– Está tudo bem?
– Sim.
– Você está tão quieto.
Interrompo o diálogo acima para informar que o equívoco pode surgir nas situações mais corriqueiras. Sempre tive dificuldade sobre o que responder após o outro estranhar o meu silêncio. No início eu sorria, mas descobri que pior do que ficar em silêncio é ficar em silêncio e sorrir. Passei a responder “nada”, mas as pessoas interpretam o nada como a confirmação de uma desgraça. Hoje, quando sou questionado por estar calado, quase peço desculpas. Já ouvi coisas do tipo: “você está estranho.”, “aconteceu alguma coisa?”, “você está chateado?” Quando na verdade estou somente à vontade. É claro que todos nós em certas situações optamos pelo silêncio para não ter que dizer o que pensamos, e existem mil motivos que nos levam a esse recurso, mas isso não é uma regra, geralmente o silêncio é só silêncio. Às vezes a pessoa está pensando em algo que não considera relevante para ser compartilhado ou apenas distraída com ideias ainda em rascunho ou simplesmente observando a paisagem. Ninguém está tramando uma guerra nuclear só por estar calado. O silêncio não pode ser entendido como uma ameaça, como sinônimo de problema. Com medo do tal “silêncio constrangedor” tem pessoas que preparam uma lista de assuntos quando vão ter um primeiro encontro. Tem gente que quer bater papo até quando está transando. Quando foi que perdemos a coragem de simplesmente olhar o outro? Vivemos uma ansiedade que nos faz acreditar que o silêncio é coisa de gente desinteressante, como se fossemos obrigados a expor nossas opiniões sobre tudo o tempo todo. Não! Quero poder ficar quietinho apenas admirando os meus amigos discursarem sobre o assunto mais comentado da semana. Não quero me sentir culpado por estar calado ao lado de alguém, ou ter que explicar: “olha, não está acontecendo nada, tá? Estou em estado de tranquilidade e contemplação porque não quero me esquecer desse momento.” Não sejamos tolos, a vida já é muito confusa, e veloz, para criarmos confusão sem motivo. Aviso aos navegantes: onde sobra palavra, falta respiração, e a respiração diz muita coisa. Observe.
GUIDO BRASIL
Autor do romance Bizarros e Solitários, editora Organograma, 2014