Educar para uma educação inclusiva e contra o racismo deixou de ser mero idealismo, desde 2003, quando a lei 10.639 estabeleceu o ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira nos currículos escolares da Educação Básica.
Deixou de ser idealismo, quando ainda hoje e principalmente hoje, vemos manifestações preconceituosas e racistas circulando publicamente não só dentro das escolas, mas em todos os espaços de convívio social e sobretudo nas redes sociais. Muitos, e enfatizo MUITOS, dizem que estas manifestações só aconteceram agora por que vieram as tais ações afirmativas. Esses muitos fazem questão de negar o preconceito que toda a população negra sofreu e ainda sofre no dia-a-dia, pois a negação do racismo é senso comum, desde de a abolição parece que o Brasil se travestiu de algo que nunca foi, DEMOCRATA e IGUALITÁRIO.
– “TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI, DIZ A CONSTITUIÇÃO”
PALHAÇADA!
A democracia e a igualdade neste país sempre foram para poucos, o Estado Nacional de Direito, consagrado na Constituição de 1891, foi criado por e para uma elite branca que já estava no poder desde sempre e a nossa educação escolar, que de pública, não tem nada, veio para justificar essa democracia maquiada e esta igualdade subjetiva. Pois sejamos sinceros, que igualdade é essa se nem todos partem do mesmo lugar e em igualdades de condições? Ou alguém acredita que uma criança que estuda na melhor escola da cidade, frequenta os melhores clubes, vai todo o dia de carro para a escola, tem as mesmas condições, do meu aluno que mora na periferia, que vai a pé para a escola em dia de chuva não tem como sair de casa, mal pode ter um lazer saudável, por que sua região é de extrema periculosidade?
Através de um história eurocêntrica, deu-se cor e voz aqueles que foram privilegiados neste processo e negou-se a outros tantos a possibilidade de se manifestar e de se ver contemplados por um Estado que realmente os representasse.
Os valores civilizatórios recebidos por nós na escola negaram outras possibilidades de ver o mundo, sofremos um branqueamento ideológico quase fundamentalista que tirou de nós aspectos humanitários como a circularidade, a ancestralidade, a corporeidade, entre outros e mais do que isso subjugou a inteligência e a capacidade humanitária dos negros e indígenas.
Minha reflexão é crítica sim, ativista sim e um tanto revolucionária. Sou por uma educação menos eurocêntrica e mais AFROCENTRISTA, sou por uma educação dos debaixo, por uma educação mais humana, sou por uma educação que ensine a amar e não a odiar. Como dizia Oliveira Silveira, “SOU”… NEGRO e quero ver minha história na sala e aula!
João Heitor Silva Macedo
Possui graduação em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal de Santa Maria (1996) e Mestre em História, área de concentração Arqueologia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1999), é doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da UFSM. Desenvolve suas atividades como professoras do Magistério público estadual do Rio Grande do Sul atualmente na Escola Estadual Ensino Médio Cilon Rosa em Santa Maria. Atuou como Coordenador Pedagógico na 4ª CRE em Caxias do Sul (2011-2012), participou do Núcleo de Educação Indígena da SEDUC-RS (2011-2012), foi professor da Faculdade da Serra Gaúcha em Caxias do Sul (2008-2012), atuando nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito. É diretor do Museu Comunitário Treze de Maio em Santa Maria, o qual também é co-fundador. Foi Presidente do Conselho Municipal de Cultura de Santa Maria (2014-2015) e também Conselheiro do mesmo no seguimento Patrimônio Histórico (2013-2015), foi Coordenador do Sistema Municipal de Museus (2013-2015), foi conselheiro de cultura em Caxias do Sul. Foi membro da Subcomissão da Verdade da Escravidão OAB-RS. Tem trabalhos publicados na área de arqueologia, história direito, administração, história e patrimônio. É militante do Movimento Negro e sindicalista.