Resolvi trazer para a Rede Sina o texto publicado hoje, 09 de agosto, no Jornal Diário de Santa Maria, na coluna Opinião do Leitor. Embora não seja o tipo de assunto e abordagem usual por aqui, penso que alguns temas precisam circular de modo mais veemente porque têm afetado nossa estrutura de país com consequências graves para todos nós.
O mês de julho terminou marcado pela terrível notícia do fechamento de 12 programas de pós-graduação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), nível de mestrado e doutorado, e a demissão confirmada de 40 docentes.
A decisão, comunicada laconicamente por meio de nota oficial, pegou de surpresa a comunidade acadêmica e a sociedade gaúcha porque se trata de uma instituição comunitária, sólida, comprometida com a educação e com uma trajetória de investimentos em pesquisa e na pós-graduação. Ou seja, uma universidade que, até então, se distinguia das instituições privadas com fins lucrativos caracterizadas pelas práticas e estratégias de mercado.
Dos programas fechados, três – Comunicação, Psicologia e Linguística Aplicada -, têm reconhecida excelência nacional e internacional, com nota 6 em uma escala de até 7 na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O encerramento da Pós-Graduação em Comunicação torna a notícia ainda mais desoladora. Em 2013, quando eu ainda estava no doutoramento, o PPGCOM/Unisinos, ao lado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), conquistou a nota 6 na avaliação da CAPES. Naquela época, apenas a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) era um programa nível 6.
Era um ambiente fértil e estimulante, tanto no convívio quanto nas trocas com um corpo docente extremamente qualificado e um processo afinado de produção do conhecimento científico, e para onde convergiam pessoas de todo o país e exterior.
Ainda não se sabe qual será o destino dos grupos de pesquisa que compõem o programa e desenvolvem inúmeros projetos nacionais e internacionais, muitos com financiamento. Como ficarão os bolsistas de produtividade e pesquisa no PQ/CNPQ, só concedidas a pesquisadores de impacto na respectiva área? E os professores cujas trajetórias se mesclam à própria história institucional? O que será feito das produções editoriais, cujas revistas mantidas pelo PPG são referências de impacto e fundamental à área da Comunicação?
Uma história e um programa de tal porte não são construídos de uma hora para outra. São décadas de trabalho, de investimento em pessoas e de pessoas, em pesquisa, de avaliações baseadas num processo de escalonamento relacional e no esforço contínuo de melhorias a partir da experiência anterior.
Tal medida fragiliza o prestígio institucional, uma vez que a Unisinos integra a poderosa rede internacional de ensino dos jesuítas. A Cia de Jesus possui cerca de 890 mil estudantes, 1.300 instituições e projetos de educação popular, além de universidades e faculdades no mundo todo. Ou seja, pode-se pensar que se tratando de uma instituição de tal porte, há “gordura” suficiente para o enfrentamento da crise atual e a definição de rumos mais comprometidos com o sentido e o papel da universidade enquanto responsável pela educação e produção do conhecimento.
Lamentavelmente, a decisão da Unisinos parece integrar o processo de desmonte de uma rede nacional de pós-graduação e pesquisa extremamente produtiva e avaliada ao longo de décadas.
É extremamente angustiante perceber que se trata do mesmo processo responsável, desde 2018, pelo sucateamento das universidades públicas e descontinuidade das políticas públicas de educação e de investimento em ciência e tecnologia.