Livro tem cheiro de mofo, tem cheiro de tinta, de café, de papel novo, de papel velho. Livro tem cheiro até de internet.
Livro tem risco, marcador amassado, marcador de led, marcador de galho, folha, guardanapo e carta antiga.
Livro nasce, livro é documento, é registro histórico. Livro é coisa séria. Mas livro, também, é piada, pintura e culinária. É terror e fantasia, amor e ódio, gerra.
Livro é rede ao pôr do sol, é poltrona e luminária. Livro é banco de praça e mesa de bar. Livro é travesseiro e banco de ônibus. Livro não tem lugar, ele é lugar. É viagem, é travessia e encontro. Livro carrega a gente para onde até nem existe.
Livro debate, rebate e amplia. Livro dorme na cabeceira da cama, na estante, no banheiro. Livro voa e se multiplica. Livro fica raro. Livro é tesouro e eldorado. Livro alimenta sonhos e desmonta certezas.
Livro é começo, caminho e fim. Livro é abertura, tese e despedida. Livro é vida contada em letrinhas. Livro foi até fogueira, infelizmente. Livro é, também, um pouco de morte. Mas o livro, esse guerreiro, é imortal tanto quanto quem escreve o tal.
Neste 28 de abril começa a 50ª edição da Feira do Livro de Santa Maria. Um indizível número de nomes e ideias organizadas, ou não, em ordem alfabética. Um ziguezague de pernas, mãos e sacolas que carregam blocos de papel colados, encadernados e cheios de letras de tamanhos variados. Uma praça cheia de encontros e abraços. Uma ode ao mundo e sua história, uma celebração do que temos de mais íntimo. A Feira do Livro é uma parada no tempo, mesmo que só de passagem. É como se, ao passar por ali, nosso corpo absorvesse algo inexplicável. Passar pela Feira do Livro é encontrar pegadas de mais de cinquenta anos. Revisitar o passado, trombar com seu eu de anos anteriores. A história das Feiras se escreve no tempo e naquele espaço, onde nos recontamos, nos reencontramos e nos vemos na timeline da vida.
Rodrigo Ricordi,
39 anos, é jornalista e fotógrafo. Apaixonado por cinema, música, quadrinhos e séries, busca na arte o sentido da vida.