Jair Bolsonaro, uma pessoa de 64 anos de idade, acha humilhante para um homem ter ao seu lado uma esposa de 66 anos. Fazendo piada com a companheira do presidente da França, Brigitte Macron, o presidente sessentão brasileiro disse que a francesa seria humilhada se comparada com a primeira dama brasileira, Michelle, de 37 anos. Ou seja, o presidente do Brasil, um homem velho, diz ao mundo que mulheres mais velhas valem menos. Seguindo o mesmo raciocínio, o marido de Michelle, esse mesmo que tem 64, está na prática dizendo ao mundo todo que a sua própria esposa só presta agora porque tem 37, mas que ela também será humilhada quando estiver perto dos 70, se for comparada a outra novinha. Para ele, ser uma mulher de 66, como a primeira dama francesa, é motivo de vergonha. Ao que parece, quando Bolsonaro tiver 93 anos de idade, usando a cadeira de rodas e cagando na fralda, trocará de esposa novamente porque Michelle já terá atingido a mesma idade de Brigitte hoje e, como se nota pela sua fala, é humilhação demais para um homem estar do lado dessa “coisa velha”. Percebe-se que lógica é exatamente a mesma de trocar de carro, jogar fora o sapato velho e comprar o novo, quebrar o telefone celular ultrapassado, usar e descartar o que não presta mais. Jair Bolsonaro, um exemplo perfeito do que o Brasil tem de pior, consegue dar um exemplo também perfeito do que é a objetificação feminina em um país fundamentalista que odeia mulheres como o nosso. Não interessa a Bolsonaro nem ao Brasil comparar Brigitte e Michelle pelas suas escolaridades, habilidades intelectuais, capacidades políticas, bagagens culturais, sentimentos nobres, visões de mundo, talentos individuais. Só interessa comparar a foto física das rugas da senhora comparadas à pele da novinha. Para Bolsonaro, Brigitte e Michelle são apenas dois pedaços de carne com buceta que vão apodrecer um dia. Mais nada É assim que ele vê mulheres. E é assim que a maioria do Brasil também vê.
Artênius Daniel – Diretor de Cultura do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais