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52º FCG - Sessão Especial - CIDADE DE DEUS: A LUTA NÃO PARA - São Paulo e Rio de Janeiro | 2023

CRÍTICA | CIDADE DE DEUS: A LUTA NÃO PARA por Dario Pontes

CIDADE DE DEUS: A LUTA NÃO PARA, nova série da HBO com produção da O2 Filmes, teve seu primeiro episódio apresentado em Sessão Especial (Hors Concours) no Festival de Cinema de Gramado, e ganhou aplausos calorosos da plateia, no Palácio dos Festivais.

Há filmes que são ícones, que mudam paradigmas e marcam a história do cinema de um país. CIDADE DE DEUS é uma dessas obras. Lançado em agosto de 2002, marcou o fim do movimento hoje conhecido como a Retomada do Cinema Brasileiro.

Adaptado do livro de mesmo nome de Paulo Lins, o roteiro conta a história de Buscapé, um menino pobre, negro e sensível, que vive na favela carioca Cidade de Deus, um dos locais mais violentos do Rio. Ameaçado pela possibilidade de se tornar um bandido, Buscapé escapa de seu destino graças a seu talento como fotógrafo. Num local onde a violência parece não ter fim, é pelo seu olhar atrás da câmera que ele analisa o dia a dia da comunidade em que vive, sendo o único personagem que, apesar da vivência com a violência, não é fisgado pelo mundo do crime nem morto na guerra de facções.

Entrelaçando eventos no decorrer da trama com a vida dos diversos personagens, muitos deles crianças, e sempre pelo ponto de vista desse fotógrafo-narrador, o filme conta como se deu o crescimento do crime organizado na favela.

A película ganhou 48 prêmios internacionais, foi o único filme brasileiro a receber 4 indicações ao Oscar* e, ainda hoje, aparece em várias listas de melhores de todos os tempos.

O longa influenciou a indústria fílmica na criação de outros tantos, que começaram a receber da crítica especializada a alcunha de “Favela Movie”, que hoje é considerado um subgênero cinematográfico. São filmes ambientados em favelas, quase sempre associadas à violência explícita e ao tráfico de drogas.

Como todos as obras ícones do cinema mundial, CIDADE DE DEUS teve, e continua tendo, seus desdobramentos. Em 2012 o diretor carioca Cavi Borges lança “Cidade de Deus – 10 Anos Depois”, documentário que se debruça sobre o impacto nacional e internacional que o filme mobilizou, contando ainda as influências e transformações acontecidas na vida de boa parte dos atores, que à época eram não profissionais.

Vinte anos depois do longa, a série em seis episódios ‘CIDADE DE DEUS: A LUTA NÃO PARA’ chega à HBO e ao catálogo da MAX, com estreia prevista para 25/08/24.

A história se passa no ano de 2004, também vinte anos depois dos acontecimentos do longa, e resgata alguns personagens consagrados pelo filme, como o fotógrafo Buscapé (Alexandre Rodrigues), que continua sendo o narrador, Berenice (Roberta Rodrigues), Cinthia (Sabrina Rosa), Barbantinho (Edson Oliveira), Cabeção (Kiko Marques) e Bradock (Thiago Martins) que protagoniza o primeiro episódio da série. Todos os atores atuando muito bem.

Neste primeiro episódio destaco ainda, a atuação de Andréa Horta que cativa o espectador como Jerusa, namorada do Bradock. E Marcos Palmeira, que está melhor que nunca como Curió, o chefe do tráfico local. Uma novidade é que os papéis femininos ganham mais espaço e poder no novo roteiro. A personagem de Sabrina Rosa, por exemplo, que no longa sequer tinha nome, agora se chama Cinthia.

Na nova trama, Bradock sai da cadeia disposto a reaver o comando da boca de fumo, e coloca a Cidade de Deus novamente em conflito. Os moradores se veem acuados entre traficantes, polícia, empresários e milícia. A necessidade de fugir desse ciclo de violência e enfrentar a opressão, faz a comunidade se unir em torno de um projeto comum.

Para reconstruir a memória afetiva dos protagonistas, trechos do filme anterior aparecem em flashbacks. O produtor Fernando Meirelles, da O2 Filmes, dessa vez optou por somente produzir o filme, deixando a direção a cargo de Aly Muritiba e Bruno Costa. Decisão acertada que trouxe frescor e juventude ao resultado final.

Enquanto muitos filmes da safra atual buscam reproduzir uma estética televisiva, aqui temos o movimento inverso de trazer a estética cinematográfica para uma produção televisiva. A grande maioria dos planos são amplos e abertos, em locações externas, reais, praticamente nenhum estúdio. Muito bom de se ver .. Tomara que a moda pegue. E outras produções optem por trazer a estética da telona para a telinha.

Fica aqui nossa torcida pra que a Cidade de Deus, de ontem e de hoje, siga inspirando gerações daqui a 20 anos. Et per omnia saecula saeculorum .

*Melhor Direção para Fernando Meirelles, Roteiro Adaptado para Bráulio Mantovani, Montagem para Daniel Rezende e Fotografia para César Charlone.

               

                       

DARIO PONTES: Crítico. Especialista em Cinema pela Fundação Getúlio Vargas. Médico psiquiatra e psicanalista no Rio de Janeiro. Paraibano de Campina Grande radicado há 36 anos no Rio. Crítico da Rede Sina no 52° Festival de Cinema de Gramado.

 

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