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Deborah Rosa, artista, vivia em Santa Maria-RS. Faleceu aos 45 anos em 3 de março de 2021. Foto: reprodução

UMA ROSA QUE LUTOU CONTRA ALGUNS ESPINHOS por Bebeto Badke

por Bebeto Badke

A Melina, jornalista e colega que admiro me pediu um depoimento sobre a Deborah Rosa. Tomo a liberdade de escrever em primeira pessoa, pois ela sempre foi mais que uma cantora para mim. É uma amiga (ainda a tenho no presente) que conheço desde os tempos de menina, inquieta e saltitante nos bailes de Carnaval do Parque Pinhal, em Itaara – que ainda era distrito naquela época. Muito nós sambamos, suamos e gargalhamos. Ela ainda guria, mas sempre sorridente e cativante. Impossível não se render aos seus encantos. Aliás, este é um predicado da Família Rosa, todos com nomes com iniciais D: Danilo e Deja, Daniela, Deborah e Daniel.

Eu me afastei de Santa Maria por décadas e quando para cá retornei nos reencontramos – jamais esquecerei – na piscina em formato de D, no verão de 99. Parecia que não nos falávamos desde ontem. Nesta época conheci o Luciano, jovem artista plástico de talento, que já era amigo da família. Nossos laços de afeto se reafirmaram.

Na comemoração dos 45 anos da artista em janeiro de 2021.

Logo veio a convivência, os encontros nos finais de semana no Pinhal, e eu sempre indo atrás do seu canto. Ela se formou em Relações Públicas na UFSM e fez trabalhos como profissional em empresas da região. Uma de suas marcas registradas eram os Press-Kits criativos (material entregue à imprensa para divulgar um produto, empresa ou artista). Quando fui ser professor na UFN, sempre a chamava para conversar com os alunos sobre sua experiência.

Ela sempre foi muito carinhosa com todos, sugerindo ideias que se transformaram em marcos, na época que se podia visitar os jornalistas em seus veículos!

Em 2008 eu dirigi o Musical Imembuy, criação de Orlando Fonseca e Otávio Segala, com produção de Rose Carneiro, em comemoração aos 150 anos de emancipação política de Santa Maria. Foram seis noites lotadas no Theatro Treze de Maio. E Deborah brilhou como Ibotiquintã, a mãe de Imembuy. A ambientação cenográfica e os figurinos eram do Luciano, já consagrado por seu trabalho singular de impacto visual belíssimo. Vale lembrar que ele sempre foi o responsável pela direção de arte sensível e impecável dos espetáculos da Deborah.

Durante um tempo ela se dividiu entre o trabalho de RP e a música. Teve sempre o irmão Daniel, excelente músico, a lhe dar as coordenadas e o pai Danilo, a inspiração. Até que um dia se decidiu a viver só de sua arte. Foi um grande desafio que ela enfrentou, afastando alguns espinhos para não machucar a flor. Eu, sempre que podia ia vê-la e ouvi-la. Estive em Porto Alegre duas ou três vezes. Aqui em Santa Maria a vi na praça Saldanha Marinho e no Treze de Maio, sempre acompanhado da minha mãe que a adorava. Em outras casas tive alguns dissabores. Certa vez, ela foi obrigada a cantar entre dois telões que transmitiam um jogo de futebol. Educada e respeitosa como sempre foi, resignou-se e não reclamou. Eu armei um barraco enorme no local e nas redes sociais. Na vez seguinte, os telões foram desligados.

Também tive o dissabor de ver senhoras que se dizem donas de si falando aos gritos nas mesas e nos celulares, de costas para ela.  Em uma apresentação introspectiva no Theatro, uma garota mostrava vídeos idiotas para o namorado, com som. Bati no seu ombro e pedi que desligasse ou eu a expulsaria do local. Se tem algo me deixa furioso é a falta de respeito em todos os níveis, seja qual for a ocupação do ser humano.

Darei um salto no tempo, pois a trajetória da Debby muitos têm conhecimento. Ela tinha um anjo em sua vida: Angélica Silva. Elas se conheceram nas andanças tradicionalistas e Angel (como eu a chamo) se transformou em sua produtora e amiga inseparável. Chegamos então a 2021. O Danilo queria muito comemorar os seus 45 anos, mas as imposições da pandemia impediam. Eu sugeri fazer um encontro para pouca gente (éramos seis) para não deixar a data passar em branco. Foi uma noite memorável, a última vez que nos vimos. Rimos, bebemos, comemos e fizemos planos juntos. Ela havia cantado nos meus 40, nos 80 da minha mãe e iria soltar a voz nos meus 60 que se aproximam. Não deu tempo! Ainda estou engasgado até agora! Sua voz ecoa no meu coração! Agora temos que continuar nos cuidando, que era algo que ela sempre pedia! Orai por nós, aí onde tu estiveres, Deborah Rosa! Te amo!

 

Bebeto Badke,

Professor de Jornalismo da UFN, produtor e diretor de espetáculos.

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