Dar a volta
no perigo
subir em árvore
morar num filme
antigo
se vê melhor
quando o futuro
não passa
de um descanso
em cima
do muro
num som
para joelhos
numa oração
pra tornozelos
será mais que perfeita
aquela verdade serena
que não corta os galhos
verdade rasteira
que não afia
a faca
sequer arromba
a porta
ATRÁS DAS PLATIBANDAS
Como se
viver fosse
estar pronto ou
não estar
pronto
observar o
perfume virar
fumaça sem
nunca tirar
o olho de
si
como se
viver fosse
habitar um
poema de
Frank O´hara
e o chão não
fosse preciso
para segurar
a realidade
como se
viver fosse
esmorecer em
nome do
cotidiano
telhados escondidos
atrás das
platibandas
Muro. Reconhecido como barreira, divisão, separação, alguns corações, pessoas, defesa, rocha, corpo, limite, inimigo, indecisão, zona de conforto, página, moldura, medo, ideologia, modo de sentir, paisagem, desafio, sombra, ponto de equilíbrio, pileque, redenção, realidade, superação, escudo, cartaz, comportamento. Num único salto, o outro lado.
Bruma de manhã
no musgo
do muro
o olho
esfria
FICHA TÉCNICA
Apesar de ser desatento
sei habitar as aparências
dias suspensos
rajadas de vento
na repetida falácia
das notícias
reside também
minha preguiça
só depois vislumbro
tua seta de luz certa
que revigora
o meu estado santo
perdido há milênios
tua seta que aperta
meu parafuso a menos
Diego Petrarca nasceu em Porto Alegre em 20 de março de 1980. Mestre em Teoria Literária – Escrita Criativa. Publicou, entre outros, os livros Tudo Figura, (2014), – selecionado pelo Plano de Edições do Instituto Estadual do Livro (indicado ao prêmio AGES poesia 2015) e Carnaval Subjetivo (Bestiário – 2018), Melhor é ser um peixe (Plaquete – Bestiário).