POEROTISA
Nem
ninfomaníaca
nem
simulacro erótico
Poetizando com a vida
Erotizando
com as palavras
Lambendo com
a língua portuguesa
Arrepiando os poros
dos leitores
Sexo
Vida
Revolução da poetisa
***
Meus olhos são pequenos,
mas se abrem
para beber o sol,
colher sorrisos
e comer você.
Chove no verão
e eu choro
em frente ao ventilador,
para o sol brilhar de novo
e enxugar você.
As pessoas estão se tornando
concreto e alumínio.
Eu me lembro do tempo
em que eu era uma flor!
***
Pecado é não amar
O que a gente sabe
da trilha sonora dos outros?
Em que filmes aparecemos?
Em que peças atuamos?
Nosso drama tem dois atos
e nossos corpos em contato
com estranhos
nos trazem os sons já familiares
dos toques já consagrados
Pecado é não amar
O amor já está dado.
* * *
Tiraste meu sono
deixaste dentro de mim
um pouco de ti
Agora tens obrigação
de me fazer dormir
em teus braços
* * *
Ele,
tem as mãos sedentas
de mar
e de desertos
tem olhos famintos
de estrelas
e luares
tem braços insones
de sonhos
de me abraçar
Ele,
não me tem!
* * *
Há um mar
de versos
na minha mente
Mar
inconsciente
Estrelas
no céu
da boca
* * *
SEPARAÇÃO
O que fazer
com as fronhas
que sobraram
dos jogos
de cama
do casal?
* * *
FASES DA NUA
Cortar as pontas
Lixar as unhas
Arrancar os pelos
Desatar nós
Lapidar arestas
Uivar para a lua
Arrancar de dentro
de mim
Novas Mulheres
* * *
CRAVO E CANELA
Meu corpo espelha
o teu
no tom de pele
Estou sempre
a esperar
para logo
encaixar
nossos jogos
de armar
Cravo e canela
é a fragrância
que nosso amor
exala
* * *
Tem incenso de rosas
e rosas murchas
essa nossa paixão,
que eu peço
em oração
que incendeie!
A carne
é fraca
e trêmula…
Ela queima
quem brinca com fogo
e acaba gostando…
Quem acende velas
orando
pra apagar esse incêndio!
Unidos,
queimando em brasas,
molhados,
ganhando asas…
Viajo nos teus olhos
por todo o universo,
estou viva de novo
e escrevo versos!
* * *
Ana dos Santos
Poetisa e professora de Literatura, é autora dos livros “Flor” e “Poerotisa”. Mestranda em Estudos Literários/UFRGS, ministra a oficina “Mulher Negra, Meu Corpo, Minha Voz”. Participa de diversas antologias e é Menção Honrosa por duas vezes no Prêmio Lila Ripoll. Faz parte da Academia de Letras do Brasil/RS, patrona Lélia Gonzales, e do catálogo “Intelectuais Negras Visíveis” (UFRJ/Editora Malê).
Na Rede Sina, Ana faz participação nas lives: