por Boca Migotto
Quando criança, em Carlos Barbosa, no início dos anos 1980 do século passado, as livrarias eram o nosso Google.
Nessa época, então com 5 ou 6 anos de idade, havia apenas uma, que funcionava exatamente em frente à minha casa, no centro da cidade. Se chamava Livraria Apolo e tinha, na sua placa de identificação, sobre a porta, o desenho de um foguete meio desgovernado. Só fui entender qual era daquele foguete quando trocaram a placa rudimentar, de madeira, por uma toda luminosa, dessa vez, apenas com o nome. O foguete se perdera no limbo da memória. Foi mais ou menos na mesma época quando ocorreu a troca das placas que, há poucos metros dali – sim, porque naqueles anos o centro da cidade se resumia a duas quadras – abriu a segunda livraria da cidade. Esta se chamava Livraria Papelada.
A primeira, mais antiga e tradicional, expressava isso também na sua aparência. Era uma sala pouco iluminada, em um prédio antigo. O piso era de cimento queimado, escuro, – antecipando tendências contemporâneas da arquitetura de interiores – e os móveis pesados, de madeira, deixavam tudo ainda mais solene. Sobre os balcões sempre havia pilhas de jornais e, por isso, às vezes mal dava para ver o atendente, escondido pelos periódicos. É preciso lembrar que falamos da “era de ouro” dos impressos e a Livraria Apolo era o principal ponto de recebimento e distribuição de jornais na cidade. Por esse motivo, a livraria abria inclusive nos domingos pela manhã, para entregar, sobretudo aos assinantes, a Zero Hora, o Correio do Povo, a Folha da Tarde, durante o tempo que esta existiu, e também os dois principais jornais da “Pérola das Colônias”; o Pioneiro, bem antes deste ser comprado pela RBS, e Correio Rio-grandense. Meus pais assinavam o Correio do Povo e o Correio Rio-grandense mas, aos domingos, comprávamos a edição dominical da Zero Hora que, somando todos os seus cadernos, mais os Classificados, tinha mais ou menos a grossura de um livro de 150 páginas. Quando pré-adolescente – já que depois dos 18 anos comecei a sair aos sábados à noite e acordar apenas com o almoço já servido à mesa – o programa matinal do domingo era ler os diversos cadernos da Zero Hora enquanto o pai assava a carne. Por conta disso, a Livraria Apolo cheirava a papel e tinta. Um aroma que já não é mais familiar às novas gerações mas o qual, para mim, é sinônimo de infância feliz. Ainda hoje, um dos meus maiores prazeres é enfiar a cara dentro de um livro recém comprado para tentar sentir esse aroma de papel impresso.
Voltando a Carlos Barbosa pré-pré-pré-digital, é preciso mencionar que a Livraria Papelada não contava com a mesma aura da Apolo. Inaugurada bem depois – a Apolo abriu as portas em 1973 –, a Papelada era mais “moderna”. Tinha uma proposta mais “limpa”, era mais iluminada, os seus móveis eram cobertos por vidros transparentes, as paredes eram brancas e o chão era revestido por um carpete bege novinho em folha. Embora também oferecesse revistas e material escolar e de escritório, a Papelada não trabalhava com jornais. Sua principal aposta eram os presentes, principalmente jogos e brinquedos. Era um lugar legal para comprar lapiseiras – eu adorava lapiseiras – e, claro, canetas recém lançadas como aquela “Bic quatro cores”, o suprassumo da modernidade em sala de aula. Essas coisas sempre chegavam primeiro na Papelada que, se não abria nos domingos, por outro lado, fechava, diariamente, uns quinze minutos depois da Apolo. Isso permitia que a gente saísse do colégio e ainda a encontrasse aberta para gastar o dinheiro economizado da merenda em revistas, nosso grande barato. Caso nos atrasássemos, ficávamos sem a leitura pós-almoço e tínhamos que segurar a ansiedade até a uma e meia, quando reabria a Apolo. O esquema era complexo, uma fechava mais tarde a outra abria mais cedo.
Para nós, crianças, mexer nas revistas não era proibido. Então, passávamos horas sentados no chão, ao nível dos gibis – sempre as primeiras revistas na prateleira – folhando a Turma da Mônica ou Tio Patinhas e Pato Donald. Esses eram os que eu, particularmente, mais gostava. E eu era metido, curtia mesmo era ler o Almanaque mensal da Disney o qual, para uma criança, era praticamente um livro.
No entanto, do Mickey eu nunca gostei. Aquele ratinho extremamente correto em tudo, sempre perfeitinho demais, nunca me desceu muito bem. Preferia o Pateta.
Até hoje, pessoas perfeitas demais me irritam e, para além disso, quase sempre a suposta perfeição esconde alguma bizarrice ou, no mínimo, além de irreal, é típico de pessoas chatas. Por isso, mesmo que, com o tempo, os gostos foram mudando, este tal de Mickey nunca me enganou.
Na medida que envelhecíamos e crescíamos, também as revistas que nos interessavam eram disponibilizadas nos “andares” mais altos das prateleiras. Aí já era a época da Revista Bizz, da Skating, da National Geografic, da Chiclete com Banana, e da Mad. Uma adolescência bastante eclética, como vocês podem perceber. Ainda havia outras, claro, mas estas citadas eram aguardadas ansiosamente, todos os meses. Eu, pessoalmente, sabia os dias do mês quando cada revista chegava. As livrarias mal abriam e eu já estava lá, com meu dinheirinho contato, para comprá-las. Algumas dessas revistas, depois de lidas, foram recortadas e ganharam uma sobrevida, em forma de colagem, sobre o lado interno da porta do meu quarto. E que sobrevida, uma vez que até hoje o mural “dadaísta” confeccionado por mim, quando adolescente, segue lá, resistindo ao tempo e enfeitando de memória um quarto solitário de mim já há mais de 20 anos.
Ao contrário do que você pode estar pensando, no entanto, nunca cheguei aos níveis mais altos da prateleira da Apolo, onde eram exibidas as Playboys. Não porque não as alcançasse – já era alto o suficiente – nem por falta de interesse – a puberdade bateu relativamente cedo à minha porta. Também lembro que as capas – e as mulheres nas capas – me chamavam a atenção, mas isso não necessariamente se traduziu na compra dessas revistas. Talvez por vergonha, afinal, Carlos Barbosa era minúscula, todo mundo se conhecia, o moralismo reinava absoluto, meus pais eram extremamente rígidos e aquelas pessoas que atendiam nas livrarias nos conheciam desde sempre. Dessa forma, como chegar lá e comprar uma Playboy sem ficar vermelho ou, pior, sem que contassem aos meus pais?
Na Livraria Apolo, inclusive, vivi algo que, acredito, possa ser chamado de “meu primeiro amor”. Eu devia ter uns 7 ou 8 anos de idade e era apaixonado pela menina que trabalhava lá. Ela, imagino eu, devia ter uns 16 anos. Para mim, uma mulher pronta para casar. Só faltava, claro, ela concordar em me esperar alguns anos. Para isso, no entanto, eu precisaria me declarar e fazer a proposta. Infelizmente, minha paixão durou o tempo que ela trabalhou na livraria. Um dia ela se foi e, com ela, se foi a primeira paixão da minha vida. Até hoje não sei quem era aquela pessoa e, provavelmente, nunca saberei. Levando em conta os meus 45 anos, é bem possível que ela seja uma típica vovó de família.
No entanto, lembro bem que naqueles loucos anos da minha infância precoce, todos os dias ia lá para falar com ela. Pegava uma moedinha do meu cofrinho – que era uma galinha de plástico da Caixa Econômica Federal – e atravessava a rua para comprar um giz colorido, a mais perfeita desculpa que eu poderia imaginar para falar com ela. O objetivo era me declarar. Dizer que a amava profundamente e que ela era a menina mais linda que eu conhecia. Que, se o sentimento fosse recíproco, haveria grandes chances de sermos felizes para sempre. Desde que ela esperasse eu ter idade para contar aos meus pais que já tinha uma namorada e, com ela, iria me casar. Infelizmente – ou felizmente – nunca consegui verbalizar aquilo que, talvez, até ela já soubesse. Afinal, quem precisaria tanto de giz colorido?
