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Supera por TÁSSIA NOVAES

Acordei com uma esperança virtual de terem rebobinado a timeline da vida e aí, de repente, a fadinha gorducha da sofrência ainda estaria viva, lançando o novo papo-reto terapêutico das patroas, ensinando com a sabedoria digna de uma velha anciã sábia, sobre o que a nossa porção feminina precisa fazer ao levar um pé na bunda, inevitável destino coletivo… Mas não… Ainda não é um metaverso.  É apenas a vida passando em frames com o recurso 2.5x mais rápido, embolando o ritmo dos fatos, sob o pretexto da agilidade. A pessoa ainda nem foi enterrada e já tem tributo no streaming. Por onde anda a lei quântica da vida?

Existe uma regência ancestral, um deus severo e infinito chamado tempo. É ele quem nos permite existir e é ele também quem conduz a travessia seja temporal ou calmaria. Talvez seja um pouco infiel demais para a nossa existência acelerar tudo o que acontece aqui embaixo numa potência forjada que dificulta processos de cura, pra quem fica, pra quem vai.

Criamos equações complexas, indicadores, para quantificar e precificar a genialidade, o magnetismo de um artista, mas parece que ainda estamos um tanto perdidos na difícil tarefa de elaborar, dimensionar, quando termina e quando começa o vaivém da roda da vida.

Alguém, por favor, me cancela desse descompasso e de toda essa confusão dos tempos verbais de quem está contando a história nas inúmeras telas de transmissão simultâneas, buscando evidências, dados, dia e hora para justificar a dor, em um emaranhado fio de alta tensão, sem nem saber se é adequado dizer que a pessoa foi ou é. “Já tá ficando chato, né…”

Não há nada mais humano do que o direito de passar infinitas horas em suspensão, sem roteiro, sem ensaio, sem pesquisa, sem audiência qualificada, cultivando pausas e devaneios, flutuando nas emoções, por instantes se recusando a acreditar no que aconteceu e no segundo seguinte, entre um gole e uma lágrima, sentir-se nutrido ao encher o peito com a beleza das coisas simples da vida e, então, se permitir transbordar, ouvindo uma canção popular que fala muito sobre mim, sobre você, sobre nós, imortalizada na doce voz grave e rouca, potente, de uma estrela supernova.

 

Tássia Novaes é uma baiana que cultiva afetos ancestrais no Rio Grande do Sul. Coleciona fases como a lua. Gosta de arte, fotografia analógica e estudos sobre ocultismo. Atua como gestora de comunicação e marketing em uma instituição filantrópica de saúde. Seu plano secreto é cuidar de sua filha Maria e entregá-la ao mundo.

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