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Sobre deusas, mães e filhas por TÁSSIA NOVAES

Ontem terminei de ler O Rapto de Perséfone (Hino homérico a Deméter) para entrar no clima do dia das mães … São tantas coisinhas intrigantes no mito que fala sobre a Grande Mãe e a Divina Criança. Muitas vezes, me sinto como Perséfone, descendo as escadas rumo ao submundo, com inesgotáveis divagações sobre ser céu, terra e inferno, tudo num  mesmo tempo não-linear, também como Deméter, sobre ser base nutriz da vida plantando fartura, beleza, deleites amorosos e potentes crises cósmicas impulsionadas por raiva e ira, sempre em altas doses, sempre no superlativo.

Bebendo da metáfora mitológica, desejo que o maternar seja um jardim, um campo de semeadura, onde todos os elementos são misteriosamente interligados numa união (sinistra) que culmina com a alternância dos ciclos de vida e morte.

E que nós, Mainhas, possamos viver sem culpa o paradoxo da maternidade, aprendendo a deixar fluir o tempo de nutrir e o tempo de deixar morrer.

É até meio perverso, conosco Mainhas, esse conceito que pipoca sempre por aí e vai entranhando dentro da gente, pelo menos aqui, na nossa cultura Brasil-mundo ocidental, sobre mãe ser fonte inesgotável de vida e de amor.  Qualquer coisa diferente disso nos sentencia a um injusto título de “antimãe”.

Ora, fica muito mais leve, muito mais humano, quando alguém sopra no nosso ouvido que somos deusas da vida e também da morte, em suas inúmeras manifestações.

E fica muito mais gostosinho quando a gente amplia o conceito de mãe para as gestações que brotam fora do útero, fora da proveta ou da cartilha da adoção. Tudo que é novo é um ato de gestação. Ideias, projetos, promessas, relações, costumam vingar –  no sentido de deixar de ser caos e ganhar corpo e forma – quando a gente aprende a maternar, a nutrir, a cuidar. Aí nos deparamos com mais um mistério da vida: a mãe só existe por causa da criança. E vice-versa. É uma relação imbricada. Um tandem: uma coisa não existe sem a outra, como explica o autor Gustavo Barcelos, no livro Mitologias Arquetípicas.

Essa coisa de descobrir quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha é complexo, bem verdade. Mas se desconhecemos a origem, podemos apostar que a correlação é também sensorial, um aprendizado espiritual. O que é a criança senão, ao mesmo tempo, a origem e o futuro?

Nesses dias tão sombrios, em que parecemos navegar na Balsa da Medusa, como escreveu no seu último artigo, a querida Rosana Zucolo, que ocupa no meu coração um lugar de mãe afetiva, sigamos todos dançando, como fazem as mães quando embalam os filhos recém-nascidos, pela simples oportunidade de viver o hoje semeando o futuro.

E que seja um tempo de íntima conexão com os laços fraternos que nos unem na origem, nossa pátria espiritual.

No dia de hoje, relembro com profunda gratidão as últimas palavras que ouvi de minha mãe. “Você é minha filha, mas também minha irmã. Eu e você somos um, com Deus e o Universo. Somos todos irmãos e vivemos conectados em uma grande teia cósmica”.

Faço um silêncio também por todas as famílias que perderam mães e filhos por conta da pandemia. Que nunca nos falte fé, acolhimento e gratidão. E a certeza que Deus não desampara seus filhos, está sempre conosco.

Eu não consigo explicar em palavras o amor que sinto por minha mãe. Deixo claro, em minhas orações, que gostaria de ser sua filha, novamente, em outras vidas. E fico enviando bálsamos de luz safirina, por meio de orações, para ela, onde ela estiver nesse momento, no mundo espiritual, como ela mesma me ensinou. Minha mãe se dedicou por muitos anos às comunicações entre mundos e à assistência a almas enfermas. Tenho certeza que ela deve seguir com muitos afazeres cuidando de quem precisa e também se cuidando e estudando, nesse momento da Transição Planetária.

Imenso amor também por Maria, minha amada filha, com quem tenho vivenciado incontáveis mistérios. Sinto-me co-responsável por seu desenvolvimento humano e espiritual e infinitamente alegre por sua presença em minha vida.

Tássia Novaes é uma baiana que cultiva afetos ancestrais no Rio Grande do Sul. Coleciona fases como a lua. Gosta de arte, fotografia analógica e estudos sobre ocultismo. Atua como gestora de comunicação e marketing em uma instituição filantrópica de saúde. Seu plano secreto é cuidar de sua filha Maria e entregá-la ao mundo.

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