Várias vezes eu chegava lá e quem me atendia era o Seu Agostinho, o proprietário da Apolo, ou a sua esposa. Quando ela estava lá, e me atendia, no entanto, era ainda mais frustrante, pois eu, obviamente, emudecia. Ela me dizia “oi”. Eu respondia, “oi”. Ela perguntava o que eu queria e eu respondia, “giz colorido”. Ela me alcançava a caixinha de papelão cheia de giz para eu escolher a cor. Eu pegava um qualquer, até porque, a variedade de cores era bem restrita. Efetuado o pagamento, ela me agradecia e, então, na hora de finalmente cumprir o meu plano e declarar meu amor, eu congelava, de pé, na sua frente. Então ela me perguntava, sorrindo – quase rindo, na verdade – “mais alguma coisa?”. E eu respondia que “não” e saia correndo, pela porta da livraria, morto de vergonha. Se isso tivesse ocorrido apenas uma vez, tudo bem. Mas lembro bem que durou um bom tempo, até ela mudar de emprego e eu nunca mais vê-la na vida. Fiquei triste por algumas horas, mas ok. Página virada.
Saudosismos à parte, era uma época de ingenuidade. Provavelmente, essa menina foi a primeira mulher, depois da minha mãe, por quem senti algum afeto. Ao menos, que eu me lembre. Hoje, praticamente 40 anos depois, de certa forma eu revivo a minha infância – e experiências como essa – através do meu enteando, o Arthur, que tem 7 anos. Uma noite eu estava lavando a louça e ele chegou, por trás, todo tímido, me dizendo que precisava me contar um segredo. Ele já tinha uma namoradinha, ela se chamava Júlia, e ele ia se declarar. Falou isso e saiu correndo, envergonhado. Na hora lembrei que o Arthur, provavelmente, nem sabe o que é um giz colorido, daqueles de escrever no quadro negro, mas, por outro lado, ao menos se “apaixonou” por uma menina da mesma idade.
Bom, foi mais ou menos quando tínhamos a idade do Arthur, às vésperas do Natal, que vivi – posso falar por mim, embora éramos três – uma das principais lições da minha vida. Meus pais, pessoas simples e extremamente corretas, sempre me ensinaram que roubar era errado. Minha mãe, particularmente, vivia repetindo que não fazia diferença eu roubar uma agulha ou um milhão, era preciso ser sempre honesto. Em tudo e com todos. Essa educação sempre esteve comigo, ajudou a moldar meu caráter e me fez um adulto que tenta – e digo tenta porque também não sou hipócrita em dizer que não cometo erros – sempre trilhar o caminho do bem – não me confundam com “cidadão de bem”, por favor – e da honestidade. Garanto que, nisso, sou relativamente bem sucedido. Mas sigamos, pois, apesar dos ensinamentos maternos, quando criança, nem sempre éramos – muito menos eu – totalmente obedientes. Algumas vezes escorregávamos na ética e cometíamos pequenos delitos.
