, com o improviso livre da banda de música experimental Hurtmold.    

                Na esteira de uma eleição presidencial marcada pela especulação paranóica acerca do retorno de uma suposta “ameaça comunista”, o deboche de Shostakovitch na União Soviética parece ganhar por aqui ares de uma inquietante seriedade. 

A INTERNACIONAL

A Internacional; em francês: L’Internationale; é um hino internacionalista, sendo também uma das canções mais conhecidas de todo o mundo. A letra original da canção foi escrita em francês em 1871 por Eugène Pottier, que havia sido um dos membros da Comuna de Paris. A intenção de Pottier era a de que o poema fosse cantado ao ritmo da Marselhesa. Em 1888, Pierre De Geyter transformou o poema em música. A Internacional ganhou particular notoriedade entre 1922 e 1944, oi traduzida em inúmeros idiomas. A canção é tradicionalmente cantada com o punho fechado ao ar. Apesar de estar associada aos movimentos socialistas, A Internacional também serve de hino para comunistas, social democratas e anarquistas. No Brasil, é a canção oficial do Partido Comunista do Brasil.

O ARTISTA: 

 Daniel Jablonski (1985, Rio de Janeiro) é artista visual, professor e pesquisador independente. Sua produção multifacetada, combinando teoria e prática, investiga o papel do indivíduo na construção de novas mitologias e discursos da vida cotidiana.

Seus trabalhos foram vistos em mostras individuais e coletivas no Brasil e na América Latina, notadamente no Instituto Tomie Ohtake, Centro Cultural São Paulo, Paço das Artes (São Paulo), Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre), Centro Cultural BNDES (Rio de Janeiro) ), bem como a Universidade Torcuato Di Tella (Buenos Aires) e a Fundación ArtNexus (Bogotá). Seus escritos, incluindo entrevistas, traduções, ensaios e resenhas críticas, podem ser encontrados em revistas de arte e literatura como Serrote, Amarello (São Paulo) e Octopus Notes (Paris), mas também em revistas acadêmicas como Concinnitas e Poiésis (Rio de Janeiro).
 
Nos últimos anos, conquistou diversos prêmios de aquisição em mostras e feiras nacionais de arte, tendo sido indicado duas vezes ao Prêmio PIPA de arte brasileira, além do Programa de Bolsas e Comissões da Cisneros Fontanals Art Foundation (Miami). Participou também regularmente de prestigiosas residências internacionais, como Fonderie Darling (Montreal), Fondazione Antonio Ratti (Como) e Lugar a Dudas (Cali), esta última premiada como professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (Rio de Janeiro), onde lecionou por quatro anos.

De 2017 a 2021, coordenou e ministrou o curso ‘Histórias da Arte: Moderna e Contemporânea’ no MASP – Museu de Arte de São Paulo. Vive e trabalha entre o Brasil e a França, onde recebeu recentemente uma bolsa da Terra Foundation for American Art (Giverny) e uma residência de longa duração na Cité Internationale des Arts (Paris).

Mais sobre em: https://danieljablonski.org/Internacional-serrotista

 

LETRA:

 

A INTERNACIONAL

De pé, ó vítimas da fome
De pé, famélicos da terra
Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra
Cortai o mal bem pelo fundo
De pé, de pé, não mais senhores
Se nada somos em tal mundo
Sejamos tudo, ó produtores

Bem unido façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Senhores, patrões, chefes supremos
Nada esperamos de nenhum
Sejamos nós que conquistemos
A terra-mãe livre e comum
Para não ter protestos vãos
Para sair desse antro estreito
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós nos diz respeito

Bem unido façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Crime de rico a lei o cobre
O Estado esmaga o oprimido
Não há direitos para o pobre
Ao rico tudo é permitido
À opressão não mais sujeitos
Somos iguais todos os seres
Não mais deveres sem direitos
Não mais direitos sem deveres

Bem unido façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Abomináveis na grandeza
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu
Querendo que ela o restitua
O povo só quer o que é seu

Bem unido façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Fomos de fumo embriagados
Paz entre nós, guerra aos senhores
Façamos greve de soldados
Somos irmãos, trabalhadores
Se a raça vil, cheia de galas
Nos quer à força canibais
Logo verá que as nossas balas
São para os nossos generais

Bem unido façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Pois somos do povo ativos
Trabalhador forte e fecundo
Pertence a Terra aos produtivos
Ó parasitas, deixai o mundo
Ó parasita que te nutres
Do nosso sangue a gotejar
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o Sol de fulgurar

Bem unido façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

L’internationale

Debout les damnés de la terre
Debout les forçats de la faim
La raison tonne en son cratère
C’est l’éruption de la fin
Du passé faisons table rase
Foule, esclaves, debout, debout
La monde va changer de base
Nous ne sommes rien, soyons tout!

C’est la lutte finale
Groupons nous, et demain
L’Internationale
Sera le genre humain

Il n’est pas de sauveurs suprêmes
Ni Dieu, ni César, ni tribun
Producteurs, sauvons nous nous-mêmes
Décrétons le salut commun
Pour que le voleur rende gorge
Pour tirer l’esprit du cachot
Soufflons nous même notre forge
Battons le fer quand il est chaud

C’est la lutte finale
Groupons nous, et demain
L’Internationale
Sera le genre humain

L’état comprime et la loi triche
L’impôt saigne le malheureux
Nul devoir ne s’impose au riche
Le droit du pauvre est un mot creux
C’est assez, languir en tutelle
L’égalité veut d’autres lois
Pas de droits sans devoirs dit-elle
Égaux, pas de devoirs sans droits!

C’est la lutte finale
Groupons nous, et demain
L’Internationale
Sera le genre humain

Hideux dans leur apothéose
Les rois de la mine et du rail
Ont-ils jamais fait autre chose
Que dévaliser le travail
Dans les coffres-forts de la bande
Ce qu’il a crée s’est fondu
En décrétant qu’on le lui rende
Le peuple ne veut que son dû

C’est la lutte finale
Groupons nous, et demain
L’Internationale
Sera le genre humain

Les rois nous soûlaient de fumées
Paix entre nous, guerre aux tyrans
Appliquons la grève aux armées
Crosse en l’air et rompons les rangs
S’ils s’obstinent ces cannibales
A faire de nous des héros
Ils sauront bientôt que nos balles
Sont pour nos propres généraux

C’est la lutte finale
Groupons nous, et demain
L’Internationale
Sera le genre humain

Ouvriers, paysans, nous sommes
Le grand parti des travailleurs
La terre n’appartient qu’aux hommes
L’oisif ira loger ailleurs
Combien, de nos chairs se repaissent
Mais si les corbeaux, les vautours
Un de ces matins disparaissent
Le soleil brillera toujours

 

 

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