Se a minha mãe soubesse eu, certamente, apanharia de chinelo, mas como resistir à travessura de roubar um chiclete na fruteira ou um chocolate no supermercado? Não tenho certeza, mas acredito que isso reunia três elementos os quais, se não justificavam, certamente seduziam: 1) a aventura em si, que vinha acompanhada da excitação em ser pego, 2) o ato de desobedecer que, de certa forma, já representava uma certa rebeldia juvenil e, 3) o prazer inenarrável da guloseima que, acreditem, quando afanada era muito mais gostosa. Seja qual for a explicação, admito, a gente se entregava ao mundo do crime até com um certo prazer dissimulado. E foi nessa fase “fora-da-lei” da nossa biografia pregressa, às vésperas de um Natal, quando, enquanto olhávamos as revistinhas na livraria – isso ocorreu na Livraria Papelada – reparamos uma carteira amarela dando sopa sobre uma caixinha de boneca. A livraria estava lotada de pessoas comprando seus presentes mas, levando em conta o tempo que aquela carteira repousara sobre a boneca, ninguém parecia sentir falta dela. Durante muito tempo ficamos lá, folhando as revistas e cuidando a dita cuja com o canto de olho. Enquanto isso, as pessoas entravam, escolhiam os presentes, compravam, saiam carregando suas sacolas e absolutamente ninguém reparava na carteira que permanecia lá, solitária, ao alcance do nosso afeto. Percebam a complexidade da situação. À nossa frente um universo de possibilidades, representado na variedade de revistas as quais não podíamos comprar porque não tínhamos dinheiro, enquanto, ao mesmo tempo, justamente ao lado, jazia uma carteira que poderia representar o nosso acesso àquele universo todo que desejávamos possuir mas, infelizmente, até aquele momento, apenas podíamos folhar.
Não sei porque, coisa de criança (?), mas o fato é que a pegamos. Sim, sorrateiramente, depois de muito observar o vai-e-vem despreocupado das pessoas, como larápios especializados no “métier” do crime, em uma fração de segundos, enfiamos a carteira sob nossas pequenas bermudas e fugimos dali correndo, sem olhar para trás. Juntos, os três pequenos criminosos, seguimos até os fundos da igreja, que ficava ali perto, onde a abrimos. Então, o choque, seguido pelas pernas bambas, um certo embrulho no estômago e um calorão que subia pelo peito e fazia queimar o rosto envergonhado. Para nossa surpresa, a carteira tinha muita grana e aquilo nos assustou. Não se tratava mais de um roubo ordinário na venda do amigo dos nossos pais, uma brincadeira inconsequente que, se descoberta, no máximo nos custaria umas palmadas seguidas de um castigo qualquer. Aquilo era coisa de “gente grande”.
Nós havíamos ultrapassado a fronteira dos pequenos delitos e nos tornamos verdadeiros bandidos. Praticamente uma formação de quadrilha.
Aquele dinheiro todo não nos pertencia e era preciso fazer algo para corrigir nossa improbidade. Mas e aí, como resolver tal situação? Levar a carteira de volta? Entregar para os nossos pais? Nos entregar à polícia? Mentir? Que mentira contar, afinal, uma coisa era perceber que estávamos errados, outra era assumir isso publicamente. Deveríamos admitir aos nossos pais que éramos bandoleiros desonestos? Assumir que havíamos agido contrariamente a tudo aquilo que eles sempre nos ensinaram? Ironicamente, toda aquela reflexão acontecia na véspera do Natal e atrás da igreja.
Então, depois de muito confabular, tivemos a ideia de entregar a carteira ao padre. Sim, ninguém melhor que o emissário de (d)Deus. Aquele que, inclusive, em poucos anos nos confessaria e acabaria por descobrir todos os nossos pecados mais íntimos. Talvez o nosso crime prescrevesse até a “Primeira Comunhão”, mas não escaparíamos de lhe relatar o fato ocorrido naquela tarde de sábado, véspera de Natal. Assim sendo, cedo ou tarde, ele saberia. Não havia escapatória e o melhor que poderíamos fazer era usar o destino inevitável ao nosso favor. Por isso, aproveitamos que estávamos próximos à “Canônica” e levamos a carteira para a secretária do padre. Ela ficou surpresa com a nossa atitude, nos agradeceu e disse que o vigário divulgaria o achado da carteira na missa de logo mais a noite. E complementou nos tranquilizando que, certamente, encontrariam a dona do dinheiro. Afinal, todos se conheciam na cidade. Ufa. Alívio geral. Saímos de lá leves e fomos brincar, como se nada daquilo tivesse acontecido.
No dia seguinte, domingo de manhã, fui à missa com os meus pais. Meus amigos também. Para nós, o que acontecera no dia anterior era alto tão distante no tempo que mal lembrávamos. Naquela época, a igreja ainda era relativamente dividida entre “o lado das mulheres” e “o lado dos homens”. Essa prática havia sido comum na igreja católica durante séculos e, em Carlos Barbosa, mesmo já nos anos 1980, embora não fosse mais uma obrigação, era uma tradição que se mantinha forte. Por isso, quase sempre o meu pai ficava, sozinho, do lado direito da igreja, junto a uma maioria de homens, e minha mãe do lado esquerdo, junto a uma maioria de mulheres. Nós, as crianças, tínhamos “passe-livre” para tensionar essa norma e, assim, ficávamos a missa toda circulando de um lado ao outro, indo das nossas mães para os nossos pais e vice-versa. Esse movimento, obviamente, atrapalhava a concentração dos adultos e, invariavelmente, quando exagerávamos, nossos pais, ou até o padre, nos chamavam a atenção. Quando isso acontecia, baixávamos a bola, claro. Mas, poucos minutos depois, já retomávamos aquele vai-e-vem ansioso que nos ajudava a fazer o tempo passar e a missa, que era chata, obviamente, acabar logo.
Meus dois “parceiros de bando”, meus amigos “larápios”, também estavam, assim como eu, circulavam de um lado ao outro da igreja. Então, para a nossa surpresa, de repente, o padre estava falando de nós. Viramos os personagens do seu sermão, que nos usou como exemplos de bondade e honestidade. Segundo ele, três crianças haviam feito aquilo que, muitas vezes, os adultos não fariam. Uma pessoa havia perdido sua carteira, com todo seu salário e o décimo terceiro dentro, e nós a tínhamos encontrado e devolvido. Sem retirar um único centavo. Foi quando o padre apontou para nós três, congelados em meio ao corredor principal da “casa de (d)Deus”, e pediu uma salva de palmas para aquelas crianças que haviam salvo o Natal de toda uma família de trabalhadores.
Sem ele saber, acabara de transformar os verdadeiros delinquentes, responsáveis por um roubo notável, em heróis da cidade. E do Natal.
Mas isso apenas nós sabíamos. Para os nossos pais – e não preciso dizer, para toda a comunidade que estava na missa – a surpresa foi descobrir que aqueles três piás que sempre atrapalhavam o sermão do padre, agora, por ele haviam sido elogiados. E assim, de pequenos pentelhos, naquele momento, viramos exemplo para todos. Ao terminar a missa, já do lado de fora da igreja, todos nos cumprimentavam e nos elogiavam. Nossos pais, orgulhosos dos filhos honestos, também eram cumprimentados pelos amigos e conhecidos enquanto que a dona da carteira se aproximara para nos agradecer pessoalmente. Lembro que entre um sorriso amarelo e outro, nós três nos olhávamos num misto de alegria, constrangimento, culpa, alívio e, por que não, orgulho. Na dúvida, era melhor assumir o papel de heróis, abraçar o alívio e usufruir da nossa momentânea fama. E, convenhamos, de certa forma éramos, sim, responsáveis pela devolução da carteira. Afinal, a mulher a havia mesmo esquecido em algum lugar. De certa maneira, é uma forma de perder algo. E se um “adulto” a encontrasse, será que ele devolveria o dinheiro como nós, crianças, fizemos? Talvez sim, falamos de uma época quando a honestidade ainda era um valor compartilhado comunitariamente. No entanto, nunca saberemos.
Para mim, o que importa nessa história é que naquela manhã de Natal eu compreendi na prática a expressão que a minha mãe tantas vezes repetia: “(d) Deus escreve certo por linhas tortas”. Afinal, foi justamente quando quase cometemos o nosso maior crime que tivemos nossa – minha – maior lição na vida. Hoje, mesmo ateu, compreendo a força dos ensinamentos que nascem dessas contradições da vida. Feliz Natal a todos e que 2022 seja o ano da nossa salvação. Ele não!
I. BOCA MIGOTTO